Monark, Kim e Nazismo
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“A melhor forma de desarmar o ‘fruto proibido’ é trazê-lo para a rua e vendê-lo na mercearia respectiva. Com uma lição de aviso: as ideias têm consequências; e as más ideias tiveram consequências ruinosas.”, afirmação de João Pereira Coutinho que, segundo a lógica da interpretação sádica do cancelamento, está defendendo o nazismo. | ||
Gostaria de analisar um pouco os pontos levantados por Kim Kataguiri e Monark neste Flow mais polêmico da história dos podcasts brasileiros e, consequentemente, o último da carreira de Bruno Aiub, o famoso Monark, porque, tão logo que o programa saiu do ar, não demorou muito para as coisas esquentarem. O apresentador Monark, principal personagem dessa história, foi massacrado nas redes, fato esse que, infelizmente, culminou no seu desligamento do programa, e até mesmo o PGR (procurador-geral da república) determinou a abertura de um inquérito sobre um suposto crime de “apologia ao nazismo”, praticado por Kim Kataguiri e por ele, o que, sem sombra de dúvidas, se trata de um despautério tremendo e uma tentativa vil do governo federal de intimidar o deputado mais eficiente na oposição. | ||
Entretanto, caríssimo leitor, devido à conversa que rolou no programa, era previsível tal reação do público, haja vista que se tratava de assuntos sensíveis à sociedade e polêmicos por natureza. Mas o que não estávamos a esperar era o PGR, maior autoridade no Ministério Público Federal, abrir um inquérito para investigar algo que não ocorreu em nenhum momento da conversa, que é o crime vil de apologia ao nazismo. E, certamente, o assunto mais comentado e mais distorcido possível foi o argumento mal fundamentado do apresentador Monark sobre a problemática da proibição da presença de intolerantes e totalitários, a expressar-se mais ou menos livremente no debate público. Como bem destaca o escritor Lucas Berlanza: “Existe um amplo e delicado debate na tradição liberal. Diversos autores discutiram a respeito, desde Popper e seu ‘paradoxo da tolerância’ até os libertários e sua defesa de uma liberdade irrestrita. Nos EUA, a lei permite a organização e expressão das ideologias as mais absurdas e monstruosas, de todos os tipos, com isso identificadas e combatidas pelas forças democráticas; ao contrário, no Brasil, há licença apenas para pregar o stalinismo, a revolução do proletariado, a ideologia da Coreia do Norte, ou a pilhagem da burguesia nas faculdades, nos jornais e no horário eleitoral.”. | ||
A despeito do argumento legítimo acerca desta problemática, o youtuber também levantou outro ponto que, infelizmente, mostra o quão limitado é seu raciocínio e o que as drogas são capazes de fazer ao homem: “o nazismo não necessariamente incita à violência, se o cara quer ser um antijudeu, eu acho que ele tinha direito de ser. Portanto poderia ter um partido que defenda ideias parecidas.”. Errado. Absolutamente equivocado em diversos sentidos. Primeiramente, pelo limite da nossa legislação brasileira, porque a nossa Constituição (1) é bem clara quanto a isso no artigo 20, parágrafo 1º e 2º, da Lei 7.716 de 1989 que versa sobre preconceito de raça ou cor. Além disso, sobre o segundo ponto, não há o que se discutir, posto que, evidentemente, a história já mostrou o quão nocivo foi o nazismo e, sobretudo, a razão dessas ideias serem inerentemente ruinosas e violentas. | ||
Não apenas Monark foi considerado o vilão da história, mas também o nosso deputado federal Kim Kataguiri que, ao argumentar contra o argumento proibicionista da deputada federal, Tabata Amaral, foi tachado como defensor do nazismo e da criação de um partido. Mas, como a verdade é uma só, Kim Kataguiri logo esclareceu o episódio que, na verdade, não se tratava da defesa nazismo ou partido, mas sim como deveria se dar o combate a essas ideias, contra as quais, do ponto de vista de Kim, o proibicionismo atual não efetivamente funciona: “muito melhor expor a crueldade dessa ideologia nefasta para que todos vejam o quanto ela é absurda. Sufocar o debate só faz com que grupos extremistas cresçam na escuridão e não sejam devidamente combatidos e rechaçados.”. | ||
Como citei no início desse artigo, o escritor João Pereira Coutinho também defende tal ponto: o de que livros como o Mein Kempf e outros semelhantes devam ser publicados, mas com um disclaimer na livraria: “As ideias têm consequências; e as más ideias tiveram consequências ruinosas.”. | ||
Para encerrar, cito um trecho da primorosa reflexão de Lucas Berlanza: “Condenar a simples discussão sobre a melhor maneira de lidar com o assunto, como se a questão fosse extremamente fácil e fechada, e querer até colocar na cadeia um influenciador por sugerir que a proibição talvez, quem sabe, não seja o melhor caminho ou a abordagem ideal, está sendo francamente um exagero de muitos confrades que, há pouco tempo, pareciam mais abertos ao debate. Por outro lado, o influenciador em questão cruzou uma linha inadmissível toscamente ao sugerir que nazismo seria apenas uma opinião comum que discordaria de um ‘estilo de vida’. Nazismo é tirania e racismo – mesmo que a Whoopi Goldberg diga o contrário.”. | ||
P.S: enquanto revisava meu texto, a comunidade judaica se manifestou acerca do ocorrido, o deputado Kim Kataguiri de prontidão se desculpou sinceramente e esclareceu da maneira mais clara possível o episódio: “Gostaria de aproveitar esse espaço para reforçar meu pedido de desculpa para toda a comunidade judaica. Foi um erro tratar um assunto tão delicado quanto esse da forma que tratei. Também agradecer ao meu amigo Ronaldo Gomlevsky pela justiça que me fez independentemente das divergências políticas que temos. Sou grato de coração pelo perdão e pela compreensão da comunidade judaica". | ||
1 - 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. | ||
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza: | ||
PENA reclusão de dois a cinco anos e multa. | ||
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