Paulo Palestrinha
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Paulo Palestrinha

“Hoje, houve uma debandada? Hoje, houve uma debandada.”, disse Guedes. “Salim declarou: ‘A privatização não está andando, prefiro sair’. Uebel disse: ‘A reforma administrativa não está sendo enviada, prefiro sair’. Esse é o fato, essa é a ver...

Blog do Ning
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“Sofremos uma debandada na equipe”, declara o Ministro da economia Paulo Guedes, em tom pusilânime, ao comentar as saídas de Salim Mattar (Desestatização) e Paulo Uebel (Desburocratização).


Texto originalmente publicado 12 de agosto de 2020

“Hoje, houve uma debandada? Hoje, houve uma debandada.”, disse Guedes. “Salim declarou: ‘A privatização não está andando, prefiro sair’. Uebel disse: ‘A reforma administrativa não está sendo enviada, prefiro sair’. Esse é o fato, essa é a verdade.”

Bem, esta é a verdade — já que depois de tanto vai e vem — o liberalismo (pretensão, pelo menos) no governo Bolsonaro finalmente entrou em sua fase terminal; e o “orador principal” entrou em decomposição.

Paulo Guedes provou ser um orador excepcional desde o início, tão excelente que quase sempre fez a bolsa de valores subir para 100.000 pontos, superando até mesmo esta marca, mas nem tudo são flores. Assim que o êxtase se esgotou, todos começaram a se perguntar sobre o marasmo econômico na tão prometida agenda e a questionar o governo para mais reformas, sejam elas administrativas ou fiscais — e Guedes sempre dizia: “na próxima semana eu vou entregar”. No final, sabíamos que isto se cansaria e, inevitavelmente, aconteceu. O público acabou percebendo que este governo nunca teve qualquer compromisso com reformas e que Paulo Guedes, ao que parecia, estava limitado apenas ao campo retórico.

Após a reforma previdenciária, Paulo Guedes estagnou, uma atrofia na agenda liberal instalou-se, deixando apenas promessas vazias e discursos patéticos, no estilo mais coaching possível, onde Guedes chegou ao ponto de afirmar absurdos que envergonhavam até mesmo o mais guedista, e, com a pandemia no jogo, tudo o resto se arrefeceu, deixando apenas desesperança.

No desplante ensaiado, Guedes inaugurou a palestra ministerial, sendo apelidado zombateiramente de “Paulo Palestrinha”: “Vamos trazer um ousado programa de privatização, a democracia vai reagir bem, há espaço fiscal, vamos surpreender”… E realmente surpreendeu, todos ficaram estupefatos com tamanha desfaçatez do mesmo (com exceção dos”traders-antifrageis”).

“Mas, veja bem, a culpa não é minha, mas do establishment político”, repetia Guedes a fim de justificar suas incompetências. O lero-lero foi tanto que as expectativas se esvaziaram, perdendo apoio do movimento liberal e sobrando apenas oportunistas carniceiros “traders-antifrageis” ou “Faria Limers”, na sua melhor expressão de enganação de uma elite jovem soberba e apática para com a realidade brasileira.

No entanto, os sinais não são de hoje, pois na dantesca reunião ministerial, Guedes revelou-se como realmente era: subserviente, iliberal e enganador, chegando a afirmar que adotaria todo o discurso de desigualdade e gastança para a “reeleição Bolsonaro”: “Vamos fazer todo o discurso da desigualdade, vamos gastar mais, precisamos eleger o presidente.”

O que precisamos deixar claro é que Bolsonaro nunca foi um liberal ou mesmo gestou uma apreciação pela agenda econômica, um exemplo dado no livro Tormenta — “O governo Bolsonaro: crises, intrigas e segredos” da jornalista Thaís Oyama, onde Thaís narra um episódio em que o presidente Bolsonaro (então candidato a presidente) deixou de estudar economia com Guedes para assistir ao jogo de Palmeiras contra a Bahia — sabendo que no dia seguinte ele seria entrevistado no Globo News.

A saber: “”Em setembro de 2018, Paulo Guedes foi à casa do empresário Paulo Marinho, no Rio, para ministrar mais uma aula de economia ao candidato do PSL (Jair Bolsonaro), que no dia seguinte seria entrevistado pela GloboNews. Naquela tarde, no entanto, o Palmeiras jogava contra o Bahia. Assim que começou a transmissão na TV, Bolsonaro não desgrudou mais os olhos da tela. Naquela ocasião, assessores acharam que o economista jogaria a toalha. .”

Guedes sabia com que estava lidando, mas sua ânsia de fazer nome pra si e a cadeira ministerial foi mais forte, pois ele sempre guardou rancor de não ser chamado para o governo Itamar na equipe do Plano Real. Tal era seu ressentimento que ele recentemente se lançou contra o plano: “Se o plano fosse tão extraordinário, eles não perderiam quatro eleições consecutivas”, disse o Ministro em entrevista à CNN Brasil.

A pergunta que permanece no ar é: O liberalismo acabou no Brasil? respondo com absoluta certeza: Não! O liberalismo é um campo de ideias, seja político, social ou econômico. Seus fundamentos teóricos construíram a civilização de hoje — esta expressão não é efêmera, mas cristalizada no coração da civilização ocidental.

Como costumava dizer o falecido economista e político Roberto Campos: “O que certamente nunca houve no Brasil foi um choque liberal. O liberalismo econômico, assim como o capitalismo, não fracassou na América Latina, apenas não deu o ar de sua graça.”


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