A Orquestra
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A Orquestra

A formação musical que conhecemos hoje como orquestra é o resultado de séculos de transformações, e traz em si uma bagagem histórica rica não só em teoria musical, mas também em contextos sociais e tecnológicos.

Gesiel
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A formação musical que conhecemos hoje como orquestra é o resultado de séculos de transformações, e traz em si uma bagagem histórica rica não só em teoria musical, mas também em contextos sociais e tecnológicos.

Se pensarmos o próprio nome, “Orquestra”, a maioria das pessoas trarão a mente o conceito atual de um “conjunto de músicos instrumentistas que executam uma peça sinfônica”, porém poucos chegarão ao real significado da palavra.

Orquestra é o ambiente, dentro do teatro, localizado logo à frente e logo a baixo do palco, onde um “conjunto de músicos instrumentistas” executam a parte instrumental das óperas.   

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Então, onde ficam os músicos? Na “orquestra”!

A ópera é relativamente nova, e embora derive das peças gregas antigas que envolviam atores e um grupo coral, surgiu, como a conhecemos, entre os séculos XVI-XVII. Isto significa que antes dela não existia orquestra?

Há duas respostas para esta pergunta: sim e não!

Havia sim grupos de músicos que se reuniam, mas o conceito de orquestra não tinha bem a definição atual, e há motivos para isto.

A partir do século IV a igreja passou a proibir a música instrumental por associá-la a prazeres carnais, levando os músicos a uma vida de apresentações quase que às escondidas, ficando estas exclusivamente aos bardos, menestréis e trovadores, que com o passar do tempo foram caindo na graça do povo e da nobreza europeia.

Por este motivo não há registros históricos de partes instrumentais sendo os primeiros documentos datados dos séculos XIII-XIV, enquanto as peças vocais foram vastamente documentadas pela igreja a partir do século IX. Por este motivo também, é quase impossível organizar um grupo musical para executar uma peça que soe agradável aos ouvidos, uma vez que todos os músicos teriam que contar apenas com a memória, o que por muito tempo levou a demonstrações musicais solo, e em raros momentos em grupo.

Embora o modelo da orquestra atual é basicamente o usado por Beethoven, foi o italiano Cláudio Monteverdi (1567-1643), quem primeiro entendeu que para dar uma boa sustentação do som era necessário uma quantidade maior de instrumentos de cordas.  


Já com um sistema, ainda que rústico, de notação musical, a música instrumental começou a se popularizar na passagem do Período Renascentista (1450-1600) para o Período Barroco (1600-1750), sendo este o primeiro de uma série de cinco divisões de tempo na formação da orquestra:

  • Orquestra do Período Barroco;
  • Orquestra do Período Clássico;
  • Orquestra do Período Romântico;
  • Orquestra do Romantismo Tardio;
  • Orquestra do Período Moderno/Pós Moderno

No barroco a aristocracia europeia mantinha grupos de músicos já bem organizados e conduzidos por um instrumentista líder, que marcava basicamente a entrada da música, para tocar peças musicais escritas especialmente para apresentações em pequenos ambientes, as câmaras, tais como as sonatas, peça composta para um instrumento, geralmente de corda, acompanhado por um instrumento de teclas, geralmente cravo. À semelhança da sonata, porém para mais instrumentos, as peças para música de câmara são nomeadas pela quantidade de instrumentos: trio, quartetos, quintetos...

Em contrapartida, a igreja mantinha um grupo maior para executar música escrita especialmente para o serviço da missa, este foi o embrião da orquestra.

É deste período que saiu a divisão da orquestra por naipes, ou famílias de instrumentos, como atualmente conhecemos: cordas; sopro de madeiras; sopro de metais; percussão; e adições ocasionais de instrumentos de teclas e harpa.

A orquestra barroca apresentava um bom número de violinos, divididos em duas partes, violas, violoncelos e baixos; duas flautas, três oboés, um fagote e em algumas ocasiões um contrafagote; duas trompas e dois ou três trompetes, ambos naturais uma vez que o sistema de pistos e válvulas só foram inventados no século XIX e XX, respectivamente; na percussão eram utilizados dois tímpanos; e um instrumento de teclas que poderia ser um órgão ou um cravo.

Vale lembrar que para cada um destes dois grupos, de Câmara ou de Chiesa, eram compostos peças específicas quanto ao gênero musical e a finalidade, seja ela sacra, secular ou mundana, que poderia ser inclusive pagã, embora pouco produzida nesta época.

É neste período que surgem gêneros musicais como a suíte,  a sonata barroca, de câmara ou de chiesa, sendo a mesma peça, porém com o acréscimo de um órgão, e o concerto, seja ele grosso, um grupo de três instrumentos contra uma orquestra, ou fino, um instrumento contra uma orquestra.  

No Período Clássico (1750-1820) foram acrescentados à orquestra duas clarinetas, um flautim, e dois trombones.

Os compositores conhecidos como “a primeira escola de Viena”, Haydn, Mozart e Beethoven, eventualmente se utilizavam de um terceiro trombone como baixo, e são os responsáveis pela obsolescência do órgão em peças sinfônicas que agora já eram bem comuns ao teatro.

A principal mudança no corpo da orquestra veio no Período Romântico (1820-1920), e encontra-se no tamanho da mesma e no acréscimo de novos instrumentos.

Sua importância musical é tamanha que divide-se a evolução da orquestra neste período em dois tempos: romântico, inicial,  e romântico tardio.  

No primeiro aumentou-se significativamente o número das cordas, chegando aos cinquenta instrumentos.

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Nos metais começam a aparecer as tubas e as válvulas para os trompetes e as trompas, que agora são padronizadas em número de quatro, número que se oficializa para os trombones, sendo um trombone baixo.

À percussão, que até esse período era apenas de dois tímpanos, são acrescentados bumbos, pratos, triângulos, glockenspiel e outros instrumentos, tornando-se agora uma verdadeira seção dentro da orquestra.

É no romântico também que começa a aparecer o piano, mas é no romântico tardio que ele se consagra.

Neste quarto tempo da orquestra há verdadeiros exageros na quantidade de músicos, podendo chegar a quase setenta o número das cordas. Há peças com o uso de oito trompas, quatro tubas, oito trombones, além do aumento no número de todos os outros instrumentos.

À percussão acrescentou-se mais dois tímpanos, sendo este um dos poucos remanescentes da orquestra romântica tardia, que por motivos bastantes não era sustentável e prática.

Na atualidade a formação de uma orquestra para apresentação de uma peça deste período conta sempre com músicos contratados apenaspara a execução específica. 

Na orquestra do Período Moderno, a partir de 1920, torna-se quase que padrão o formato da orquestra do romântico inicial, mas a criação do sistema de pistos, pelo francês Perinet em 1939 inicialmente para o trompete, se demonstra um divisor na qualidade e precisão do som dos metais. Sobre este assunto leia a matéria "O Trompete na História" aqui mesmo no Blog do Gesiel, e assista o vídeo a seguir para entender melhor a valorização que o sistema de válvulas e pistos trouxeram para a música instrumental.  

Torna-se comum o uso de saxofone, que embora tenha sido inventado no século XIX, não era muito apreciado por compositores da época.

A família da percussão aumenta com instrumentos de teclas percutidas como o xilofone, vibrafone e marimba, e começa a aparecer a bateria americana em algumas peças sinfônicas.

A orquestra pós moderna, segunda metade do século XX, se apresenta em  ocasiões específicas com acréscimo de alguns instrumentos eletrônicos como o teclado eletrônico, a guitarra elétrica, o contrabaixo elétrico, e para satisfazer a criatividade de compositores como John Cage, Shaeffer, Harry Partch, entre outros, aparecem esporadicamente todo e qualquer tipo de material capaz de produzir som, muitas vezes apenas ruídos, e combinações de objetos variados, até mesmo instrumentos inventados por eles.   

Há muito que se falar sobre a orquestra, como suas subdivisões, funcionamento e formas de ingresso, mas isto ficará para um próximo trabalho.         

Sobre a documentação musical na Idade Média, veja aqui um farto material sobre o assunto:


"Gregório I e os Modos Eclesiásticos"


"A Música no Período Medieval e a Construção da Harmonia"

"Leonin, o mestre"

"Perotin, o Grande"

"Guillaume de Machaut, o nome da Ars Nova"

"O Surgimento e os Primeiros Desenvolvimentos da Polifonia"

"O Cantochão e o Canto Gregoriano na Liturgia Católica"


Sobre a música no Período Barroco, veja as matérias:


"Bach e os Concertos de Brandenburgo"

"Gêneros Musicais do Período Barroco"

"Contribuições Musicais da Reforma Protestante e da Contra Reforma"


E no Clássico, recomendo, entre outros, "A Música Instrumental no Período Clássico"




REFERÊNCIAS:

GROUT, Donald J. & PALISCA, Claude V. “História da Música Ocidental”. Lisboa: Gradiva, 1988.

www.en.wikisource.org/wiki/1911_Encyclopædia_Britannica/Orchestra

www.spinditty.com/artists-bands/A-Beginners-Guide-to-Instruments-of-the-Orchestra