Contribuições musicais da Reforma Protestante e da Contra Reforma

A Reforma teve início com um protesto, uma disputa teológica que foi posta em movimento por Martinho Lutero em 1517 e surgiu rapidamente como uma rebelião contra a Autoridade da Igreja Católica e da liderança espiritual de Roma, o centro do cristianismo ocidental. 

Lutero era um excelente teólogo e pregador, além de ser cantor, compositor e grande admirador do trabalho de Josquin. Ele cria de maneira excepcional nos poderes educacionais e éticos da música.

Conforme as mudanças litúrgicas, que se seguiram naturalmente, trouxeram as mudanças musicais, que diferem do país para o país, de acordo com o grau de reforma defendida pelos vários líderes protestantes: Lutero na Alemanha; Calvino e seus seguidores na França, Países Baixos e Suíça; e Henrique VIII na Inglaterra.

 
No início, a música da Reforma na Alemanha, escrita por compositores luteranos, manteve-se muito próximo das fontes católicas tradicionais e estilos de cantochão e polifonia. Algumas músicas mantiveram os textos originais latinos, outras obras foram traduzidas para as línguas vernáculas, ou seja, o idioma natural de cada país, e outros ainda têm novos textos sobre melodias antigas. 

A mais importante inovação musical da Igreja Luterana é o hino estrófico, também conhecido como Coral, destinado para o canto congregacional em uníssono, pois Lutero desejava que a congregação participasse do serviço durante o culto e não simplesmente como espectadores. Assim como o cantochão foi a base para a expansão musical e elaboração de compositores católicos, assim também, o repertório de corais tornou-se o ponto de partida para uma grande quantidade de músicas na igreja luterana do século XVI até o tempo de Johann Sebastian Bach (1685-1750), principal expoente do período Barroco e grande compositor de peças corais. 

Através da música Coral a congregação aprendida os dogmas de sua fé, pois tem textos e melodias métricas simples, com versos rimados, o que facilita a memorização, tudo muito bem pensado para a divulgação da fé protestante. Lutero encorajava a composição de novas músicas e textos, ele mesmo chegou a escrever vários, sendo o hino  “Ein feste Burg ist unser Gott”  (A fortaleza resistente é o nosso Deus) sua obra musical mais conhecida e o hino da Reforma.

A música nas igrejas reformadas, espalhadas pelo continente europeu, não seguiram as mesmas linhas, Calvino, e outros líderes protestantes, tinham oposição a alguns elementos da liturgia católica muito mais fortes do que as de Lutero.Eles desconfiavam do fascínio que as arte exerciam nos fiéis nos locais de culto, e proibiram o canto de textos que não eram encontrados na Bíblia. Como resultado, as únicas contribuições notáveis​​para a música das igrejas calvinistas eram suas traduções métricas do Livro dos Salmos, e a coleção dos 150 textos dos Salmos com melodias compostas recentemente ou, em muitos casos, para músicas de origem popular ou de cantochão, com métricas rimadas e estróficas, ficou conhecida como Saltério. Observação importante é o fato de, na igreja, só ser permitido o canto monofônico, mas para uso devocional, em casa, era permitido a polifonia. 

Loys Bourgeois (1510-1561) chegou a compor algumas melodias, mas sua principal contribuição foi a compilação destes Salmos. Outros compositores foram dos franceses Claude Goudimel (1520-1572) e Claude Le Jeune (1528-1600), e nos Países Baixos, Jan Pieterszoon Sweelinck (1562-1621). Traduções do Saltério apareceram em muitos países, e outras Igrejas Reformadas, incluindo a Igreja Luterana, adaptaram melodias do Saltério para os seus próprios serviços.

Na Inglaterra, a separação da Igreja Anglicana de Roma, em 1534 sob o reinado de Henrique VIII, ocorreu mais por divergências políticas do que por motivos religiosos; assim a música na igreja inglesa foi menos afetada e manteve-se mais perto das tradições musicais católicas, exceto o fato de o idioma Inglês substituir o latim na liturgia. Motetos e missas latinas tradicionais continuaram a ser escritos e a polifonia inglesa tinha uma textura completa, sentindo-se bem forte a harmonia musical dividida em grupos vocais bem contrastantes. Longos melismas eram escritos para todas as vozes, resultando em passagens de extraordinária beleza e expressividade.

Thomas Tallis (1505-1585), compositor Inglês, liderou este estilo, compondo a música para o serviço da Igreja Anglicana. Seu estilo de composição casava a melodia com a inflexão natural do discurso do texto.

A Igreja Católica precisava tomar algumas atitudes sobre a reforma protestante, pois a mesma ganhava volume e deixava a igreja romana em situação de perca de território entre os fiéis. Reuniu-se então em Trento, Itália, para tratar de seu próprio programa de reforma interna conhecida como a Reforma Católica, e depois Contra Reforma, um movimento mais amplo que tentou ganhar de volta aqueles que haviam deixado a Igreja Católica, apelando aos seus sentidos através da beleza da sua liturgia, arte sacra e música cerimonial. 

Este movimento não só resultou em muitas reformas litúrgicas, mas também reafirmou o poder da música para alcançar os corações e mentes dos fiéis através de um estilo apropriado de polifonia sacra. Entre as reclamações feitas a respeito da música, estavam as seguintes: a polifonia era complicada e dificultava o entendimento das palavras, a pronúncia era ruim, os músicos eram irreverentes, e havia também aqueles que eram contra o uso de instrumentos musicais durante a missa. 

Entre todos os compositores católicos de música sacra, escolhidos para esta estratégica tentativa de mudança, o romano Giovanni Pierluigi da Palestrina (1525/6-1594) foi o mais importante. Ele não só capturou a essência do pedido musical para a Contra Reforma, como também seu estilo de composição musical tornou-se um modelo que tem servido professores e alunos de contraponto até os dias atuais. Credita-se a ele o fato de a polifonia ter sobrevivido a este período, pois soube trabalhar as palavras, melodia, harmonia e o contraponto, sem prejudicar um em benefício do outro. Sua “Missa Papae Marcelli”mostrou que as palavras sagradas poderiam ser muito bem compreendida em música polifônica. O estilo de Palestrina é o primeiro na música ocidental que é conscientemente preservado e imitado e poucos compositores antes de Bach são tão conhecidos nos dias de hoje.

Outros compositores contemporâneos de Palestrina são:Adrian Willaert (1490-1562) que moldou cuidadosamente sua música para a pronúncia das palavras, Tomás Luís de Victoria (1548-1611), Orlando di Lasso (1532-1594), William Byrd (1540-1623).          

Várias foram as mudanças mundiais iniciadas com a reforma protestante, além destas aqui mencionadas em relação à música, para ver um pouco mais sobre estes temas, veja a matéria "Viva a Reforma!!!".

Sobre a música Renascentista, período da Reforma, veja a "Análise de 'Moro, Lasso'", e também as matérias sobre o período que se seguiu:

"Gêneros musicais do Período Barroco"

"Ostinato"

"Xilofone gigante: Jesus! Alegria dos homens!"

Referências:

Disponível em: www.newworldencyclopedia.org. Acessado em 06/09/2015.

Disponível em: http://musicology.cua.edu. Acessado em 06/09/2015.