O Cantochão e o Canto Gregoriano na liturgia católica
155
1

O Cantochão e o Canto Gregoriano na liturgia católica

A música sacra foi de fundamental importância para o desenvolvimento da sociedade, pois a maioria das cidades eram governadas pelas regras da igreja, sendo, por este motivo, documentadas e registradas belas peças musicais de relevância para o...

Gesiel
3 min
155
1

A música sacra foi de fundamental importância para o desenvolvimento da sociedade, pois a maioria das cidades eram governadas pelas regras da igreja, sendo, por este motivo, documentadas e registradas belas peças musicais de relevância para o trabalho católico. O Cantochão e o Canto Gregoriano, utilizados na música sacra, foram imperativos para o crescimento da música.

O registro mais antigo de música no Período Medieval é o Cantochão. Era cantado lentamente em uníssono, sem harmonia e seguindo o ritmo natural das palavras, este estilo também é conhecido como monodia, ou seja, uma única voz, ainda que por vários cantores, sem harmonia e sem acompanhamento instrumental. Inspirado no estilo judaico do canto dos Salmos, o cantochão cantava apenas textos sagrados e era bastante simples de aprender. Tornou-se uma parte da liturgia católica e cada região desenvolveu um estilo de cantochão.

Destacou-se, na composição de música litúrgica, Hildegard von Bingen (1098-1179). Embora suas composições não eram de prática tradicional para aquele tempo, uma mulher compondo peças musicais para a igreja, seus esforços foram respeitados por muitos incluindo o Papa. Ela escreveu antífonas, que são textos poéticos acompanhados por melodias exuberantes, sequências e também um jogo musical, Ordo Virtutum, para as freiras do convento.

Os estilos musicais não tinham se desenvolvido muito nesta época, por este motivo a ênfase era o texto e não a música.  No Canto Gregorianohouve um desenvolvimento das técnicas musicais, mas o texto ainda permaneceu com a mesma importância na música sacra.

Embora o Papa Gregório I leve o crédito pela criação do Canto Gregoriano, pois foi ele que reorganizou a liturgia católica, este estilo foi evoluindo por muitos anos, ou seja, o Cantochão se desenvolveu para o Canto Gregoriano, mantendo como base uma melodia cantada dos textos sagrados, sem acompanhamento e com estrutura monofônica, diferenciando apenas pela complexidade da melodia. A princípio eram aprendidos de ouvido e passado desta maneira por várias gerações, mas, como lentamente ele foi se tornando mais complexo, houve a necessidade de se criar uma notação, que não alterou o conteúdo nas diversas regiões por onde era praticado. Não eram cantados em tom maior ou menor, mas sim nos modos eclesiásticos criados pela igreja como podemos ver na matéria "Gregório I e os Modos Eclesiásticos", aqui mesmo no Blog do Gesiel.

Para os fiéis do período medieval, a missa era, além de inspiradora, muito instrutiva, pois na grande maioria os crentes não tinham cultura, e a música cantada pelos padres, pelo coro, ou pelo solista, tinha o poder de transportar a alma do ouvinte para um lugar de paz, era o momento de se apreciar a arte da música.

A missa começava com uma seção introdutória (que inclui o Intróito, o Kyrie, e o Glória). Sendo seguido pela Liturgia da Palavra (que inclui o Gradual, o Alleluia ou Tract, por vezes uma Sequência, e o Credo), e a Liturgia da Eucarístia (que inclui o Ofertório, o Sanctus, o Agnus Dei, e a Comunhão).

O canto na missa pode ser classificado de diversas maneiras: pelo tipo de texto (bíblico ou não, prosa ou poesia), pelo modo do desenvolvimento (antífonal,responsorial ou direto) ou pelo estilo musical (silábico, uma nota por sílaba, ou melismático, muitas notas por sílaba).

Sobre a notação destas canções, vários mosteiros mantinham um grupo de monges ou freiras chamados “Scriptoria” que copiavam o texto e a música em páginas decoradas e ilustradas em livros encadernados, este processo era trabalhoso e caro, mas muitos mosteiros preservam estas músicas em manuscritos até hoje. Na obra "O Nome da Rosa", de Umberto Eco, um monge franciscano do século XIV, e seu noviço, chegam a um mosteiro para participar de um conclave e descobrem que vários monges foram misteriosamente assassinados, uma “Scriptoria” tem papel fundamental para o desenlace da trama.



O Canto Gregoriano continuou a se desenvolver, mas sempre mantendo a ideia de música sacra. Veja uma análise do Kyrie, da Missa de Notre Dame, moteto de Guillaume de Machaut, na matéria "A Isorritimia na obra de Machaut". E veja também um mapa conceitual sobre "O surgimento e os primeiros desenvolvimentos da polifonia".


Acrescente conhecimento sobre a música neste Período lendo e assistindo as matérias publicadas neste Blog e no canal do YouTube "No Tempo da Música", são eles:

"A Música no Período Medieval e a Construção da Harmonia"

"Leonin, o mestre"

"Perotin, o Grande"

REFERÊNCIAS:











KAMIEN, R., (1984), "Apreciação Musical", Estados Unidos da América, McGraw-Hill Book Company


SEAY, A., (1975), "Música no Mundo Medieval", New Jersey, Englewood Cliffs, Prentice-Hall Inc.


Disponível em: http://www.wwnorton.com. Acessado em: 07/08/15.