Ravel: Impressionismo e Bolero
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Ravel: Impressionismo e Bolero

País Basco! De acordo com o entendimento atual, “país” se refere a um Estado autônomo, com governo constituído, com economia própria, com forças de defesa e com território bem definido. Seguindo este conceito, embora seu povo tenha uma cultur...

Gesiel
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País Basco! De acordo com o entendimento atual, “país” se refere a um Estado autônomo, com governo constituído, com economia própria, com janela de defesa e com território bem definido. Seguindo este conceito, embora seu povo tenha uma cultura própria e o idioma considerado o mais antigo da Europa, eles falta, à priori, um “país”.

O povo basco, com forte tradição e população, está dividido entre o extremo norte da Espanha e o sudoeste da França, tendo como limite natural a cadeia de montanhas dos Pirineus. Na Espanha o povo basco habita quatro províncias, e na França, três, mais precisamente no departamento dos Pirineus Atlânticos. Foi nesta região, em Ciboure, que nasce para Marie Delouart-Ravel, de origem basca, e Joseph Ravel, de origem suiça, Joseph Maurice Ravel, em 07 de março de 1875, e três meses depois mudam-se para Paris, vai onde florescer o gênio musical de um dos principais nomes da música erudita francesa no século XX.

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Aos seis anos de idade inicia os estudos musicais de piano, e aos doze, incentivado pelo pai de quem diria futuramente “ser mais culto nesta arte que a maioria dos aficionados”, parte para as aulas de harmonia, contraponto e composição.

Dois anos mais tarde, em 1889, entra para o conservatório de Paris, onde formar seu caráter musical influenciado por nomes de peso na história da música ocidental. Entre amizades no meio cultural e trabalhos como pianista, inicia suas composições.

Em 1897 aprofunda seus estudos de contraponto e passa a ter aulas com Gabriel Fauré, a quem vai dedicar em 1901 a peça “Jeux d'eau”, e de quem receberá significativo apoio e indicação ao Grande Prêmio de composição musical. d'eau ”, aliás, é considerada a primeira peça do cunho impressionista de Maurice Ravel, onde uma melodia parece plana sobre uma harmonia rica em dissonâncias. Esta obra também trouxe o reconhecimento musical na Europa do início do século XX.

Associada ao movimento impressionista das artes visuais, o impressionismo na música teve em Claude Debussy seu nome principal. Assim como na pintura a música impressionista tende a simplicidade dando uma breve sugestão sobre o verdadeiro conteúdo.

O Período Romântico (1820-1920) se aproximava do fim e levava consigo os exageros harmônicos baseados no sistema tonal. A ideia agora era trazer simplicidade a harmonia, ainda que bem trabalhada no uso de dissonâncias, e diminuir o peso da mesma em relação à sonoridade, bem como tornar mais simples uma melodia, com linhas claras e curtas.

Embora Debussy não gostasse de associar sua música ao título “impressionista” foi ele quem forneceu as bases do impressionismo musical ao trabalhar acordes com 11ª e 13ª, algo que não era comum à época. Fez uso também de acordes com 7ª maior, e em acordes com cinco ou mais notas incluía a 3ª, que por prática era, e ainda é, eliminada para favorecer o resultado sonoro.

O movimento impressionista, que não trabalha com os modos eclesiásticos, eliminando assim o sistema tonal, maior e menor, utiliza-se bastante das dissonâncias formar da escala hexafônica, que se baseia-se em uma nota tônica acrescida de mais cinco notas.

Três tipos de escalas hexafônicas foram muito utilizadas no impressionismo: a de tons inteiros, a que exclui a dominante, ea aleatória.

Veja como fica uma escala hexafônica de toneladas inteiros partindo da nota dó: 

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Observe que o campo harmônico formado por esta escala apresenta apenas acordes maiores, por se tratar de uma escala apenas com tons inteiros jamais vai apresentar uma terça menor, disponibilizando também em todos os acordes com a quinta aumentada.

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Já uma peça que se utiliza da escala hexafônica com a exclusão da dominante, além de causar um efeito de menor tensão, impedir que frases musicais terminem com cadências perfeitas (VI), interrompida (V-vi), ou meia cadência (iv -V ), progressões prejudiciais comumente esperadas em músicas da época.

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Imagine a dissonância de uma obra musical trabalhada em um campo harmônico de uma escala hexafônica com notas aleatórias!  

Debussy influenciou Ravel de uma tal forma que o segundo nome do movimento impressionista é o próprio Maurice, tendo seus trabalhos de composição realizados até o ano de 1914 associados ao impressionismo musical do século XX.

Há uma breve pausa em seu trabalho de composição no período da primeira guerra mundial, quando se torna o motorista de caminhão do exército francês.

Em 1918 mais Claude Debussy e com ele o ânimo impressionista de Ravel que volta a compor em 1919.

As composições de Ravel são de leitura quanto ao movimento musical entre os períodos, final do Romantismo - impressionismo, início do modernismo - neoclassicismo, com uma forte tendência a este último nos trabalhos a partir de 1914.

Sem neoclassicismo há o abandono das dissonâncias e das tensões prejudônicas tornando a melodia mais limpa com acordes ainda mais simples, uma releitura do estilo Clássico, porém com uma música ainda mais clara e com um uso comum de grupos de câmara.

Em 1928, a bailarina Ida Rubinstein pede a Ravel que faça uma orquestração de algumas peças do pianista espanhol Isaac Albéniz, para ballet de caráter espanhol, cuja característica principal é um solo de dança, ou casal, acompanhado de castanhola. Tal pedido foi graças ao sucesso que Ravel obteve em orquestrar a obra “Quadros de uma Exposição” do compositor russo Modest Mussorgsky, obra esta em 10 movimentos, seguindo para piano e que alcançou maior reconhecimento após a orquestração de Ravel.

Mas por motivos incertos, Ravel deu asas à sua imaginação e resolveu criar sua própria obra, o que levou a concepção da peça musical mais tocada na França em todos os tempos.  

Em suas palavras, seu Bolero:

 “É uma dança em movimento moderado e constante, quer pela melodia, harmonia ou ritmo que é marcado sem cessar por uma caixa. O único elemento que se diversifica é pelo crescendo orquestral ”.

Com uma marcação rítmica constante da caixa clara, tema percussivo que se repete 171 vezes durante a música, Ravel elaborou um estudo interessante de dinâmica em compasso ternário, 3/4, onde, em seus 19 períodos musicais, a orquestra irá do pianíssimo ao fortimo em cerca de 15 minutos e 40 segundos, levando em consideração o tempo estimado na marcação original do compositor: 72 semínimas por minuto (♩ = 72).

Uma frase musical pode ter quatro ou oito compassos, sendo determinado se um ou outro, pela cadência que encerrará uma frase, neste caso a progressão harmônica se define no oitavo compasso. Aqui Ravel trabalha com a ideia de diálogo musical onde uma frase é a pergunta e a outra a resposta, somando 16 compassos, ou um período musical.

Cada seção apresenta 16 compassos, exceto a 19ª, com 14 compassos onde há uma breve modulação para Mi retornando para encerrar de modo apoteótico, e em cadência plagal (IV-I), em Dó. Ravel intercalou cada período musical com dois compassos rítmico-harmônicos (2 + 16) e o complemento numérico do período, 14 compassos, deve-se aos 4 compassos iniciais da caixa.    

O lançamento da peça se deu em 22 de novembro de 1928 na Ópera Garnier, em Paris, e o ballet apresentado por Ida Rubinstein, como a garçonete de uma taberna espanhola, cenário da coreografia original, dançando sobre mesas e entre clientes, associou para sempre a música à sensualidade.

A obra alcançou o público de todas as classes e entre os músicos chamou a atenção por se tratar de quinze minutos de música de alta qualidade sem grandes contrastes melódicos, com ritmo constante e com harmonia muito, muito simples. Exímio conhecedor da organologia, o estudo dos instrumentos musicais e seus timbres, Ravel, com genialidade, soube prender o ouvinte, ao conduzir uma orquestra de um som quase imperceptível a um gran finale estrondoso e explosivo. 

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Não seria demais dizer que o estudo de dinâmica de Ravel, e a sensualidade da dança de Rubinstein, não merecem a apenas o pódio, como também o ouro, pois em 1984, nos Jogos Olímpicos de Inverno, em Sarajevo, a dupla inglesa Torvill e Dean , levaram o ouro na patinação artística ao som do Bolero de Ravel, feito que jamais se esquecerá dada a perfeição entre música e movimentos.

Entre 1929-1930 compõe para o pianista austríaco Paul Wittgenstein, entre tantos compositores que se dispuseram a fazer o mesmo, a pedido de Wittgenstein, que havia perdido o braço direito na primeira guerra mundial, uma peça “Concerto para mão esquerda” de Ravel sagrou -se como a mais popular sendo regravada por vários pianistas, entre eles o brasileiro João Carlos Martins.

Diagnosticado com a doença de Pick, ou PiD, doença neurodegenerativa, semelhante ao alzheimer mas que afeta primeiro a capacidade de raciocínio, expressão de linguagem e autocontrole, estudiosos associam sua obra prima aos efeitos avançados da doença, que se agravou após um acidente automobilístico no ano de 1932 e que vai usar-lo à morte em 28 de dezembro de 1937, aos 62 anos de idade, na cidade de Paris.

Aprofunde seus conhecimentos sobre:

Principais correntes musicais da primeira metade do século XX ;

Gerações Românticas ;

REFERÊNCIAS:

https://www.npr.org/templates/story/story.php?storyId=1848385

https://www.nytimes.com/2008/04/08/health/08brai.html?_r=0

https://www.theguardian.com/education/2001/apr/25/arts.highereducation

https://www.britannica.com/