Só Louco

Como o próprio nome sugere, o samba canção indica uma aproximação do samba com a canção, ganhou o apelido de “samba de meio de ano” por ser tocado em qualquer época e ocasião, e não somente durante o carnaval carioca. Em geral, o samba-canção faz uma releitura mais elaborada do samba, dando ênfase à melodia com um andamento mais moderado, mais lento com temas de amor, solidão e na chamada "dor-de-cotovelo". Na maioria dos arranjos o acompanhamento musical se dá de forma bem melódica hora com orquestra, hora com piano, hora só com violão. 

A música “Só Louco” de Dorival Caymmi, composta em 1955, é um belo exemplo dessa dor de cotovelo, do sofrimento, da solidão, da tristeza de ter amado e de ter sofrido em vão, realmente "Só louco / Amou como eu amei / ... Oh! Insensato coração..., mas ...É preciso amar... "

Na voz de Gal Costa ganha mais suavidade, e talvez mais dor, e mais solidão, porém não causa mais tristeza e sim vontade de ouvir mais e mais esta voz doce sem sobressaltos e cantando em uma tessitura sem exageros de graves ou de agudos, praticamente trabalhando em 15 semitons. Gal emenda quase todas as frases deixando mais melosa a melodia. Na gravação original, em 1976, a introdução tem um acompanhamento que lembra um cool jazz, com piano, dedilhado suavemente, baixo e bateria bem marcada usando bem o aro da caixa clara. Tirando um pouco esta cara americana foi acrescentado, ainda na introdução, um saxofone e aos poucos foi aparecendo, também suavemente, violinos e por fim uma flauta, que no término da canção, faz um fade. 

Neste vídeo Dorival Caymmi acompanha quem deu uma alma diferente a sua composição:

Nesta canção vemos aplicado uma antiga regra do contraponto que diz que todo salto melódico deve ser compensado, exemplo disto, é o que acontece no trecho de "Só louco / amou como eu amei", onde entre a primeira e segunda notas há um intervalo de quinta justa passando a uma segunda maior na terceira nota, desenho semelhante é apresentado no segundo trecho, "amou como eu amei", onde depois do intervalo de quinta justa aparece uma segunda, seguida de outra segunda, depois uma terça e uma terça de novo. Este desenho melódico, que mais parece um mergulho no mar seguido de uma levantada de cabeça, só mudará no fim da música, "é preciso amar", onde o intervalo de quinta, que até aqui era descendente seguido de uma escala contínua ascendente, se inverte, ou seja, primeiro vem esta sequência de notas em escala ascendente e depois o salto de quinta, mudança que também é prevista como regra do contraponto. 

Para Gal Costa, esta última frase musical, embora termine em um intervalo de quinta, não chama muito a atenção pela suavidade de sua voz, já dita anteriormente, e que nos parece ser muito cômoda para ela. Esta canção é trabalhada dentro de um intervalo musical de nona, o que torna muito fácil sua execução, talvez um dos motivos que torna comum vermos muitas pessoas cantarolando esta música, que é, ao meu ver, uma das maiores obras de Dorival Caymmi.

Para saber mais sobre samba canção, veja neste blog a matéria "A Dor de Cotovelo no Samba Canção".

Disponível em: www.iphan.gov.br. Acessado em 23/08/2014.

Disponível em: http://pt.wikipedia.org. Acessado em 23/08/2014.

Disponível em: http://wwwmusica-classica.blogspot.com.br. Acessado em 23/08/2014.

Disponível em: http://www.superpartituras.com.br. Acessado em 16/12/2014.