Na segunda metade do século XIX, a monarquia Habsburgo, na Áustria, sofria com um levante nacionalista que pretendia se distanciar e se tornar independente do império. A saída para conter este levante foi a união com reino da Hungria que, tam...
Na segunda metade do século XIX, uma monarquia de Habsburgo, na Áustria, sofria com um levante nacionalista que pretendia se distanciar e se tornar independente do império. A saída para conter este levante foi a união com o reino da Hungria que, também governado pela família Habsburgo, em 1867 culminou com um pacto entre as duas nações dando início ao que ficou conhecido como império Austro-Húngaro. | ||
Este império dual dava igual poder as duas nações em assuntos de governo e em alguns assuntos de Estado, mas canalizava os interesses militares e a política externa ao imperador. E com boas leis e um bom exército, se tornado uma das maiores potências mundiais de sua época tendo um parque industrial que foi o quarto maior em construção de máquinas do mundo, o terceiro maior fabricante e exportador de eletrodomésticos, aparelhos elétricos industriais e equipamentos para usina de geração de energia. | ||
Assim como próspero, o Império Austro-Húngaro, também era populoso, pois tratava-se de um império multinacional abrangendo países, ou parte deles, que conhecemos hoje como Áustria, Bósnia e Herzegovina, Croácia, Eslováquia, Eslovênia, Itália, Montenegro, Polônia , Romênia, Sérvia, Ucrânia, República Tcheca e a própria Hungria. | ||
Foi neste império, em 1882 (16 de dezembro, Kecskemét, Hungria), que nasceu o compositor e musicólogo Zoltán Kodály, e onde viveu a realidade dos problemas de uma nação perdida entre tantas culturas e idiomas, além do próprio húngaro, tais como: alemão, checo, croata, eslavo, esloveno, iídiche, italiano, polonês, romani, romeno, rusyn, sérvio e ucraniano. | ||
Com o ideal de resgatar a música própria de sua etnia “magiar”, que muitas vezes se funde à Hungria, podemos definir Kodály como um músico nacionalista do século XX, e olhar a sua biografia podemos concluir que para isto se preparou desde os primeiros anos de vida. | ||
Filho de músicos, o talento despontou logo cedo em uma conturbada vida de muitas mudanças, uma vez que seu pai, ferroviário de ofício, era designado para várias localidades no território húngaro da época. A estas mudanças de endereço deve-se talvez o interesse pela música folclórica a ponto de imortalizar Galanta, uma das cidades onde morou na infância, em sua mais conhecida obra orquestral. Foi neste período que estudou piano, violino, viola, canto, e por último violoncelo, instrumento para qual, futuramente, em 1915, escreveu a perfeição da “Sonata para Violoncelo Solo, opus 8” que teve sua estreia apenas em 1918, após o término da Primeira Guerra Mundial. | ||
Nos últimos anos do Século XIX suas composições já eram executadas pela orquestra da escola onde estudava, e após concluir os estudos em gramática, grego e latim, muda-se para a cosmopolita Budapeste, onde irá cursar simultaneamente Línguas Modernas na Universidade de Budapeste, e Composição na Academia de Música Franz Liszt. | ||
Neste período de estudos observados que uma cultura própria de seu povo era preterida em relação às culturas mais populares e modernas, como por exemplo, a alemã. Incomodado, começou a direcionar seu trabalho para sanar essa falta. | ||
No início do Século XX, juntamente com Bela Bartók, inicia um trabalho de pesquisa e catalogação de canções folclóricas através de viagens pelo interior da Hungria, e observa que a figura melódica mais comuns nas canções folclóricas húngaras infantis era um terça menor descendente. Redige então a dissertação que lhe rendeu o doutorado em filosofia e linguística, com o título “A Estrutura Estrófica das Canções Folclóricas Húngaras”. | ||
Após obter o título de passa doutor um breve período em Paris, onde amplia seus conhecimentos estudando com Charles Widor, e tendo contato com Claude Debussy. Ao retornar a seu país torna-se titular das disciplinas de teoria e composição na Academia Liszt, instituição que passa a dirigir em 1945. | ||
A partir de 1910, tanto Kodály quanto Bartók, se propõe um compor peça baseada no rico folclore húngaro, e pela qualidade de suas obras tornam-se conhecidos também fora da Hungria. | ||
Em 1918, com a derrota na Primeira Guerra Mundial, começa a se desfazer do Império Austro-Húngaro, para favorecer o crescimento de iniciativas de valorização nacionalistas. Em 1923, no aniversário de 50 anos da união das cidades de Buda e Pest, Kodály se consagra mundialmente com uma versão musical do Salmo 55, totalmente adaptado a uma cultura húngara: “Psalmus Hungaricus” . | ||
Por volta de 1925-1930, assustado com a baixa qualidade musical das crianças húngaras, começa a trabalhar práticas pedagógicas que, a contragosto do próprio autor, será futuramente chamado “Método Kodály”. | ||
Aproveitando-se do prestígio que já gozava, começa a expor seus pensamentos educacionais em palestras, artigos e relatórios na imprensa especializada. Parte para a composição de exercícios de canto para crianças, sempre se utilizando da cultura popular magiar. | ||
Kodály não gostava que dissessem que este era um método dele, pois o que ele era criar exercícios musicais sobre conceitos educacionais já anteriores por vários músicos. As técnicas eram empregadas para facilitar a educação musical, e aplicada ao canto. | ||
Para tornar visual a altura das notas cantadas, ele utiliza o movimento de mãos, “Tônica Sol-Fa”, já trabalhados pelo reverendo inglês John Curwen (1816-1880), que por sua vez se baseou na mão Guidoniana, retirada de desenhos a Guido D'Arezzo (992-1050). | ||
Para expressar a duração rítmica das notas adaptadas o conceito de “Sílabas Rítmicas”, do teórico da música e professor francês Émile Chevé (1804-1864), e os “Movimentos Rítmicos” foram baseados na “Eurritmia” doço Émile Jaques-Dalc suíroze ( 1865-1950). | ||
Com um vasto trabalho de composição, sempre elevando a cultura húngara, compôs óperas, suítes, danças orquestrais, concertos para orquestra, sinfonia e produção coral, tão rico repertório o favoreceu no triste período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). | ||
Condenado a se divorciar de sua esposa, Emma Sándor (1863-1958), que era judia, se recusou, e ainda enfrentou os nazistas ao dar abrigo e ajudar na fuga de muitos recolhidos, atitudes estas que o levaram a prisão. Aqui sua fama lhe rendeu a liberdade, pois o tumulto ao redor da cadeia onde se encontrava foi o tamanho, que os nazistas não oferecem outra opção a não ser solta-lo. | ||
Em 1945 torna-se o presidente do Conselho de Artes da Hungria e, agora influente, a partir de 1950 espalha pelo país escolas primárias com um bom conteúdo curricular musical. É neste período que sua coleção de canções folclóricas, embora publicado há algumas décadas, ganha maior publicidade rendendo-lhe a presidência do Conselho Internacional de Música Folclórica e a presidência honorária da Sociedade Internacional de Educação Musical. | ||
Em 1958 morre sua primeira mulher, e no ano seguinte, casa-se com Sarolta Péczely, ao lado de quem vem a falecer em 06 de março de 1967, em Budapeste, vítima de um ataque cardíaco. | ||
REFERÊNCIAS: | ||