Mundial de Clubes com 32 times é uma excelente notícia para a América do Sul
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Mundial de Clubes com 32 times é uma excelente notícia para a América do Sul

Quando Gianni Infantino, Presidente da FIFA, anunciou o novo Mundial de Clubes com 32 times, programado para acontecer em 2025, houve no Twitter brasileiro uma chuva de reclamações. 

Ismar Junior
6 min
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Reprodução
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Quando Gianni Infantino, Presidente da FIFA, anunciou o novo Mundial de Clubes com 32 times, programado para acontecer em 2025, houve no Twitter brasileiro uma chuva de reclamações. 

Alguns diziam que nenhum clube Brasileiro teria chances de ganhar a competição, outros falavam que o torneio ficaria inchado e sem apelo. Há quem diga que vai prejudicar o calendário, entre outras pérolas.

Confesso que tenho dificuldades de entender a reclamação dos torcedores sobre a possibilidade de verem seus times disputando um torneio desse nível. Estamos falando de uma competição:

  • internacional e organizada pela FIFA;
  • em datas exclusivas, sem concorrência de competições europeias na mesma época;
  • que colocará as equipes sul-americanas na mesma vitrine que 12 grandes europeus do primeiro escalão.

Só há benefícios para nossos times!

Os europeus têm motivos para torcerem o nariz?

Eu consigo entender a resistência por parte dos europeus com esse novo Mundial, afinal, eles disputam grandes competições, de audiência global, tendo suas marcas expostas no mundo todo a cada semana, seja nas ligas nacionais ou na Champions. 

Além disso, o campeonato acontecerá no fim da temporada europeia, época em que os grandes clubes atingem seu ápice na reta final das ligas e nos torneios continentais e precisam do descanso das férias. Há outros motivos de nível comercial, como a concorrência entre FIFA e UEFA.

Agora, torcedores sul-americanos torcendo o nariz me parece falta de uma análise mais profunda sobre o tema.

Por que é importante entender o contexto de nossos clubes?

Quer um exemplo? A Seleção Brasileira é top mundial, temos cinco copas, jogadores de primeira prateleira na Europa, temos nossas lendas, como Pelé e Ronaldo, e um respeito internacional pela amarelinha. 

Esse alto status no futebol de seleções nos dá a impressão que uma Copa do Mundo com 48 seleções seja algo ruim, pois tende a baixar o nível e a competitividade nas primeiras fases. 

Porém, para os africanos, asiáticos, e países menos tradicionais das Américas, essas vagas extras são uma benção. É uma oportunidade que eles têm de disputar a maior competição de futebol do mundo, de estarem entre os melhores, valorizando suas camisas, jogadores e histórias.

Migrando do contexto de seleções para o de clubes

Precisamos fazer um exercício de humildade. Há vários clubes na América do Sul que são gigantes em seus contextos: Flamengo, Boca Juniors, River Plate, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Peñarol, Olímpia, entre outros. 

Estamos falando de potências em suas ligas nacionais e na Libertadores, mas, se levarmos para o contexto global, não têm o mesmo status. Não há nenhum torneio na América do Sul que se iguale aos principais torneios europeus em alcance global. 

O nosso principal campeonato, a Libertadores, tem pouquíssimo apelo internacional. Além do desinteresse natural, os jogos acontecem à noite — madrugada na Europa, África e Ásia — e a final acontece em um final de semana em que as principais competições europeias estão bombando

A Copa do Mundo de clubes, no formato proposto por Infantino, seria fora da temporada europeia, ou seja, não há concorrência com outras competições de mesmo nível. Será a única grande competição a nível internacional que estará acontecendo no período e os clubes sul-americanos estarão presentes. 

É a oportunidade para que nossos times se posicionem como marcas globais, atraindo jogadores, aumentando o valor de seus patrocínios na camisa, de seus produtos, e conquistando fãs mundo afora. Um patamar que dificilmente alcançarão disputando estaduais durante 4 meses e jogando torneios de interesse regional, como Brasileirão e Libertadores.

Como os clubes valorizarão suas marcas sem conquistar o título?

Você certamente conhece times como:

  • Wolverhampton;
  • Sampdoria;
  • Brighton;
  • Leipzig;
  • Basel;
  • Brugge;
  • Young Boys;
  • Braga;
  • Mallorca.

Poderia citar vários outros. 

São clubes que estão longe de serem potências, primeira prateleira, ou times grandes. Mas, por estarem inseridos em campeonatos como Premier League, Bundesliga, Serie A, La Liga, Champions League e Europa League, acabam se tornando conhecidos internacionalmente

Dificilmente paramos um final de semana para ver o desempenho do Basel no Suição, mas certamente pararíamos para assistir um jogo dessa equipe contra o Real Madrid, Manchester City ou Liverpool. 

Nesse jogo de Champions, você prestaria atenção no uniforme do Basel, nos jogadores, na torcida, no estádio, ficaria sabendo um pouco sobre sua história. Você estaria consumindo o Basel por tabela e se acostumaria com essa marca

Como seria esse contexto com as camisas pesadas das Américas?

A Champions League tem 32 clubes e apresenta times como Brugge, Basel, Young Boys, Braga, Sheriff, entre outros do mesmo tamanho. Clubes que aproveitam a vitrine internacional e, em seus “15 minutos de fama”, se tornam conhecidos mundialmente por confrontarem os gigantes europeus. 

Se substituíssemos esses clubes pequenos da Europa pelos grandes clubes das Américas, como Tigres, Monterrey, Flamengo, Boca Juniors, Palmeiras, River Plate etc, o efeito de exposição seria o mesmo, em um torneio com camisas bem mais pesadas.

Os clubes das Américas teriam os mesmos benefícios que os clubes médios e pequenos da europa, ou seja, a vitrine pesada e os confrontos contra os gigantes. O mundo veria jogos dos nossos clubes com interesse e reconheceriam nossos uniformes, jogadores e história. 

Nossas camisas ficariam mais caras — em termos de publicidade — as redes sociais dos clubes receberiam mais seguidores, os clubes se tornariam mais atrativos para jogadores de alto nível, entre outros benefícios.

Mas as chances de ganhar são mínimas

Vamos lá, em 17 edições do Mundial de Clubes no formato atual, apenas 3 foram conquistadas por times sul-americanos — todos brasileiros. As outras 14 foram conquistadas por europeus.  As chances de um clube de nosso continente ganhar já são mínimas e isso diminui ainda mais quando lembramos que alguns times sequer chegaram à final.

No Brasil, infelizmente, temos a cultura de valorizar apenas o primeiro colocado, sendo o segundo o primeiro dos últimos. Precisamos lembrar que, independentemente de qual seja o campeonato, só um time será campeão — mas as demais equipes colhem os frutos de acordo com seu potencial. 

Por exemplo, vários times que se classificam para a Libertadores têm chances muito pequenas de conquistar a competição. Isso não impede que eles colham os frutos de estarem na principal competição sul-americana. Eles ganham mais dinheiro, suas camisas ficam mais valiosas, passam a ser lembrados quando enfrentam grandes equipes e atraem jogadores pela simples possibilidade de jogar a Libertadores.

Se a gente tiver a humildade para entendermos o real posicionamento de nossos clubes no cenário internacional, veremos que há muitos benefícios de estar na mesma prateleira que Liverpool, Manchester City, Real Madrid, Bayern, Barcelona, PSG, Juventus, entre outros. A América do Sul tem camisas com o potencial de chegar no nível global. O Mundial com 12 europeus pode ser essa alavanca para subirmos de nível.