Em meio a uma sociedade informatizada na qual tudo acontece em uma velocidade muito rápida e pessoas são cobradas cada vez mais (desde muito cedo), é importante se resguardar mentalmente e se cercar de hábitos que tenham como objetivo contribuir para um equilíbrio entre o corpo e a alma.

O termo “mindfulness” ganhou a internet nos últimos tempos e promete ajudar nessa tarefa, porém ainda existem ideias equivocadas e não contextualizadas sobre a prática que acabam por gerar confusão na cabeça de muita gente.

Sabendo disso, faremos um passo a passo a respeito dos principais pontos que uma pessoa deve saber sobre mindfulness e mostrar como ele pode ser extremamente benéfico. Vamos lá?

O que é mindfulness?

O termo pode até parecer complicado inicialmente, mas, ao traduzi-lo para o português, fica mais fácil compreender: ele é chamado por aqui de “atenção plena”.

Ele consiste em uma prática de meditação, mas não se parece com os estereótipos que são frequentemente criados ao pensar em técnicas do tipo: você não vai precisar se cercar de velas e incensos, fechar os olhos e sentar de pernas cruzadas.

Muito pelo contrário! A prática do mindfulness consiste em otimizar atividades que já são feitas diariamente por uma pessoa normal.

Por exemplo: pense na sua rotina ao acordar. Você abre os olhos, dá aquela enroladinha ainda na cama, pega o celular, escova os dentes, toma banho, se alimenta, troca de roupa… Não importa como seja a sua manhã, posso afirmar um pequeno detalhe que é muito importante: a maioria dessas atividades é realizada de maneira quase que automática pelo seu cérebro.

Vá além do período matinal e pense nas outras inúmeras tarefas que se transformaram em práticas parcial ou completamente automáticas na sua rotina.

Eu, por exemplo, ao me lembrar da semana passada, não me recordo de várias coisas que fiz. Várias delas foram importantes (como dirigir em direção a algum compromisso), mas meu cérebro não deu a atenção necessária para elas.

É estranho como a gente aprende a andar por aí no automático, como se a vida fosse uma esteira rolante em que só precisamos não tropeçar. Quando dei por mim, tinha passado dias inteiros sem registrar quase nada de diferente. Num piscar de olhos, as horas desaparecem e parece que nem vivi o que fiz.

O curioso é que, às vezes, basta uma simples pausa para notar que estamos nesse modo robótico. Nunca fui muito fã dessa ideia de “viver como se cada momento fosse o último” porque soa meio dramática demais – mas se desligar do piloto automático já muda um tanto a perspectiva. Tentar notar detalhes bobos, tipo como a luz da manhã entra pela janela ou, sei lá, o cheiro de café, pode fazer um dia banal ganhar cor. Experimenta, nem que seja só por curiosidade.

Viver no automático, quando feito por muito tempo e de forma muito frequente, tem implicações diretas na mente. Ficamos mais estressados e ansiosos e é possível chegar a desenvolver até mesmo patologias como transtorno de ansiedade, depressão e burnout.

O conceito de mindfulness veio, então, para tentar acabar com a “robotização” do ser humano: ao realizar qualquer atividade no seu dia, foque plenamente naquilo que está sendo feito e elimine pensamentos exteriores que venham a surgir.

Pense na escovação dos dentes. Às segundas-feiras, por exemplo, os momentos de escovação são os piores para mim, pois é neles que minha cabeça começa a pensar e planejar todas as tarefas da semana.

Dessa forma, começo a me preocupar antecipadamente por um montão de coisas que provavelmente não me afetarão tanto quanto a minha cabeça ansiosa diz naquele momento.

Com a atenção plena, então, eu me livro de todo e qualquer pensamento que não envolva a escovação dos dentes. Sinto o gosto da pasta em minha boca, escuto o barulho provocado ao bochechar, sinto o cheiro do banheiro, o tato, enfim, tudo o que envolva aquele momento específico.

Em momentos de crise, também é possível usar o mindfulness para reduzir quadros de ansiedade e nervosismo extremos. Pense no trânsito do dia a dia em plena sexta-feira.

Você quer ir para casa e a avenida mais congestionada da sua cidade parece não colaborar para o tão sonhado descanso. Mesmo que você não seja alguém que lida com a ansiedade, existem grandes chances de que o momento te afete negativamente, afinal, duvido que alguém seja fã de trânsito!

Em vez de pensar em todas as implicações negativas que aquele momento vai causar na sua rotina, com o mindfulness você vai focar naquele momento de forma racional e pensar que não há nada que possa ser feito naquele momento. Vai observar a cidade pela janela, prestar atenção na música que está tocando, respirar fundo e pensar de forma racional: e se tiver ocorrido um acidente? Algo sério pode estar acontecendo!

Preciso ser religioso para praticar a atenção plena?

Uma das principais dúvidas das pessoas que buscam saber mais sobre o mindfulness está diretamente relacionada com práticas religiosas, já que a atenção plena pode ser considerada como um tipo de meditação — que tem raízes em religiões como o budismo.

Como adiantamos no início do post, não é preciso praticar cursos ou estar envolvido em algum grupo religioso.

Às vezes, rola aquele receio, tipo: “mas isso é coisa de guru ou de quem medita há décadas?” Sinceramente? Não precisa disso tudo. Inclusive, tem pesquisas acadêmicas — quem quiser pode fuçar o PubMed ou sites parecidos — mostrando eficácia do mindfulness em contextos laicos, desde escolas até hospitais (Brown, K.W. & Ryan, R.M., 2003; se quiser um ponto de partida). É lógico que, sem boas referências, qualquer prática pode perder o sentido, mas não dá para negar que atenção plena tem se mostrado cada vez mais universal, até para quem não é do ramo “espiritual”.

O jeito mais prático de começar, caso você tenha esse bloqueio com o lado religioso, é tratar mindfulness quase como higiene mental. Não fica pensando em iluminação, carma, nada do tipo. Concentre-se no exercício de perceber onde estão seus pensamentos e trazê-los, gentilmente, para o presente. Isso já é mais difícil do que parece, aliás. E ninguém precisa de ritual para tentar — só começar do jeito que der. Meio desajeitado no início, mas é assim mesmo.

É óbvio que ler sobre o assunto, reconhecer a importância dos fundadores e conhecer a essência do mindfulness é crucial para definir a qualidade e a eficácia da prática, porém, ela é muito recomendada também para pessoas que estão em alguma crise que envolva transtornos mentais e não sabem muito bem como agir para sair daquela situação.

Quais são os principais benefícios da prática?

Ao praticar o mindfulness com seriedade e frequência, é possível perceber os benefícios de maneira muito rápida. Separamos alguns dos principais abaixo!

Aumento na produtividade

Posso afirmar com grandes chances de êxito que, pelo menos uma vez na vida, você já se deparou com o famoso “branco” na hora daquele freela importante ou ao executar alguma tarefa no trabalho.

Quando trabalhamos a atenção plena do cérebro, a produtividade aumenta em níveis altíssimos, já que todo o foco necessário para realizar alguma ação será depositado nela até que ela seja finalizada. O famoso “modo zumbi” vai embora rapidinho!

Maior empatia e melhor relacionamento com o próximo

Muita gente fala sobre como as relações na atualidade estão cada vez mais enfraquecidas e rasas. Na minha opinião, a falta de empatia é um dos principais fatores que danificam o comportamento humano em sociedade. Ao praticar a atenção plena, você contribuirá um pouquinho para melhorar um fenômeno tão triste.

Pense não apenas no caso do trânsito que já foi dado anteriormente, mas em outros momentos de estresse ou negatividade em que outras pessoas possam estar envolvidas. Quando focamos no momento — e apenas nele —, tirando implicações sociais do caminho, trabalhamos a empatia e melhoramos nosso relacionamento com o próximo.

Ilustro isso com um exemplo muito comum: ligações em call centers. Quantas vezes você já ligou ou ficou sabendo de alguém que recorreu ao ramal de algum serviço contratado e passou raiva? Xingou o atendente? Cometeu alguma falta de educação (mesmo que sem maldade)?

Pois é! Ao trabalhar a atenção plena, posso garantir que os níveis de estresse ao realizar serviços desgastantes se reduzem muito e, em consequência disso, a relação com as pessoas que estão envolvidas naquele momento junto com você melhora consideravelmente.

Com isso, a rotina se torna mais leve e a vida mais gostosa.

Autoconhecimento

A falta de autoconhecimento pode fazer com que uma pessoa viva uma vida extremamente negativa, sem rumo e com poucos objetivos, desejos e sonhos bem traçados. Ninguém merece viver na mediocridade, não é mesmo?

A atenção plena, então, entra como um ótimo dispositivo para melhorar a sua relação consigo próprio, já que, nos momentos de foco, você reconhecerá seus próprios gostos, necessidades e, acima de tudo, entenderá o motivo de insatisfação e negatividade ao realizar algumas tarefas ou tomar certas atitudes.

Não importa em qual momento do dia ou como você trabalhará a sua própria atenção plena, o importante é ter paciência e se render o mínimo possível ao que te deixa para baixo e reduz a sua energia.

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