Eu não precisava dizer isso, mas vá lá: eu sou muito, mas muito fã mesmo de Mad Men. Para mim, série mais perfeita não há. Os personagens são bem construídos, as cenas são tão lindas que merecem um print a cada segundo, os diálogos são de tamanha sagacidade que me faz desejar ter pensado neles primeiro.
Mas ver série é sempre esse momento em que você quer relaxar e pensar o mínimo possível em trabalho, não é mesmo? Sim e não.
Mad Men me ajudou a ter ideias fora da caixa em relação a uma das datas comemorativas mais batidas do calendário: o Dia da Mulher.
Criar conteúdo anualmente sobre essa data não é brincadeira.
Para quem não conhece, Mad Men é uma série que se passa no fim dos anos 50 e conta a história de vários personagens, mas o principal deles é Don Draper, um publicitário de sucesso que não mede esforços para ganhar uma conta e para surpreender o cliente.
É, ele é um pouco canalha, sim. Porém, a série como um todo tem muito a ensinar sobre criatividade e sobre como construir e vender uma boa ideia.
Num dia de pouca inspiração e em que eu tinha de escrever um post para uma marca de beleza sobre o Dia da Mulher, Don Drapper me ajudou a não ser clichê e em não apostar nas ideias óbvias.
Ajeite-se na cadeira e segure o whisky, digo, o café, que eu vou explicar.
Mesmo quando a tarefa é óbvia, você pode ousar pensar em algo novo
Lá estava eu, pensando o que poderia dizer que fosse marcante e que não soasse como o velho “seja a beleza que você quer para o mundo”.
Uma das dificuldades de se escrever para uma marca de beleza é não recorrer a estereótipos que possam diminuir a imagem da mulher, em vez de enaltecê-la. Outra, é não usar (pelo menos não o tempo todo) frases evasivas, que sejam muito genéricas sobre a área de atuação do cliente, no caso, a área de beleza.
Como mulher, posso dizer que estamos um pouco enjoadas de flores (dos chocolates não, podem continuar mandando hahaha) e de frases feitas. Por isso, é bem difícil a gente se interessar de verdade por uma marca só pelos posts de Dia da Mulher, porque são sempre as mesmas ideias vazias.
Se eu dissesse tudo isso a Don Drapper, ele provavelmente diria, “se você não gosta do que é dito, mude de assunto”. E foi exatamente o que eu fiz.
Quando a ideia alheia não funciona, use a sua
Nunca vou me esquecer de um episódio de Mad Men em que a equipe estava quebrando a cabeça sobre como vender um produto de beleza. Havia duas opções:
- mostrar que o produto de beleza deixaria a mulher tão bonita, que em breve conseguiria um casamento (lembre-se de que se trata de uma série do fim dos anos 50…);
- mostrar que o produto poderia fazer parte de um momento em que a mulher cuidaria de si mesma (o que é bem mais progressista, não?).
Para chegar a uma conclusão, os personagens recorreram a uma pesquisa ao consumidor: colocaram várias mulheres da agência em uma sala e iniciou-se o bate-papo.
Porém, no meio da conversa, uma dessas mulheres, que estava com a autoestima ferida, começou a chorar e a contar como não se sentia bonita e coisas do tipo.
Às vezes, essas cenas de pesquisa parecem até roteirizadas demais, mas a verdade é que já vi equipes de marketing se perderem em “grupos focais” assim na vida real – aquela vontade de agradar todos e, ironicamente, não chegar a lugar nenhum. O ambiente, se você parar pra pensar, fica carregado de expectativas e julgamentos velados, o que, claro, muda completamente o resultado. No fim, quase sempre alguém fala uma besteira, outra pessoa concorda só por impulso, e pronto: todo mundo segue achando que descobriu a fórmula mágica para vender batom.
Nesse ponto, Mad Men não exagera tanto. Aliás, provoca um incômodo sincero – talvez até porque na vida lá fora também existe essa tendência de escutar o que já se espera ouvir. Ficamos repetindo ideias que parecem consenso, mas que no fundo são só cômodas, e esquecemos de fazer perguntas realmente honestas ou de tentar enxergar o que não está evidente. É fácil cair no automático; difícil é ter paciência (e coragem) pra puxar o fio certo e cutucar o vespeiro quando o tempo aperta.
Quando ela desabafou, as demais se sentiram impelidas a testemunhar sobre seus relacionamentos fracassados e o resultado da pesquisa foi o equívoco de que as mulheres querem mesmo é casar.
Isso mostra que nem sempre o mais importante é criar baseando-se somente em pesquisas de opinião pública. Elas podem ser falhas e não corresponder especificamente à realidade de seu cliente.
Não estou dizendo que não se deva dar a devida atenção às pesquisas. Mas também é importante entender qual é a imagem que seu cliente gostaria de passar e como fazer com que essa imagem se destaque entre as demais.
Nota do editor:
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Quando tudo mais der errado, Mad Men ensina: sente e escreva
Enquanto me desesperava com o prazo e com a possibilidade de recorrer a ideias vazias e que não conseguiriam engajar o público do meu cliente, lembrei de uma ideia que Don Drapper deu à personagem Peggy para os momentos de falta de criatividade: sente-se e escreva qualquer coisa que vier à cabeça. E foi o que eu fiz.
Abri um documento em branco no computador e sem pensar escrevi “transformação”, uma palavra que uso bastante para essa marca em questão..
Escrevi, escrevi e escrevi. Escrevi sobre o quanto a ideia que temos de beleza se transformou ao longo dos anos e o quanto isso é importante para nós mulheres. Já que, hoje, temos maior autonomia para fazer escolhas que sejam mais agradáveis para nós, mesmo com todos os padrões que existem sobre o que é a beleza.
Quando terminei, estava diante de mim um verdadeiro manifesto da marca sobre a liberdade de escolha da mulher e o quanto isso ajuda a transformar o mundo em algo melhor. Mostrei o quanto a marca apoia essas escolhas e que, para isso, cria produtos que possibilitem escolhas conscientes.
Foi o post mais bonito que eu já tinha criado. Só conseguia me orgulhar 🙂
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Bruna Venancio
Redatora freelancer e cantora de Jazz e Blues.

