16 de julho de 2003
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16 de julho de 2003

Aos 17 anos de idade, um garoto tomou uma decisão que mudou sua vida.

Bruno Massami
4 min
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Aos 17 anos de idade, um garoto tomou uma decisão que mudou sua vida.

Sem saber o que esperava, o embarque no Aeroporto de Guarulhos. 

Primeira viagem de avião na vida. 

Destino: Tóquio, Japão. Aeroporto de Narita. Com um "stop over" em Nova York. (Quem diria aos 17 anos, este foi aos Estados Unidos pela primeira vez)

Um em avião da Varig, que talvez ninguém hoje iria querer viajar, 9 horas de trecho sem entretenimento de bordo, apenas um fone de ouvido que não funcionava. 

Eu e meu medo de voar. 

Este medo esteve comigo durante pelo menos 15 anos. (Como eu perdi tantas oportunidades na vida por causa dele...)

Após esta primeira horrível experiência, lá estava eu nos Estados Unidos. 

A primeira impressão foi horrível. No imenso aeroporto JFK, um transfer que levou 4 horas e como não sabia praticamente uma vírgula de inglês, estávamos vulneráveis a apenas um tradutor que tinha de cuidar de umas 20 pessoas que tinham o mesmo destino. 

Pessoas estressadas, mal educadas e que nos olhavam de forma diferente. Pelo simples fato de ser estrangeiro.

Hoje, eu sei que tudo isso era por culpa de nós mesmos que não damos valor a aprender a se comunicar.

E com isso, criamos preconceitos e julgamentos injustos pois ambos não dão oportunidade e paciência para conhecer outras pessoas melhor. 

No avião de NYC para Narita, o primeiro choque de realidade.

Um baita avião da ANA (Air Nippon Airways), uma das maiores aérea do Japão até hoje, já dando com os dois pés na porta do que iria conhecer no meu futuro.

Chegando em um início de uma chuvosa noite no Japão, mais umas 2 horas de carro para um alojamento. 

Com alguns dólares no bolso, sem emprego ainda, apenas com uma promessa de um trabalho, sem saber falar japonês ou inglês, sem meus familiares, a promessa de um trabalho em uma dos trabalhos mais pesados do país em Shizuoka.

Este que vos escreve, foi parar em um estado vizinho da região atingida pelo Tsunami e violento terremoto de 2011, em uma cidade no meio do nada, escondida entre as montanhas com menos de 5 mil habitantes. 

Quem dera ter a experiência de 18 anos de vida neste país. Mas a vida não é assim.

E os desafios eram inúmeros.

Desde fazer uma compra no supermercado até conseguir entrar em contato com a família para dizer que chegou bem. 

Quem dera se informar sobre as notícias no mundo e no país que amamos. 

Em um tempo onde não havia smartphone e a internet estava começando a engatinhar, a solução era gastar 150, 170 reais por 29 minutos de conversa em um telefone público para dizer a sua mãe, sua irmã que mesmo longe, estava bem e que a amava. 

A cada duas semanas, um caminhão com produtos do Brasil aparecia na cidade e através de um jornal que existia aqui na época, alguma notícia do seu país, quem sabe me informar se meu Coringão estava bem no campeonato.

Em 2003, eu comecei a trabalhar em uma fábrica de celulares, ganhando cerca de 100 dólares por dia de trabalho precisando produzir 12000 peças diariamente. 

O que eu não sabia é que aquela região é uma das mais afetadas no planeta em terremotos. 

Em uma casa morando com outras 7 pessoas, cheia de rachaduras, tive a maravilhosa experiência de pegar um terremoto de 5 graus enquanto tomava banho para trabalhar. 

Esta é apenas uma das experiências que vivi aqui.

Com o tempo, quem sabe, possa vir compartilhar se você tiver interesse de saber...

Muita coisa mudou de lá para cá. 

Mas a única certeza que tenho é que o aprendizado que carrego, nenhum dinheiro, fama ou qualquer outra coisa consegue adquirir.