Num dos mais belos trechos das Reflexões sobre a Revolução na França, Edmund Burke usou o termo “imaginação moral” para explicar, por meio de uma metáfora poética, como a destruição dos valores e costumes civilizados promovida pelos revolucionários franceses foi fundamentada em ideias abstratas, corruptas, falaciosas, fraudulentas. | ||
Burke criticou a natureza imoral e destruidora da revolução, que, segundo ele, pretendia arrancar “toda a roupagem decente da vida” que era fornecida e protegida pelo “guarda-roupa da imaginação moral”. Durante séculos, o espírito religioso e o sistema de costumes criaram, disseminaram, protegeram e foram protegidos por essa imaginação moral. | ||
Partindo da expressão de Burke, Russell Kirk elaborou o seu próprio conceito de imaginação moral como sendo aquilo que permite “discernir acerca do que a pessoa humana pode ser e apreender, por alegorias, a correta ordem da alma e a justa ordem da sociedade, diferenciando o verdadeiro e o falso, o bem e o mal, o belo e o feio, além de oferecer uma correta visão da lei natural e da natureza humana”. | ||
A imaginação moral, segundo Kirk, “nos informa sobre a dignidade da natureza humana e nos instrui acerca do fato de que somos mais do que primatas desnudos”. E também nos permite apreender “a ordem correta na alma e a ordem correta na comunidade política”. Se não temos imaginação moral, somos expulsos “do mundo da razão, da ordem, da paz, da virtude, e da expiação fecunda, num mundo oposto à folia, ao vício, à confusão e à dor ineficaz”. | ||
A imaginação moral tem, portanto, uma função nobre e concreta na vida pessoal, social e política. Não é um objeto de luxo intelectual para ser exibido por aí. E percebo cada dia mais a importância da imaginação moral na vida diária quando vejo tanta gente se iludindo e se deixando enganar por influenciadores, comentaristas, políticos, sendo presas fáceis de pessoas sem virtudes que não farão outra coisa senão reduzir o outro à sua própria miséria moral, ética, espiritual. | ||
Prestem atenção: sem a imaginação moral, não temos recursos para nos proteger dos nossos próprios vícios e dos vícios dos enganadores que querem nos fazer de tolos. |