A Presença de Anitta e a Miséria da Política

A importância atribuída pela imprensa e por parte da sociedade ao posicionamento político de artistas e influenciadores é um negócio inacreditável. E a imprensa publicar matérias sucessivas e acríticas sobre o que figuras como Anitta e Felipe Neto acham e em quem decidiram votar é algo, para mim, chocante.

O aspecto que merecia atenção e discussão não é a opinião e votos dessas pessoas, mas se a posição deles têm ou não poder para influenciar a opção de voto de uma parcela de seus seguidores e o que isso significa para a política e para o país.

Inegavelmente, Anitta sabe como usar as redes sociais para engajar o seu público. Mas será que esse seu talento específico também é capaz de persuadir politicamente uma ampla parcela dos seus seguidores?

É possível que uma parte de seus fãs siga a sua indicação de voto nessa eleição e outra parte não dê a mínima para o que ela pensa ou em quem ela vai votar. Mas imaginemos o numeroso público adolescente que tem em Anitta (ou em outro artista) uma referência de conduta (o que já seria uma desgraça) e que seja politicamente influenciável para as próximas eleições.

Nesse sentido, será que, hoje, esses artistas e influenciadores com milhões de seguidores conseguem ter uma influência maior do que a família, escola, universidade, imprensa?

Outra discussão que considero importante é a mudança que pode acontecer na política formal a partir da participação ativa e bem-sucedida de artistas e influenciadores que apoiam políticos.

Se, por exemplo, a campanha de Lula aceitar a ajuda de Anitta para montar a estratégia das redes sociais e a participação ativa dela e de outros nessa eleição for bem-sucedida para conquistar votos poderemos ver uma mudança profunda nas campanhas a partir das próximas eleições.

Haverá, portanto, grande incentivo para que mais artistas e influenciadores se engajem politicamente e arrastem os seus seguidores. E para que mais políticos tentem conquistar apoio de artistas e influenciadores para também ter apoio dos seguidores.

Ou seja, o período eleitoral poderá ser ainda mais infernal com consequências sociais e políticas negativas inestimáveis. É sempre possível piorar o que já é muito ruim.