Bebel Gilberto e o "Brasil" que não é o Brasil
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Bebel Gilberto e o "Brasil" que não é o Brasil

Esse episódio da cantora Bebel Gilberto sambar sobre a bandeira do Brasil durante um show em São Francisco, nos Estados Unidos, revela um problema maior e mais profundo do que o ato em si: a confusão que muitos fazem entre o país, os polí...

Bruno Garschagen
2 min
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Esse episódio da cantora Bebel Gilberto sambar sobre a bandeira do Brasil durante um show em São Francisco, nos Estados Unidos, revela um problema maior e mais profundo do que o ato em si: a confusão que muitos fazem entre o país, os políticos, o governo, as instituições políticas, como se o Brasil pudesse ser reduzido aos políticos, ao governo, às instituições políticas.

Temos, então, esse hábito terrível de reduzir o nosso país, o nosso povo, a nossa história, cultura, tradições, hábitos, modos, ética, moral aos políticos, ao governo, às instituições políticas.

O ato estúpido da cantora se enquadra nesse problema: para ela, a bandeira simbolizava o presidente, que era a representação total, absoluta e inquestionável do Brasil. Esse reducionismo que hoje recai sobre Bolsonaro já recaiu, em graus distintos, sobre Dilma, Lula, FHC, Itamar, Collor, Sarney.

Essa é, claro, uma maneira torta de ver o país. O seu efeito colateral mais visível é transformar cada crise política específica em crise da nação, crise dos valores, na confirmação da tese de que o “Brasil não tem jeito”.

A partir daí vemos todo tipo de diagnóstico e prognóstico apocalíptico e coletivista sobre o fatalismo de “ser brasileiro”, como se cada um de nós fosse portador de uma doença moral, ética e espiritual incurável. Assim, nosso destino seria o de sempre pecar sem qualquer possibilidade de remissão.

Repito: Bebel Gilberto agiu de forma estúpida justamente porque, para ela naquele rompante, a bandeira do Brasil era única e exclusivamente a representação de Bolsonaro e não um símbolo nacional.

Essa confusão tanto é verdadeira que, logo depois de sambar sobre a bandeira, a cantora desculpou-se com o público abraçada à mesma bandeira. Muita gente não viu essa parte porque só viralizou o trecho do ato estúpido. O vídeo inteiro está no perfil dela no Instagram.

Mesmo depois da celeuma, a cantora veio a público não para desculpar-se, mas para justificar-se: o seu ato de ódio só aconteceu, segundo ela, como reação legítima contra os “radicais do ódio” da “extrema-direita”.

Bebel Gilberto só não se deu conta de que ela própria é, de fato, uma “radical do ódio” no palco e em plena atuação.