Vida Intelectual

Fui um leitor tardio. Iniciei ali pelos 20 anos. Foi quando descobri que gostava de ler e passei a fazê-lo diariamente. Essa descoberta logo mostrou que havia tanto a ler que eu precisava organizar a rotina para cumprir a vocação recém-descoberta.

Não era fácil, pois eu trabalhava durante o dia e fazia faculdade de Direito à noite. Para aproveitar cada tempo disponível, eu andava sempre com um livro à mão. Comecei a treinar métodos de leitura dinâmica e a ler enquanto andava para o trabalho e para a faculdade. Lia durante algumas aulas desinteressantes.

Li Ulisses, de James Joyce, na sala durante o quinto ano de faculdade. Meus fins de semanas eram dedicados à leitura (prosa e poesia, filosofia, crítica literária, Direito). Grifar e anotar no livro sempre me ajudaram imenso. Num caderno, escrevo observações, impressões, dúvidas. Depois, reescrevo frases ou parágrafos para ver como aqueles trechos que achei notáveis soariam com a minha escrita. É um diálogo particular que estabeleço com o escritor para tentar entrar em seu universo e extrair dessa conversação aquilo que me interessa. A partir daí, passo a dialogar com os seus críticos e assim coloco mais uma fundação na construção do conhecimento.

A vida intelectual exige treino, dedicação, sacrifício, humildade, como qualquer instrumento musical, como qualquer esporte. E nunca a dissociei dos meus demais interesses, dos esportes que sempre pratiquei e da atividade profissional. Por isso digo que sou empreendedor intelectual.A partir da minha experiência, a dica que dou é que você escolha aquilo que mais interessa, descubra a forma mais adequada para ler e aprender, dedique-se com afinco. Se essa é a sua vocação, afirmo sem pestanejar: vale muito a pena.