O que está por trás dessa capa?

Quem ficou surpreso ou indignado com a entrevista de capa da revista TIME com Lula é porque não conhece a TIME e ignora o movimento internacional que vem sendo articulado nos últimos dois anos para criar uma ”jornada do herói”, tentar reabilitar a sua imagem internacional e, agora, elegê-lo.

Em 2004 e 2010, Lula esteve na lista da TIME como uma das 100 personalidades mais influentes. Em 2011 e 2012, foi a vez de Dilma Rousseff; em 2019 e 2020, de Bolsonaro.

Em setembro de 2020, Felipe Neto foi escolhido uma das 100 personalidades mais influentes pela mesma TIME com um texto elogioso escrito por David Miranda, companheiro de Glenn Greenwald, jornalista respeitado na imprensa americana e, portanto, com todas as conexões nos principais meios de comunicação do país. Bolsonaro foi apresentado em 2020 num texto nada elogioso.

Pouco antes, porém, em julho de 2020, o New York Times publicou um vídeo em inglês do Felipe Neto suplicando para que os americanos não reelegessem Donald Trump e atacando Bolsonaro.

Em 2021, o único brasileiro na lista da TIME foi a empresária Luiza Trajano, que foi apresentada num texto elogioso assinado por ninguém menos do que Lula. Em 2015, Luiza defendeu a então presidente Dilma e criticou quem defendia o impeachment.

Sobre a entrevista de Lula para a TIME, parece ter sido feita por seu assessor de imprensa. A repórter da revista, Ciara Nugent ,não estava ali para entrevistá-lo, mas para edificá-lo. Cada pergunta era uma levantada de bola para Lula cortar. As respostas seguiram o script do herói injustiçado, a vítima de perseguição política que quer se eleger para, mais uma vez, “salvar o país”.

No Twitter, a repórter deixou-se trair ao divulgar e agradecer (e revelar) alguns nomes que a teriam ajudado para a entrevista, entre eles Guilherme Boulos e, vejam só, Felipe Neto, cuja atuação nos bastidores merece investigação e cuja influência só demonstra a miséria política atual.

Faço essa análise para que vocês entendam que a entrevista de capa para a TIME não deve ser vista como algo isolado, mas como parte da articulação política nacional e internacional para tentar eleger Lula, que tem se mostrado publicamente quem ele sempre foi.