Camaradas,
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Camaradas, | ||
Chegam às minhas mãos diversas correspondências relacionadas ao Café no Front. São comentários, criticas, agradecimentos e também alguns descontentes. Entre elas, chamou-me a atenção o contato de um cidadão de Vladivostok bastante preocupado com os rumos da política daquele local tão pouco conhecido. São relatos tão estranhos a nós, dignos cidadãos desta democrática e institucional República, que causam-me assoberbada surpresa. Os relatos enviados por Yuri Cafenovitch são aterradores. Na medida do possível, estarei publicando suas missivas na íntegra por aqui, o que creio, também os deixarão impactados e surpresos com as sandices da política Vladivostokiana. | ||
Só lembro que os relatos nada tem a ver com nossa realidade, até porque coisas assim não aconteceriam por aqui. | ||
Acompanhem... | ||
Vladivostok, 01 janeiro 2021 | ||
Nobre Camarada, | ||
Acompanho as publicações do Café no Front desde que publicava no site original, ainda no wordpress. Sempre apreciei a temática abordada, seja política, histórica e militar. | ||
Mas algo sempre me incomodou, e aqui estou para revela-lo caro editor: em várias oportunidades passaste por temas geopolíticos, conflitos atuais e discussões políticas contemporâneas sobre as dores e problemas do mundo. Vi falar sobre a Síria, Iêmen, Venezuela, China, Coreias, Israel e etc..., porém nunca escreveste em momento algum sobre a crise política em Vladivostok. | ||
Acredito que seja por desconhecimento deste belo país, afinal, não somos nenhum player global e estamos bem longe de sermos conhecidos fora desta região. | ||
Não será possível narrar todas as diatribes da discórdia política que nos abarca em uma única missiva, então nesta primeira darei apenas algumas indicações dos rumos e lhe apresentar minha nação. Em correspondências subsequentes aprofundarei-me expondo-lhe as discórdias entre Reformistas e Revolucionaristas que lutam pelo poder. Apenas adianto-lhe que há um golpe em gestação neste momento, onde instituições são usadas para dar um manto de legalidade às maiores atrocidades contra a liberdade de nosso povo. Tem até um nome que usam para isto: Estado Democrático de Direito... | ||
Mas não nos adiantemos, começo hoje contando-lhe uma breve e resumida história deste país. Vladivostok foi descoberto no início do Século XVII, por navegantes que aqui aportaram por "acidente". Seguiam originalmente para o País da Especiarias, e por falta de ventos no Grande Oceano, aqui chegaram sem grandes explicações...nunca entendi bem essa história... | ||
Ao desembarcarem deram de cara com os Vladivostokianos originais. Gente simples e humilde, viviam em pequenas cidades e eram devotadas ao Deus Sol. Eram grandes construtores e agricultores. Construíram monumentos religiosos que ainda hoje permanecem de pé e são grandes atrações turísticas, e como agricultores, desde longínquo tempo, produzem o que o país tem por principal produto: bananas! Somos bananeiros...somos Bananas com orgulho - isto está na bandeira e na Constituição de Vladivostok. | ||
Fomos colonizados por cerca de 300 anos até que um vice-rei proclamou nossa independência, com a promessa de que agora, de fato as bananas seriam do povo. Como nossa metrópole à época enfrentava uma crise financeira e política, o processo de emancipação política correu até que de maneira tranquila, e, logo fomos reconhecidos por outros países. Claro, para não ser e não parecer um processo tão simples e fácil, foi-nos exigido, numa negociação com a Metrópole e alguns credores, que assumíssemos certas dívidas do antigo colonizador. Éramos então um país endividado, porém livre! | ||
Tornamo-nos uma Monarquia Constitucional, a única na região. Nossa Constituição foi escrita pelo vice-rei, que acabou por ser elevado a Imperador, e cuja função era ser o Poder Moderador entre todos os poderes. Funcionou por quase cem anos e dois reinados, até que em 1898 o Exército Vladivotokiano deu um golpe e implantou uma República com moldes positivistas. | ||
Aí começaram os problemas, e desde então, entre golpes e revoluções, passamos por seis rupturas institucionais e, uma redemocratização, após 20 anos da ultima ditadura militar. De 1989 em diante, o processo democrático e eleitoral vem seguindo um rito constitucional, recheado de crises políticas e econômicas, mas bem ou mal funcionando, com certa harmonia institucional, e domínio ideológico dos Revolucionistas que, sempre se escoraram no poder com o apoio do Fisiológicos ( $$$ - preciso explicar? ). | ||
O problema foi que no último governo Revolucionista, o fisiologismo ( $$$$ ), foi desacabrunhadamente grande. Um esquema de corrupção na nossa maior estatal, a Bananabrás, levou o governo ao buraco e o presidente ao impeachment. Foi algo tão surreal e assustador, que causou na sociedade Vladivostokiana um repúdio enorme àquele estado de coisas e ao político até então mais popular de nossa história. Ele foi condenado e preso, assim como diversos políticos Revolucionistas e Fisiologistas, além de diretores da estatal e empreiteiros do país. Foi escancarado a todos um projeto de poder que financiava partidos, políticos, burocratas e empresas, que se mantinham no poder e impediam o surgimento de opositores viáveis a disputar os espaços políticos. Era um verdadeiro Teatro das Tesouras, onde "inimigos" disputavam votos num dia, para no outro se confraternizarem e pilharem o Estado. Não me esqueço de uma frase dita pelo presidente Moluscos Silvanitch, em sua campanha de reeleição: " é gratificante saber o quanto evoluímos politicamente, afinal, entre todos os candidatos à presidência não há nenhum Reformista. Somos todos Revolucionistas ". | ||
Nem os Fisiologistas reclamaram do disparate, afinal, bebiam na fonte... | ||
E enfim, depois de tanta ladroagem, nas eleições que se seguiram ao impeachment, surgiu uma candidatura que se mostrou viável contra todo o sistema que ainda dominava as entranhas do poder. Um reformista venceu as eleições, contra todo o sistema, inclusive o ex-presidente, que da cadeia dirigia a campanha de seu poste político... | ||
Uma paulada dada pela população direto no sistema! | ||
A princípio, o sistema acabou por se curvar à vontade popular, mas ainda regurgitava aquela derrota. Não abririam mão dos privilégios assim tão facilmente, e de fato não abriram. | ||
A crise atual nasceu naquela eleição, e desde a posse, só avança... | ||
Mas, como já lhe disse caro Editor, o tema é longo e demanda muitas explicações, que começarei a me aprofundar na próxima missiva. Peço antecipadamente que se possível, informe a seus leitores das dificuldades que lhe relatarei e que tão mal fazem ao meu amado país. O mundo tem que saber o que se passa em Vladivostok. | ||
Cordialmente, | ||
Yuri Olaviano Bezmenovitch |