Diário de Criação de Melkos: Nomeando Deuses
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Diário de Criação de Melkos: Nomeando Deuses

Como foi que eu dei nome aos deuses do mundo de Melkos?

Victor Figueiredo
10 min
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Depois de toda a pequena odisseia na criação da lore de Melkos, veio a segunda parte chata e ao mesmo tempo legal: dar nome pra essa bagaça.

A primeira coisa que me veio à mente foi a mitologia nórdica, mas eu precisei me lembrar que Melkos todo não é nórdico. Então, comecei a exercitar a minha criatividade.

Antes de tudo: quais deuses teriam um nome diretamente nórdico ou baseado na mitologia?

Sigurd, Deus dos Guerreiros, foi o primeiro. Procurei pelo nome de Siegfried e algumas versões diferentes, e Sigurd apareceu como um dos nomes alternativos do herói da lenda. Achei um bom nome e adotei pro deus em questão.

Os outros deuses mais velhos seriam a Deusa dos Dragões, o Deus da Vida e o Deus da Natureza. Resolvi, então, buscar outras inspirações para eles.

Herra Dreka nasceu numa tentativa minha de usar o tradutor do Google para as palavras “rei” e “dragão”. Passei por praticamente todos os idiomas da Europa. No fim, os islandês traduziu “senhor dragão” como “herri dreki”. Depois eu mudei uma coisinha ali e aqui, e voilà, temos Herra Dreka, Deusa dos Dragões.

Shalum, Deus da Vida, teve uma inspiração “meio bíblica”. O hebraico possui uma palavra, “shalom”, que significa “paz”, algo que eu queria trazer ao nome dele parte de sua índole e dogma. Troquei uma vogal e temos Shalum.

Nádúr foi mais curioso. Procurei o termo “natureza” nos idiomas europeus, em especial os celtas. O gaélico escocês traduz a palavra como “nàdur”. Aí foi só trocar a crase pelo acento agudo e usar o mesmo acento no “u” e temos agora Nádúr, Deus da Natureza.

Com os demais deuses, precisei começar aos poucos, um clã por vez. Vamos pela ordem alfabética dos clãs.

Primeiro, os Asahir

Drachannae nasceu com a imagem que eu tinha de uma criatura da mitologia grega, chamada dracaenae (ou drakaina), uma mulher quimérica com pernas de serpente. Ela tem lá seus poderes, mas imaginar ela como uma das divindades que criaram as medusas foi interessante, como se os cabelos de serpentes fossem um reflexo das criaturas dela e do consorte, Hieus. Simplesmente peguei o nome, tirei umas letras, botei um “h” e dobrei um “n” nasceu da Deusa dos Monstros.

Aliás, tenho uma “regra de ouro para nomear coisas”: mete um “h”, um “k”, um “y” ou um “w” e já tem um nome novo, e sempre lembre se duplicar consoantes já existentes.

Eohran; essa nasceu das minhas leituras de Tolkien. Os rohirim possuem uma forte influência cultural dos cavalos, tanto que dois dos personagens vistos em O Senhor dos Anéis, os irmãos Éomer e Éowyn, têm seus nomes com raízes na palavra anglo-saxã para cavalo: eoh. Aí eu pensei: serei óbvio. Pensei numa sílaba que desse um tom mais feminino à palavra e temos Eohran, Deusa dos Ventos e dos Cavalos.

Frühling, Herbst, Sumar e Veturah nasceram na minha busca para os nomes das estações em alemão e outras línguas. Frühling, Herbst e Sommar são as palavras em alemão para primavera, outono e verão. Veturah nasceu da palavra em alemão para inverno, “winter”: troca o “w” por “v”, muda umas vogais e usa a regra de nomeação, “mete o h numa parte do nome”. É meio óbvio pensar em qual estação eles representam.

Gäldder e Hieus nasceram da minha criatividade (quando eu não recorria a geradores aleatórios de nomes de fantasia) para dar nome ao Deus dos Mares, Rios e Oceanos, e o Deus das Feras e Bestas Mágicas, respectivamente.

Seiryanna nasceu da minha vontade de usar o nome Titânia, mas dando um ar “mais de fada” ao nome. Aí entrou a regra de nomeação. Nada demais para criar a Deusa das Fadas e dos Sonhos.

Segundo, os Ghaldurhir

Celestia foi bem óbvia. A Deusa das Luas, da Sombra e da Noite teve seu nome pensado no seu “domínio” no plano material, os astros celestes. Essa e o próximo foram rápidos.

Ehriol, consorte de Celestia, é o Deus do Sol, da Luz e do Dia, e o elemento químico que compõe o Sol é o hélio. Aí era só trocar umas letras e meter uma consoante diferente, pronto, temos um deus novinho em folha.

Marina foi ainda mais óbvia: a Deusa das Navegações e dos Marinheiros teria um nome que remetesse ao mar. Pronto, sem meia margem para invenções (até porque, se pensarmos bem, cenários de fantasia têm geralmente nome “diferentões”, aí um nome “comum” seria bem destacado).

Mhoira, Deusa da Morte, foi nomeada pegando o papel das erínias da mitologia grega e trocando e dando uma alterada nas moiras da mesma mitologia.

Mynaldir, Deus da Vidência e do Destino, tem o seu nome na mitologia nórdica; em específico, num dos dois corvos de Odin, Hugin e Munin. Escolhi Munin (“memória” em nórdico antigo) porque Hugin me faz lembrar de Hugo, e não queria um deus chamado Hugo. Troquei umas vogais e consoantes e tínhamos o deus que eu acho mais legal.

Risée, Deusa do Caos e da Inconstância, nasceu com a minha vontade de criar a “essência da loucura, caos e acaso”, mas sem dar um nome óbvio. Só peguei a palavra “risada” e dei uma “cara de francesa”, só pra parecer diferentona.

Sarba é o Deus do Conhecimento e das Lendas, e entregando a minha idade, eu fiz muita pesquisa da escola na Enciclopédia Barsa. Tá na cara.

Soraya é um nome que eu acho lindo. Fui procurar o significado para ver se podia ser usado para a deusa ou uma personagem importante. Soraya é a grafia persa de Thurayaa, que é o nome em árabe para as Plêiades da mitologia grega (e a constelação). Como ela é a Deusa da Magia, e o número 4 é cabalístico, peguei os 8 nomes femininos relacionados às Plêiades e relacionei os nomes com aspectos da deusa. Outra hora falo individualmente de cada divindade.

Sygdar nasceu junto de Sigurd. Pensei que seria interessante ter dois deuses que se confundisse um com o outro. Peguei o nome Siegfried e mudei bastante. Como a lenda fala do guerreiro que peitou um dragão e se banhou no sangue dele, fiz desse o Deus da Coragem.

Terceiro, os Marahir

Esses foram curiosos. Foram mais com cara de “vai lá, capricha na criatividade”.

Cassandra é a Deusa dos Halflings, da Família e da Amizade. Escolhi o nome “simples” porque o significado do nome é interessante: significa “pessoa que se supera, que brilha”, e procurei por um nome com “cara de mãe ou vó” e também que passasse um significado parecido com a índole de um bom anfitrião e/ou amigo.

Fuyuki e Seiryuu nasceram do mito xintoísta de Izanagi e Izanami que, pela lenda, criaram o Japão. Aí eu pensei: seria legal ter um casal de deuses apadrinhando o “continente japonês” de Melkos. Seiryuu significa literalmente “dragão azul”, em específico a criatura mitológica japonesa (vista também nas culturas chinesa e coreana) de uma das quatro (ou cinco) bestas que protegem o país. Fuyuki já foi mais interessante de pesquisar. O nome apareceu primeiro como Megumi (“bênção” em japonês), mas eu achei que seria muito óbvio. Procurei por nomes femininos japoneses, e Fuyuki apareceu. Pesquisei como se escrevia e achei algo como “ふゆ妃” cujo terceiro caractere significa “rainha”, “princesa” e “consorte”. Aí eu só escolhi isso e tínhamos a Deusa do Oriente e da Cultura, e o Deus do Oriente e da Honra. Uma curiosidade para a deusa em questão está em outra grafia de seu nome, “譜雪”, que possui os kanji para “partitura musical, música, nota, pessoal, mesa, genealogia” e “neve, nevasca”, respectivamente. Quando falar individualmente das divindades, falo melhor dessa parte.

Gladhorimm veio das minhas ideias de “como é um deus dos anões?”. A ideia dos anões veio dos mitos nórdicos e do Tolkien (que bebeu dos mesmos mitos). Pensei numa espada (gládio), mudei a grafia, usei a regra de nomeação e coloquei o sufixo -rimm, que em Melkos, no idioma dos anões, é marcação de nomes masculinos da raça. Nasceu, então, o Deus dos Anões e dos Ofícios.

Rephine nasceu já filha de um casal de deuses (em específico, Sigurd e Kriranke, ver mais abaixo). Ela foi escolhida para ser a contraparte da irmã gêmea (ver abaixo), então foi criada junto de Umera. Escolhi os títulos dela: Deusa dos Assassinos, dos Ladrões e da Trapaça. O nome foi gerado num gerador de nomes aleatórios para deuses de fantasia (aqui).

Rhaorrkhar nasceu para ser o Deus dos Orcs, dos Goblinoides e do Medo. A minha origem para o nome veio de um outro mundo meu, atualmente sepultado e esquecido, criado para dar a impressão de ser um nome intimidador, que passasse medo. Nada mais que isso.

Umera, como disse acima, nasceu junto de Rephine. Como ela é a contraparte da irmã gêmea, foi decidido que ela seria a Deusa dos Juízes, dos Carrascos e da Justiça, num oposto quase total de Rephine. A origem do nome é a mesma da irmã.

Vallaydan, Deus dos Elfos e da Nobreza, foi nomeado para parecer “ter nome de elfo”. Então pensei como que o idioma élfico soaria e o nome “cantado” do deus nasceu.

Veanke, Deusa da Colheita, do Comércio e da Humanidade nasceu pensando na evolução antropológica do ser humano. Deixamos de ser caçadores-coletores, a agricultura foi descoberta, e então o comércio. Pronto, temos a patronesse da humanidade. O nome veio daquele gerador comentado mais acima.

Quarto, os Vanahir

Atthys nasceu de uma inspiração nos deuses nórdicos, em específico Uller, deidade responsabilizada pela criação dos arcos e dos sapatos para neve. Só procurei um nome que tivesse a inicial de Arco e tivesse uma sonoridade parecida com o som que as séries e filmes mostram que uma flecha faz ao ser disparada. Nasceu a Deusa dos Arcos e dos Arqueiros.

Brunera nasceu também da mitologia nórdica, mais especificamente, do nome Brunhilda, uma das valquírias. Mantive a raiz de escuro em nórdico antigo (“brun”) e mudei o restante. Nascia a Deusa das Amazonas e dos Caçadores.

Diona é a Deusa dos Massacres, e pensei só em um anagrama para “odeia”. Como não tinha como variar muito, troque o “e” por “n” e pronto.

Kriranke é meio que a Atena de Melkos. Ela é a Deusa da Guerra e da Estratégia, então pensei na deusa, mas não consegui um anagrama legal. Então, peguei o gerador de nomes.

Onuva é a Deusa dos Duelos, mas como não pensei num nome legal, peguei um nome do gerador também.

Rhaxenar nasceu como filho de Rhaorrkhar. Só pensei num nome parecido e de “sonoridade violenta” para o Deus dos Bárbaros e da Selvageria.

Thaekkos, Deus da Armas e da Forja, e Vethos, Deus dos Cavaleiros, foram nomeados também do mesmo gerador.

Woenar, Deus da Força, nasceu do nome germânico de Odin, Wotan. Só troquei uns nomes aqui e ali para não ter de usar o Thor. Na verdade, acho Wotan um nome mais sonoro.

E foi assim que eu gastei parte da minha criatividade na criação dos nomes dos deuses de Melkos.

Noutro diário de criação eu falo dos nomes dos continentes.

Tchau!