Em 2022, a CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, irá lançar, no tempo da Quaresma, como já faz há décadas, mais uma edição da Campanha da Fraternidade. A Edição de 2022 tem como tema "Fraternidade e Educação", e como lema o versícu...
Em 2022, a CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, irá lançar, no tempo da Quaresma, como já faz há décadas, mais uma edição da Campanha da Fraternidade. |
A Edição de 2022 tem como tema "Fraternidade e Educação", e como lema o versículo bíblico 26 do Capítulo 31 do Livro dos Provérbios: "Fala com Sabedoria, ensina com Amor". |
Certamente, após as polêmicas que marcaram a edição de 2021, na qual foi permitido que uma pastora protestante influenciasse diretamente a redação do texto-base, pastora esta marcada por posições favoráveis ao aborto e à união civil de pessoas do mesmo sexo, há grande expectativa entre os católicos brasileiro para a forma como a Campanha deste ano será conduzida. |
Desta vez teremos uma Campanha da Fraternidade isenta de polêmicas, ou novamente a Quaresma será marcada por confusões e desentendimentos em torno da iniciativa? Idealizada para ser como que um itinerário de reflexão e ação dos fiéis da Igreja no Brasil durante o tempo penitencial da Quaresma, já há muitos anos que a CF vem sendo questionada por não poucas pessoas, inclusive da Hierarquia da Igreja, acusada de desvirtuar o espírito quaresmal e de distrair os fiéis com temas de cunho político, e não religioso. |
Independentemente do que ocorrerá, algumas coisas são certas. Uma delas é que, como leigos ou como padres e religiosos, nosso dever primeiro é o de confiar na boa-fé e de nossos Bispos, primeiro assentindo e só, depois, se necessário, resistindo. Devemos presumir que tudo foi preparado e será conduzido dentro da ortodoxia, de forma que é louvável que procuremos, inclusive antes do lançamento da Campanha, já nos inserirmos no tema que ela propõe neste ano. |
E na verdade, mesmo que as coisas não fossem assim, o tema escolhido é um dos que mais intimamente se relacionam com a missão da Igreja, e por conseguinte com a nossa, já que somos seus filhos. A Igreja é chamada por São Paulo de "Coluna e Sustentáculo da Verdade", e São João XXIII, seguindo uma longa tradição, refere-se à Igreja como Mater e Magistra, Mãe e Mestra de todos os povos. |
Portanto, é impossível falar da Igreja Católica sem falar de Educação e da missão educacional da Igreja. Mas como refletir, como falar adequadamente sem primeiro pensar o objeto da reflexão? Para falarmos sobre educação, primeiro precisamos pensar o que queremos dizer com tal palavra. Há muitas definições boas de educação que podemos utilizar. Uma rápida pesquisa no Google nos apresenta o seguinte resultado: "aplicação dos métodos próprios para assegurar a formação e o desenvolvimento físico, intelectual e moral de um ser humano". |
Este certamente é um bom conceito para começarmos, e a este podemos juntar outro, formulado pelo Papa Pio XI em sua encíclica Divini Illius Magistri, que trata sobre a Educação Cristã. Adaptando as palavras do Papa, podemos dizer que "a educação consiste essencialmente na formação do homem como ele deve ser e portar-se, nesta vida terrena, em ordem a alcançar o fim sublime para o qual foi criado". |
Este conceito de educação, propriamente católico, porque inserido no Magistério da Igreja e porque levando em conta tudo o que o homem é - espírito, alma, corpo - e não apenas a sua biologia, é aquele sobre o qual iremos nos basear para desenvolver nosso pensamento a partir daqui. |
Educar uma pessoa, no seu sentido mais completo, é formá-la em todas as suas dimensões: intelecto, memória, vontade e corporeidade, tanto em termos de comportamento quanto de caráter e disposições habituais, para que viva neste mundo de tal forma que seja depois na outra vida capaz de alcançar o prêmio da bem-aventurança, ou seja, da visão eterna de Deus. Portanto, podemos dizer, de maneira resumida, que só haverá verdadeira educação católica se se procura educar a pessoa para o céu. |
Infelizmente, nos últimos séculos tal educação tem sido cada vez mais deixada de lado pelas famílias e pelas instituições educacionais, mesmo aquelas nominalmente católicas, em prol de uma educação cada vez mais secularizada, ou seja, voltada apenas para esta vida, como se Deus não existisse ou não fosse importante, ao menos não mais importante do que o trabalho, a vida política ou social, ou outras esferas da vida. |
Mais recentemente ainda, a educação não tem conseguido sequer isso, pois muitos pedagogos advogam que ela seria antes de tudo um instrumento de crítica e de contestação ao sistema, e que o principal objetivo seria induzir não o conformismo, mas o permanente espírito de questionamento e de revisão dos próprios modelos de comportamento e da moral. |
Portanto, a Educação Católica, digna de ser assim chamada, é algo que é difícil de encontrar mesmo em países de tradição católica como o Brasil, ainda que o número de escolas católicas, no papel, seja grande. Pois só existe educação católica onde se leva a sério o que Jesus ensinou no Evangelho: "de que vale ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?". E ainda: "Fazei discípulos meus todos os povos, ensinando-os a observarem tudo o que vos ordenei". |
Ao mesmo tempo, isto não significa que a Educação, mesmo que se queira abordá-la no sentido mais confessional possível, seja mera instrução religiosa. A Educação Católica não pode ser entendida simplesmente como o ensino das verdades de fé, do catecismo ou o cultivo de certos hábitos de conduta, e aliás é certo que, se a educação católica fosse apenas isto, não seria preciso sequer ser católico para praticá-la. Quando se fala em Educação Católica, de forma alguma se está falando em uma educação incompleta, que prepararia apenas para o outro mundo e tornaria educando um estúpido para esta vida terrena, ou de uma educação que seria idêntica aquela que o mundo oferece, apenas com o acréscimo de algumas aulas de religião. |
Pelo contrário, justamente porque se preocupa com a salvação da alma, a Educação Católica também está preocupadíssima em preparar o homem para cumprir todos os deveres necessários para que se chegue ao céu, entre os quais se incluem não apenas ser uma pessoa religiosa, mas também bom trabalhador e bom cidadão. |
Se o pagão e o ateu estão preocupados com o mercado de trabalho, com as questões sociais e com a ordem política, o educador católico também está, e até mais do que aqueles, pois pensa todas estas coisas tendo em vista não apenas esta vida, mas também a outra. Como Maximus, personagem do filme "Gladiador", diz em certo momento: "o que fazemos na vida ecoa na eternidade". |
Assim, quem for bom católico será também bom trabalhador, bom subalterno e bom superior, e quem for bom católico será grandemente preocupado com o bem comum e com seus concidadãos, na verdade se preocupará mesmo com todas as gentes e sentirá cada problema social como próprio. |
Basta ver que, entre as grandes obras sociais que existem nos países influenciados pela Igreja, quase todas são abertamente confessionais ou ao menos possuem inspiração cristã, ou em como a Igreja esteve associada a toda descobertas e produções intelectuais em muitas áreas, isto para não contar a pacificação social promovida pela Igreja em todos os lugares onde se instala, de maneira muito mais eficaz e duradoura do que o próprio Estado. Como diz o Major Antônio Moraes, personagem do Filme "O Auto da Compadecida": "A Igreja é necessária como garantia da sociedade". |
Isto não significa que a Educação Católica sirva apenas para isso. É apenas para ressaltar que até aqueles que são antipáticos ou indiferentes ao catolicismo devem reconhecer que a Educação Católica é real e de eficácia evidente, até para quem não acredita em Deus, na alma, etc. Naturalmente, o católico sabe que ela é muito mais que isso, o que nós esperamos que a Campanha da Fraternidade deste ano de 2022 seja capaz de evidenciar. |
Esperamos também que esta CF seja uma grande oportunidade para ressaltar que a Educação Católica, integral, para o céu, não é optativa, nem para a Igreja, nem para seus fiéis, mas é para todos um direito e um dever. Direito porque a Educação Católica é a Verdade e a chave de acesso ao mais precioso dos bens. Direito porque "Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da Verdade", e a Igreja, sendo Ministra de Deus, ou seja, agindo em seu nome no mundo, não pode ser impedida de realizar a sua missão educadora. |
Mas também dever porque a vontade de Deus não pode ser afastada. Deus não simplesmente deu aos homens a faculdade de serem corretamente educados, ele ordenou que se tomassem providências nesse sentido. E uma vez que é assim, a Igreja e seus filhos não possuem escolha a não ser o que o Mestre mandou, e neste misto de direito e dever ninguém os pode impedir ou constranger, nem mesmo o Estado, pois a ordem política deste mundo não pode impedir a vontade de Cristo, que deve reinar não apenas no céu, mas na terra também. Trata-se do Reinado Social de Cristo, doutrina defendida pelo catolicismo que informa que a fé não deve influenciar apenas a vida privada dos indivíduos, mas também as leis e a condução das políticas do Estado. |
Nos nossos próximos encontros, continuaremos abordando o tema da Educação Católica, falando mais a respeito de sua aplicação em comparação com outras concepções de educação e pedagogia. Louvado seja o Coração de Jesus, para sempre no Coração de Maria. |