O Surgimento de Israel - Parte II
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O Surgimento de Israel - Parte II

Nesta postagem, continuo desenvolvendo o tema do surgimento do Estado de Israel, desta vez trazendo o ponto de vista dos árabes.

Carlos Alencar
7 min
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I - Introdução

Saudações a todos. Vamos encerrar a exposição sobre o surgimento do Moderno Estado de Israel, do momento em que a ONU se decidiu pela sua criação em diante, mas também abordando outras questões sobre a situação dos povos que habitavam aquela região, e que por uma questão didática não foram expostas na postagem anterior, que se focou nos fatores que precederam a criação do Estado de Israel, tendo como foco os judeus. Aqueles que se interessarem, podem conferir a postagem anterior e/ou assistir ao vídeo que publiquei no Youtube a esse respeito:

Agora, analisaremos a questão a partir do ponto de vista dos árabes.

II - A "revolta" árabe e a partilha do Oriente Médio

Como visto anteriormente, a partir da década de 20 do século passado, com a derrota do Império Otomano e a tomada da Palestina pelo Império Britânico, os judeus, que já estavam em processo de migração para aquela região antes mesmo da Primeira Guerra Mundial, aumentaram e muito o êxodo para aquela região, animados pela promessa da Inglaterra de que ali seria criado, futuramente, um Estado Judeu.

Entretanto, aquelas terras estavam longe de estarem vazias à época dessa imigração em massa dos judeus. Ao contrário, desde o século XVI aquela região experimentava relativa estabilidade política, desde que fora anexada pelo Império Otomano. Embora no início do século XX aquele Império já estivessem em seu processo final de decadência, a Palestina permanecia sobre o seu firme controle, e os britânicos precisaram de 3 anos de batalhas para tomarem aquelas terras, sendo que só na Palestina a população ultrapassava 1 milhão de pessoas.

Nestas batalhas, o Império Britânico foi auxiliado pelos próprios árabes locais, cansados de séculos de ocupação turca, e desejosos de terem o seu próprio país independente na região, tanto que diversas derrotas sofridas pelos otomanos na campanha britânica no Oriente Médio não foram causadas pelos Aliados, mas sim pela população local, instigada pelos ingleses com promessas de independência e liberdade.

Fundamental para esta colaboração entre ingleses e árabes foi o militar Thomas Edward Lawrence, que se integrou às tribos árabes durante o conflito, provendo orientação militar e ajudando a coordenar os esforços de guerra dos árabes e dos aliados na Palestina e na Síria. Posteriormente, Thomas escreveu diversas obras a respeito daqueles anos e de sua atuação no conflito, ficando conhecido por isso como "Lawrence da Arábia".

Se para os ingleses a aliança com os árabes islâmicos locais se mostrou bem-sucedida e lhes permitiu alcançar seus objetivos, para os muçulmanos a questão é até hoje alvo de debates entre seus historiadores. Alguns afirmam que a revolta foi derivada de um legítimo nacionalismo surgido entre os árabes a partir de influências vindas da Europa durante o século XIX, enquanto outros afirmam que a revolta não contou com a adesão em massa dos locais e foi levada a cabo por poucos, mas bem financiados e armados, grupos instigados pela Inglaterra.

De qualquer maneira, a derrota do Império Otomano, que governava vastas regiões do mundo islâmico até o fim da Primeira Guerra Mundial, se revelou um evento traumático para aquelas populações, com grande parte do mundo muçulmano sendo ocupado por potências ocidentais, o que não havia ocorrido nem mesmo durante a época das Cruzadas.

Após o fim da Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano foi dividido entre os Aliados e deixou de existir.
Após o fim da Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano foi dividido entre os Aliados e deixou de existir.

Além disso, o principal líder árabe da revolta instigada pelos ingleses, Sharif Hussein, foi traído pelos britânicos, que originalmente haviam-lhe prometido o controle da Síria, da Palestina e da Península Arábica, mas que acabaram não lhe dando coisa alguma. Procuraram coroar seu filho, Feisal, Rei da Síria em 1920, mas os franceses, que receberam o controle daquela região, não aceitaram o arranjo e o derrubaram após pouco tempo no poder. Em 1921, foi conduzido ao poder no Iraque, onde sua família se manteria no poder até 1958.

III - O caso da Palestina

Por fim, chegamos à situação da Palestina com as limitações geográficas que conhecemos, após o Fim da Primeira Guerra Mundial. Com a criação do Mandato Britânico, os judeus começaram a se estabelecer com mais intensidade nas terras palestinas. Entretanto, é um erro imaginar que os judeus que imigraram para aquelas terras neste momento eram todos religiosos e fiéis seguidores da religião judaica. Há diversas correntes internas dentro do judaísmo, e a maioria dos judeus que imigraram para a Palestina nessa época eram dotados de fortes tendências secularistas e socialistas, já que vindos da Europa, onde as sociedades estavam atravessando intensos processos de secularização e de popularização de ideias socialistas e comunistas.

As diferenças étnicas, religiosas, políticas e culturais logo se fizeram sentir. Além disso, árabes palestinos, cientes da intenção dos sionistas, procuraram se organizar para impedir o sucesso da empreitada judaica. Já em 1919, pouco após a rendição dos Otomanos e com a região já sob controle dos britânicos, foi organizado o Primeiro Congresso Palestino, que resolveu pelo repúdio à imigração dos judeus para a região.

Em 1920, a situação se deteriorou ainda mais, com vários líderes religiosos islâmicos manifestando repúdio à imigração judia e incentivando a população a tomar medidas drásticas. Brigas e outros episódios de violência começaram a eclodir na região, com mortos de ambos os lados. Os judeus criaram então a Haganá, uma milícia local com o objetivo de garantir sua própria proteção, e que, não obstante seu caráter paramilitar, foi reconhecida pelo Império Britânico.

Os sionistas criaram organizações paramilitares para sua defesa, sendo a Haganah a mais famosa l.
Os sionistas criaram organizações paramilitares para sua defesa, sendo a Haganah a mais famosa l.

Em 1929, ocorreu o mais grave episódio de violência entre os dois povos, quando uma discussão sobre o acesso ao muro das lamentações deteriorou para um conflito generalizado que resultou na morte de centenas de pessoas. Do ponto de vista dos árabes da região, os britânicos favoreciam os judeus, e o ressentimento foi se acumulando até que em 1936, após o assassinato de um líder religioso islâmico, os árabes emplacaram uma tentativa de revolta para expulsar os ingleses e criarem um Estado Palestino, mas foram derrotados pelos britânicos, que contaram com a ajuda dos judeus, por meio da Haganá e de outros grupos similares, em 1939.

IV -  Segunda Guerra Mundial, ONU e Liga Árabe

Durante a Segunda Guerra Mundial, a Palestina, bem como as regiões próximas, particularmente o Egito, onde está localizado o Canal de Suez, foi objeto de proteção por parte dos Aliados, que precisavam daquela região para seu esforço de Guerra. Pelo Canal de Suez, que atravessa o Egito para ligar o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho, a Inglaterra recebeu, durante toda a duração do conflito, suprimentos e tropas de suas colônias no Sudeste Asiático.

Os Aliados tinham grande necessidade dos recursos do Oriente Médio, particularmente o petróleo, e procuraram assegurar a estabilidade da região o máximo que podiam, para garantir que o fornecimento da preciosa matéria-prima não fosse interrompido. A Inglaterra, receosa de que as tensões na Palestina escapassem novamente ao controle, buscou restringir a imigração de judeus durante esse período, porém esta continuou ocorrendo de maneira ilegal, aumentando ainda mais seu número naquela região.

Quanto aos árabes, estes, numa medida desesperada, chegaram mesmo a enviar representantes para pedir apoio ao Eixo durante a guerra, com aquela fação se comprometendo a ajudá-los caso conquistassem o Oriente Médio, o que, entretanto, nunca chegaram sequer perto de alcançarem.

Quando a Segunda Guerra Mundial acabou, em 1945, as potências vencedoras procuraram garantir que conflitos daquela escala não voltassem a ocorrer e, entre outras medidas, criaram, em Outubro daquele ano, a Organização das Nações Unidas, que contou com a adesão de 50 países, a maioria sendo nações que haviam se posicionado contra o Eixo na Guerra, organização esta que, já de início, estabeleceu como uma de suas prioridades a criação de um Estado Judeu na Palestina.

Entretanto, naquele mesmo ano e antes mesmo do surgimento da ONU, outra Organização surgiria: A Liga Árabe. Com sede na cidade do Cairo, Egito, a Liga Árabe surgiu em Março de 1945, antes mesmo do término da Segunda Guerra Mundial. Seus objetivos eram e são até hoje similares aos da Organização das Nações Unidas: garantir a cooperação política, econômica e cultural entre seus membros, mediar conflitos e servir de fórum para a discussão de temas relevantes para aqueles países.

A Liga Árabe é anterior à própria ONU e sua criação foi um passo decisivo na história da criação do Estado de Israel.
A Liga Árabe é anterior à própria ONU e sua criação foi um passo decisivo na história da criação do Estado de Israel.

E um dos primeiros temas discutidos por aquela Liga foi exatamente a situação da Palestina, com a Liga se posicionando contrariamente aos interesses da ONU, o que teria consequências decisivas para o surgimento do Estado de Israel e impactaria na geopolítica daquela região até os dias de hoje. Mas isto é assunto para uma próxima postagem. Aqueles que quiserem, podem assistir ao vídeo que postei no youtube sobre o tema aqui tratado:

Eu sou Carlos Alencar. Louvado o Coração de Jesus: para sempre no Coração de Maria.