Mandaram eu calar a boca
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Mandaram eu calar a boca

Chegamos a mais um periódico e hoje, eu escrevo para você diretamente do litoral gaúcho, onde vim tirar 5 dias de férias.

Vinícius Borges
4 min
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Chegamos a mais um periódico e hoje, eu escrevo para você diretamente do litoral gaúcho, onde vim tirar 5 dias de férias.

Confesso que o clima por aqui não está tão alinhado com o que eu esperava. O sol e a minha sunguinha verde limão foram trocados por dias chuvosos e um abrigo de moletom.

A sunguinha verde limão é brincadeira… ou não, enfim…

Aqui com meu notebook no colo, estive pensando sobre o que poderia falar nessa segunda-feira.

Contraditoriamente, o assunto que ecoa mais alto no meu pensamento é o silêncio

                                                               O barulho do silêncio.

Ontem choveu o dia inteiro, menos em um pequeno intervalo entre às 16h e 18h, que foi a brecha para sair do apartamento e ir gastar as calorias do churrasco. Não perdi tempo e decidi preencher aquela lacuna do tempo — que nada mais era do que a folga das nuvens cansadas de trabalhar — com uma caminhada na praia.

Como estava frio, calcei meus tênis, vesti minha jaqueta corta vento e fui sozinho.

Em toda minha caminhada na areia, deparei-me com, no máximo, umas 4 ou 5 pessoas. Lembro de uma mulher tirando foto com duas crianças e um casal que ia lá na frente. Para não ser injusto com a paisagem, tinha belíssimas garças brancas bicando a areia.

Além desses personagens, não existia nada a não ser o silêncio sendo preenchido por uma dose de realidade da mesma forma que um copo inútil é preenchido por água e torna-se capaz de salvar a vida de alguém.

Pisadas que selavam a areia; ondas que quebravam-se em fileira uma atrás da outra e entregavam-se ao mar como se ali tudo se retroalimentasse: a morte e a vida, o fim e o início, o barulho e o silêncio…

                                                             O silêncio e seu barulho. 

Reflexivo, sentei num banco azul sujo de areia e úmido pela chuva. Ali eu pensei em adicionar algo àquele momento, sentia que faltava alguma coisa, e foi aí que quase quebrei o som do silêncio adicionando o ruído de uma “playlist”  no celular.

Na mesma hora, senti que não deveria interromper o silêncio. Filosoficamente, senti que a realidade me mandava calar a boca para que eu pudesse escutá-la como ela é.

E foi aí que eu observei que não sabemos lidar com o barulho do silêncio. Você já percebeu isso?

  • Percebeu o quanto a sua caminhada fica incompleta e inquietante se você não estiver com os fones de ouvido espancando seus tímpanos?
  • Percebeu como ao invés de fechar os olhos e esperar tranquilamente o sono vir, optamos por ligar uma tela a 20cm dos nossos olhos e fixarmos nossa visão em alguns vídeos até que o corpo sinalize não aguentar nem mais um minuto?

Você entende isso? O silêncio é tão turbulento que nos assusta; é de tamanha beleza, que sentimo-nos inferiores e preferimos trocá-lo por algumas migalhas sonoras.

Da batida nos fones para caminhar até as opiniões que nem precisavam ser ditas…

O silêncio é tão belo que poucas pessoas conseguem contemplá-lo e aplicá-lo. Porque é no silêncio que escutamos o que realmente importa.

  • É no silêncio que ouvimos a dor do outro;
  • É no silêncio que passamos segurança;
  • É no silêncio que a paz floresce.

Sugiro que você comece a semana fazendo um simples exercício:

Fique 5 minutos em silêncio no seu quarto e não se assuste com o barulho. O silêncio é como um amigo, você precisa nutrir essa relação para colher os frutos.

Você precisará de um certo esforço para voltar a ver beleza nos detalhes que só os amigos do silêncio podem contemplar.

E se você optar por trocar os fones de ouvido e longas conversas vazias por alguns minutos de contemplação, talvez se surpreenda com a harmoniosa melodia do silêncio.

Tenha uma ótima semana.

Vinícius Borges.