O Velho Caboclo
0
0

O Velho Caboclo

No rancho do alto da colina mora um velho caboclo, seu rosto enrugado entrega sua longa jornada, o retrato na parede entrega suas tristezas, mas seu lindo rancho entrega sua esperança e a alegria de viver.

Alexandre Contini
3 min
0
0

No rancho do alto da colina mora um velho caboclo, seu rosto enrugado entrega sua longa jornada, o retrato na parede entrega suas tristezas, mas seu lindo rancho entrega sua esperança e a alegria de viver.

O galo canta de madrugada acordando o velho caboclo, que com suas forças que ainda restam levanta preparar seu café, e se preparar para seu dia no rancho.

Seu fogão à lenha feito de barro, já pelo tempo maltratado, ainda serve para ferver a água para seu café, e até mesmo fazer um viradinho de ovo frito, para sustentar o velho caboclo na sua lida no rancho.

Sai de casa quando o sol surge por detrás do paiol, e ilumina a varanda de sua casinha de madeira coberta com tabuinhas, a qual o velho caboclo cuida para que nem o tempo nem os cupins a destrua e o deixe sem teto.

Abre a porta da casinha, seu velho cão companheiro o cumprimenta latindo e o gado lhe enxerga berrando, pedindo para o velho caboclo encher seus coxos com o milho que plantou para tratar a bicharada. Duro o trabalho no rancho, mas o velho caboclo nunca se abala.

Vendo o milho na mão do velho caboclo, as galinhas o seguem pelo terreiro, ele debulha um punhado e joga no chão, alimentando galinhas, pintinhos, e um casal de patos, que também tem seu lugar no ranchinho.

Num canto do paiol uma colheita de abóboras e ao lado, um chiqueiro com alguns porquinhos, os quais está engordando para seu sustento.

No açude, o qual o casal de patos enfeita nadando, o velho caboclo cria suas tilápias e carpas, os lambaris chegam pela corrente do rio. Ele tem suas varas de taquara, e nas suas folgas põe um cepo de madeira na beira e se distrai pescando.

Vez e outra, quando o rancho se mantém no sossego e sua lida termina, o velho caboclo vai até a vendinha da cidade e toma um traguinho que é para tapear a tristeza e encontrar seus poucos amigos que a idade ainda não os levou.

Quando o dia acaba e o sol se esconde atrás da mata, o velho caboclo se recolhe em sua casinha, ascende seu velho fogão e coloca uma chaleira de água ferver, enquanto isso pega o violão, presente de seu finado pai, e tenta alguns acordes que a idade ainda não o deixou esquecer.

Água aquecida, ele ceva um chimarrão, com erva que ele mesmo colheu, secou e moeu, e iluminado pela luz do lampião, mateia antes de deitar-se.

A solidão já não abala mais o velho caboclo, em tantos anos se conforma com a presença de seu cão e dos animais do rancho, e está sempre se distraindo com seu trabalho.

Mas tem noites que ele luta com suas mágoas, acorda com o travesseiro encharcado de lágrimas, por levar essa vida tão solitária.

A morte levou sua mulher antecipadamente, e seus filhos foram morar em bandas distantantes, ele não os vê e a visita é apenas promessa, o pai velho caboclo não é mais importante que o dinheiro. 

Quando o velho caboclo se for vai restar apenas o seu rancho que na hora de sua morte os filhos realmente vão ter interesse.