Flecha #01 A Segunda Guerra, os dados e as grandes ideias
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Flecha #01 A Segunda Guerra, os dados e as grandes ideias

Grandes ideias surgem a todo tempo. Ideias que funcionam, são apoiadas por fatos, informações e inteligência dos números.

Cleiton Maranhão
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Por muitas vezes vi pessoas encarando o uso de métricas e dados como um limitador da criatividade ou da execução, acreditando que por utilizarem informações qualificadas ou segmentadas, a criação ficará pior, mais pobre, sem originalidade.

Não é bem assim.

Até uma guerra pode nos ensinar algo sobre isso.

Em setembro de 1944 aconteceu a maior operação de toda a Segunda Guerra: Market-Garden.

Uma operação dividida entre ataque aéreo (Market) e apoio de solo (Garden) que contava com cerca de 7 mil aviões levando bombas, soldados paraquedistas e munição para deter o avanço dos alemães sobre os Países Baixos. 

Eram 34.600 soldados envolvidos. 


Soldados durante a operação
Soldados durante a operação

Com uma ação similar ao Dia D, a ideia era tomar as principais pontes nos países que faziam fronteira com a Alemanha e garantir a vantagem de posicionamento tático e estratégico.

E até que o plano começou bem. 

Eisenhower liberou as tropas e o céu foi tomado por milhares de aviões. Bombas foram lançadas, soldados fizeram seus saltos e as primeiras pontes foram tomadas com certa facilidade pelos Aliados.

No entanto, haviam se passado apenas 3 meses desde o Dia D e os alemães que conseguiram sair da Normandia estavam em retirada para a Holanda. 

Também havia um grande volume de companhias do exército alemão com forte experiência em campanhas ofensivas e defensivas.

A tropa alemã somava quase 60 mil soldados repondo suprimentos na Holanda. Grande parte do contingente alemão estava ali porque os próprios aliados haviam impedido seu avanço em outras frentes, provocando um acúmulo de tropas.

Por essa os aliados não esperavam.

O primeiro grande obstáculo surgiu quando uma das tropas de solo perdeu o timing por causa de uma ponte que já havia sido demolida pelos alemães. Sem apoio das tropas de solo, os paraquedistas ficavam descobertos.

E para completar, o volume de aviões para a investida não era o suficiente para uma eficácia como a do Dia D.

A seguir, foram surgindo mais problemas: tropas alemãs perceberam o ataque que estava por vir e receberam o inimigo com todo o poder de fogo possível. A resistência alemã se mostrou muito superior ao avanço dos outros exércitos.

Isso aconteceu não só porque os alemães haviam saído da França e parado na Holanda. Mas também porque fizeram trabalhos de reconhecimento e expectativas. Souberam trabalhar as informações sobre britânicos reunindo um volume absurdo de soldados para alguma operação. 

Logicamente, a única razão para tanto esforço tático era a localização dos alemães no momento.

O ataque alemão foi tão intenso que, em determinadas áreas era possível encontrar companhias de paraquedistas com apenas 1 soldado aliado para cada 4 soldados inimigos.

As falhas de comunicação eram constantes. Os aliados não haviam considerado que o sinal de rádio ficaria fraco quando as tropas avançassem muito em território ainda dominado pelo inimigo sem ter uma equipe de infra indo logo a seguir para ampliar o alcance.

Foram 9 dias de campanha. Neste período, só os ingleses perderam mais de 10 mil soldados e ainda tiveram uma divisão completa de infantaria dizimada. 

O objetivo de encerrar a guerra até o natal já não era mais possível.

Em proporções de guerra, é isso que acontece quando você planeja uma investida que subestima o alvo, não pensa nos obstáculos a longo prazo e não cria uma estratégia de resposta às emergências, resultando num total de quase 20 mil baixas que poderiam ser evitadas.

Os Aliados poderiam ter esperado mais. 

Diários da época mostravam que era possível segurar a operação por alguns dias enquanto novas informações não chegavam, assim como foi no Dia D: com adiamentos orientados à dados sobre localização do inimigo e monitoramento meteorológico. 

Se a ofensiva continuasse mantendo um padrão até produtivo e eficaz, talvez os alemães nem percebessem o ataque chegando.

Grandes ideias surgem a todo tempo. Ideias que funcionam, são apoiadas por fatos, informações e inteligência dos números.

Se você prefere confiar 100% no seu instinto e deixar todos os dados de lado, esteja preparado para grandes perdas.

Um grande amigo chamado Cláudio Camozzi disse algo no início de 2020: "Correr risco e se arriscar são coisas bem diferentes".

Em nosso mercado, obviamente não será nem um pouco grave como seria em uma operação de guerra, mas certamente deixará estragos.