SUS, até onde essa piramide pode te levar?

Recentemente, em uma conversa com minha mãe, eu fui obrigado a desabafar sobre um tema que me incomoda absurdamente. O malfadado e escandaloso Sistema Unico de Saude do Brasil, conhecido popularmente como SUS, ou, uma readaptacao do Inamps (aquela desgraça criada no governo militar para garantir saúde publica gratuita para o brasileiro pobre).

Sim, é mais fácil para o político brasileiro oferecer um balde de serviços mal prestados para uma população pobre, do que gerar recursos para que ela saia da pobreza. É assim com as bolsas isso e aquilo, é assim com as quotas para isso e aquilo, é assim com o acesso prioritario a esses ou aqueles, e assim o povo pobre do Brasil segue na sua intragavel cantilena de que alguns populistas eleitos com voto comprado (Dentadura, tanques de combustivel, dinheiro, garantia de emprego após a eleição, etc), vai continuar recebendo seus benefícios em dia.

E com o SUS, não é diferente. É um sistema velho, arcaico, lamentavelmente ineficiente, despudoradamente ineficaz, usado por políticos para toda a sorte de infortúnios, como desvios de recursos, ineficiencia logística, ineficiencia tecnológica, ineficiencia de produçao, mas como tudo, no Brasil, é o segundo maior ralo de dinheiro público da história desse país jovem, mas com uma habilidade inédita de destruir as esperanças de qualquer um que deseja construir algo.

Recentemente, numa conversa de "stories" com o founder da Pingback @matt-montenegroo eu o questionei porque fazia questão de afirmar que imposto é roubo, e na minha eloquencia de um jumento, fi-lo rir da minha estupidez, quando afirmei que o imposto servia para pagar muitos serviços que eram oferecidos a um povo necessitado que não conseguia prover recursos sequer para alimentar-se e aos seus familiares. Revendo nossa conversa dias mais tarde eu mesmo me questionei se eu acreditava naquela mentira que eu havia debatido, talvez pra defender que o pobre continue pobre, ou sei lá.

Lembro que quando tinha 10 anos de idade, eu acordava 3:30 da manhã, pra ir pra fila do "postinho" (uma unidade de saúde de bairro), em uma cidade de pouco mais de 10 mil habitantes, rural, e que a fonte de recursos do municipio era a criação de galinhas e ovos (e todos os seus derivados) a segunda maior fonte de receitas, era a industria textil, e nao, nao era a industria de tecidos, era a industria de roupas, que já recebia os tecidos até recortados, algumas vezes, garantindo assim o sustento de 80% da populacao economicamente ativa. A grande fonte de receita, era sem dúvida a do funcionalismo público, 20% da populacao ativa economicamente, era formada de politicos, assessores, juiz, promotores, policiais e etc., não acredito que muita coisa tenha mudado nesses 36 anos que me separam daqueles dias, nem mesmo os buracos na avenida, as estradas de pedras de granito, e os politicos que se reelegem prometendo sempre as mesmas coisas, mas principalmente, a certeza de que até hoje, e isso existe desde o governo militar, as pessoas continuam acordando as 3 da manhã, para irem garantir suas vagas em filas, na tentativa de se conseguir um atendimento médico gratuito, dentista, etc., e porque é assim? Porque os politicos que continuam sendo eleitos, sao os mesmos de sempre, porque o povo que os elege é um povo que se vende por um tanque de gasolina, porque quem elege politico é pobre necessitado que não ve nem de longe a possibilidade de se mudar o sistema e, essa é a certeza que permeia a populaçao. A certeza de que nao importa o que se faça, nada será diferente.

Recentemente, a familia inteira de um senador foi presa (alguns ainda permanecem presos), por desvio de 200 milhoes de reais de verbas da saúde destinadas ao estado dele, endemicamente afetado pela malária desde os anos 70, o senador só nao foi preso por ter foro privilegiado (apenas o STF pode prende-lo, e nós sabemos a quem o STF serve, né), esse mesmo senador, criou uma CPI pra acusar... (por uma questao de sanidade, nao vou passar desse ponto).

aMinha mãe, hoje, é uma senhora que se aproxima dos 70 anos, e que teve como meta de vida, lecionar, foi professora de classes especiais a vida toda, eu chamaria isso de dom, não consigo ver isso de nenhuma outra forma. Especialmente quando você vai além do seu papel de professor do sistema regular, para dedicar-se exclusivamente a ensinar pessoas com deficiencia fisica/mental, trabalhou a vida toda com isso, criou uma gangue de filhos, 5 ao todo, do jeito que dava, mas criou todos honestamente e ensinou a todos eles, valores que estao até hoje no topo das nossas conquistas e prioridades, todos os filhos de minha mae estao muito bem encaminhados e, felizmente nenhum se desviou dos seus caminhos. Minha homenagem a essa mulher. Mas, aquela mulher guerreira, possue todos os tipos de problemas de saúde que se possa imaginar, eu nunca ousei perguntar tudo que ela tem ou por quantas cirurgias ela já passou na vida e, acreditem, no meu embate com o Matt, eu defendi o meu ponto de vista vendo minha mae na situaçao que ela se encontra.

Sim, algum tempo atrás eu assisti uma entrevista do Flávio Augusto, onde ele falava que "estabilidade nao existe" e, confesso que eu nunca havia pensado nisso, mas ele acabara de afirmar uma coisa que eu sempre tive na cabeça. E explico, minha mae, é professora aposentada por idade hoje, e porque isso aconteceu? Porque nas cidades do interior, professores da rede municipal (de onde minha mae é oriunda), não são estabilizados. Professores das redes municipais, devem prestar concurso público de 2 em 2 anos para garantir o salário dos próximos 2 anos trabalhando a grande maioria das vezes 2 turnos de 4 a 5 horas por dia, diretamente e outras 4 horas indiretamente, logo, a estabilidade para essa categoria, nao existe. Até para garis (catadores de lixo), ela existe, após alguns anos, eles sao estabilizados e se aposentam após 25 ou 30 anos de serviços. Mas professores não. E seria ainda mais surpreendente se eu citasse o salario de um professor de rede municipal, mas nao o farei, porque é humilhante. Fazendo uma alusao, colocarei que o salário de um professor com 1 turno de trabalho diário, seria suficiente para pagar 1 mensalidade de um plano de saúde médio, que não cobrisse quase nada dos problemas que atinge uma classe que lida diariamente com stress, problemas de interação social, dificuldade para leitura e concentracão depois de alguns anos de trabalho e, principalmente, está ciente de que de 2 em 2 anos, corre o risco de ficar sem trabalho  por outros dois anos.

E essa categoria, com esse dom, não conseguiria, em hipotese alguma, sobreviver sem um sistema igual ao SUS, lamentavelmente, num país onde é sagrado planos de saúde tratarem pacientes como produto de descarte, fica complicado pensar em um programa que garantisse que algumas categorias nao ficariam desprotegidos de receber ao menos, o basico de um sistema de saúde.

Foi com esse propósito, pelo que consigo pensar, que não somente o Ministério da Saúde foi criado, mas também o Ministério da Educaçao, etc., garantir que a populaçao de baixa renda tivesse acesso a alguma coisa que lhes permitisse ter saúde, educaçao e etc., na realidade, o fruto disso é muito pequeno para o volume de impostos arrecadado. 

Minha mãe, espera ha 4 meses na fila para uma cirurgia pelo SUS, na ultima vez que estava próxima, ela cedeu a vaga dela para alguém que estava com mais necessidade, o que ela nao imaginava, era que ela iria de volta para o fim da fila de espera, e agora não faz ideia de quando será chamada novamente.

Quanto ao Senador, aquele nao vai conseguir se reeleger nas proximas eleicoes, e aí sim será pego pela justiça comum e vestirá a tornozeleira (assim espero). 

Matt, desculpa bater de frente contigo naquele dia, espero um dia poder oferecer a minha mãe uma alternativa mais funcional, mas atualmente, ela ainda é dependente desse sistema que é bancado com impostos, entretanto, hoje eu concordo talvez mais de 100% contigo.