Naquele dia...
Naquele dia... | ||
Não esperei a hora exata para bater o ponto do final de expediente. Eu só queria voltar para casa. | ||
Dirigir é algo que me ajuda bastante a desopilar. Ainda que haja trânsito, ou condutores atravessando errado. Os transtornos que ocorrem durante a direção não interferem nas reflexões que o volante, o movimento, o passar ruas e pessoas me provocam. | ||
Nesse trajeto, foram tantos pensamentos desconectados, alguns até sem nexo. | ||
Não me sentia apática, mas havia uma forte expressão de apatia. | ||
Não sentia tristeza, nem nada comparável a ela, mas não estava afim de sorrir, tão pouco interagir. | ||
Foi quando, já bem próximo de casa - o semáforo fecha e o malabarista se posiciona para o seu "micro espetáculo". | ||
Porém... | ||
Ele me olha. | ||
Eu o ignoro. | ||
Ele, se posiciona e olha com foco em mim. | ||
Eu, o olho, com a cara de apatia que predominava. | ||
Ele, gentil, sério, porém com um sútil tom cômico, me olhando, usou o seu indicador direito para levantar um sorriso em seu rosto, me convidando a sorrir. | ||
Não resisti, deixei o sorriso se soltar no olhar e no canto da boca. | ||
Só então... Ele fez sua apresentação, encerrando com a expressão de que o sorriso em mim, combina melhor. | ||
O sinal abriu, acenei um tchau! | ||
Ele retribuiu. | ||
Segui para casa, e aquele sorriso instigado ainda me acompanhava. | ||
Agora, eu já ria sozinha da minha cara. Pensando com meus botões: | ||
A alegria não abre mão de mim, também não abro mão dela. | ||
Não tenho o compromisso de abrir risos quando quero ou preciso soltar minhas lágrimas. Aprendi com os últimos episódios que passei que chorar acalma. | ||
Não somos feitos para a tristeza ou para a alegria constante. Somos vidas - sujeitas a momentos bons e ruins. | ||
Pra quê levantar a bandeira da alegria a qualquer custo? Ao preço de alienar-se? | ||
Pra quê demorar-se na tristeza, apegando-se a ela? Ao ponto de desejar partir daqui? | ||
Já chorei de felicidade, já ri de desespero, já contei aqui de quando pensei em desistir de mim, desistir de viver, e hoje, quanto mais vivo, mais tenho a certeza de que a vida é gostosa de viver. | ||
Apesar de alguns pesares... tem música, beleza, arte, família, amizades, conquistas, superações, dias de lutas, dias de glória, erros, acertos... tem você, ser único, com suas histórias, conflitos, peculiaridades, e ainda assim, para alguém... importa. | ||
Como aquele que chega de passagem numa parada de semáforo e pausa sua arte, para que você faça parte e seja beneficiado pela destreza do seu espetáculo, que mostra que a vida é isso... Um belo malabarismo. | ||