O malabarista
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O malabarista

Naquele dia... 

Merielle Souza
3 min
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Naquele dia... 

Não esperei a hora exata para bater o ponto do final de expediente. Eu só queria voltar para casa.

Dirigir é algo que me ajuda bastante a desopilar. Ainda que haja trânsito, ou condutores atravessando errado. Os transtornos que ocorrem durante a direção não interferem nas reflexões que o volante, o movimento, o passar ruas e pessoas me provocam. 

Nesse trajeto, foram tantos pensamentos desconectados, alguns até sem nexo.

Não me sentia apática, mas havia uma forte expressão de apatia. 

Não sentia tristeza, nem nada comparável a ela, mas não estava afim de sorrir, tão pouco interagir.

Foi quando, já bem próximo de casa - o semáforo fecha e o malabarista se posiciona para o seu "micro espetáculo".

Porém...

Ele me olha.

Eu o ignoro.

Ele, se posiciona e olha com foco em mim.

Eu, o olho, com a cara de apatia que predominava.

Ele, gentil, sério, porém com um sútil tom cômico, me olhando, usou o seu indicador direito para levantar um sorriso em seu rosto, me convidando a sorrir.

Não resisti, deixei o sorriso se soltar no olhar e no canto da boca.

Só então... Ele fez sua apresentação, encerrando com a expressão de que o sorriso em mim, combina melhor.

O sinal abriu, acenei um tchau!

Ele retribuiu.

Segui para casa, e aquele sorriso instigado ainda me acompanhava.

Agora, eu já ria sozinha da minha cara. Pensando com meus botões:

A alegria não abre mão de mim, também não abro mão dela.

Não tenho o compromisso de abrir risos quando quero ou preciso soltar minhas lágrimas. Aprendi com os últimos episódios que passei que chorar acalma.

Não somos feitos para a tristeza ou para a alegria constante. Somos vidas - sujeitas a momentos bons e ruins. 

Pra quê levantar a bandeira da alegria a qualquer custo? Ao preço de alienar-se?

Pra quê demorar-se na tristeza, apegando-se a ela? Ao ponto de desejar partir daqui?

Já chorei de felicidade, já ri de desespero, já contei aqui de quando pensei em desistir de mim, desistir de viver, e hoje, quanto mais vivo, mais tenho a certeza de que a vida é gostosa de viver.

Apesar de alguns pesares... tem música, beleza, arte, família, amizades, conquistas, superações, dias de lutas, dias de glória, erros, acertos... tem você, ser único, com suas histórias, conflitos, peculiaridades, e ainda assim, para alguém... importa. 

Como aquele que chega de passagem numa parada de semáforo e pausa sua arte, para que você faça parte e seja beneficiado pela destreza do seu espetáculo, que mostra que a vida é isso... Um belo malabarismo. 

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