Meu Alistamento Militar
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Meu Alistamento Militar

HORÁCIO DE SOUSA E CASTRO JUNIOR
6 min
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Finalmente completei 18 anos. Felicidade geral para mim, sempre achei que com 18 anos iria mudar o mundo, teria todas as mulheres aos meus pés, habilitação, etc... mas uma preocupação me atentava o juízo desde os 16, o fato de ter que me alistar nas forças militares. Morria de medo de ter que passar um ano a serviço da pátria, cuidando zelozamente do mesmo uniforme e esperando uma guerra pra entrar em ação.

Para piorar as coisas, havia perdido um ano na escola e não poderia me candidatar a oficial,  teria que me contentar com a patente de soldado raso. Servir o exercito tinha suas vantagens, todos diziam isto, mas ninguém conseguia me convencer disso.

E assim chegou o dia. Marquei com Óssus, um colega de escola que tinha o pai oficial da reserva e ele disse que ia arrumar um jeito de sermos dispensados pelo excesso de contingente.

Beleza! Marcado o dia, fui para a Fonte Nova, é nesta época o alistamento militar tinha uma fase lá. Meu pai me deixou na porta as 5 da matina, e já tinha fila. Uma galera... Fui pro final e aguardei observando as figuras a minha volta. Todos nós com 18 anos, e de diversos mundos reunidos ali na fila. Alguns conversavam animadamente encostados na parede, outros fumavam seu cigarrinho, fazendo cara de adultos. E eu pensando "tô perdendo várias ondas no Psiu Beach". E estes manés se achando gente...

O fato é que pontualmente as 6 da madrugada chegou uma viatura do Exercito cheio de soldados da Polícia do Exercito. O primeiro aviso foi em alto e bom tom:

-- Desencosta da parede seu maricas. Ouvi o barulho de um saco de batatas caindo ao chão e olhei na direção do som para ver que um dos soldados havia dado uma rasteira num dos manés que estavam encostados na parede. O carinha tava fulo da vida, mas nada fez. Afinal já naquele tempo quem tinha cu tinham medo.

-- Vai pro fim da fila seu merda! Berrou o soldado.

E assim começou o dia. Dois outros soldados vieram pela fila conferindo os documentos de todos e em seguida começamos a andar para dentro do Estádio. Não conseguia achar Óssus na fila, e pensava preocupado que ele devia ter me sacaneado e eu ia acabar limpando latrina pro Exercito Brasileiro. Lá pelas 1o da manhã fui chamado para uma sala, de relance vi a porta da próxima etapa da seleção aberta, visão do inferno, um mote de cara pelado... Um cara com umas estrelas na farda me entrevistou e perguntou se eu queria servir a pátria, e eu afirmei categoricamente que não gostaria pois ainda não havia concluído o segundo grau. O cara anotou um monte de merda num papel e me mandou pra outra sala.

Entrei na sala que em dia de jogos deveria ser o vestiário, mas estava lotada de rapazes pelados. O pior que era em fila... Pra nossa sorte não havia sabonete, mas a lenda do carinha com a antena de tevê era real, lá estava um soldado com uma varinha pronta para acertar quaquer pinto que ficasse ereto. E não é que um filha da puta de um gordinho com cara de sacana ficou de pau duro? Não deu outra o saldado deu-lhe uma lapeada, e a mijada?

---Vc é viado? Perguntou o soldado após açoitar o gordinho...

--Na-na-não.

--Como é porra? Para você é não senhor, vc me entendeu?

--Sssssissiisssi Senhor.

--Então vê se bota este pintinho pra murchar, senão vai tomar outra taliscada*...

Quase mijo de vontade de rir da cara do gordinho, mas a maxima sempre me foi verdadeira, afinal quem tem cu... Olhei para o lado e vejo um cara parecido com aqueles jogadores dos Globe Trotters e percebo que vai rolar outra "taliscada"

--Ô tripé, nem pense em ficar de pau duro por aqui -- disse um dos Soldados, mas isso fez o cara da frente dar um salto maior do que o do João do Pulo quando ganhou a medalha.

-- Que porra é essa negão? Gritou o pulador.

-- Que porra é essa digo eu -- falou o Soldado complementando: caiam fora da fila seus viadinhos!

O certo é que continuei com o cu no ponto. Não havia feito contato com Ossus e já estava próximo de me vestir, assim achava. Foi em fila e nú encaminhado para o exame de vista, uma esculhambação. Li o negocio que tava escrito na parede e fui aprovado, em seguida e ainda em fila, todo mundo nu, ou seja o meu grupo, éramos 10 caras de 18 anos pelados, fomos levados para o outro lado da sala e aguardamos. De um em um fomos chamados a vestir a roupa e irmos para outra sala onde aguardávamos ser chamados novamente para mais uma entrevista. Desta vez fui entrevistado por um médico com cara de puta-velha.

-- Seu nome é Horácio né? Perguntou o esperto médico lendo meu prontuário (este papel estava nos acompanhando de sala em sala, sempre sendo datilografado por um ou outro soldado).

-- Sim -- respondi meio puto com o obvio da pergunta.

-- Pois bem, você sente dor no saco né?

-- Não, de forma alguma. Respondi estranhando.

-- Pois é Horácio, agora você tem, e é dor no ovo esquerdo.

-- É?

--Sim, a não ser que você queira passar um ano em uma de nossas hospedarias...

-- Doutor,  dói muito este meu ovo esquerdo...

-- Muito bem, disse o "puta-velha" entregando meu prontuário a outro soldado. Pode ir pra outra sala.

E lá fui eu para mais uma hora de espera, a esta altura já passávamos do meio dia, a fome apertava a todos, ou quase todos. Os soldados não sentiam fome, mas notei que alguns já haviam ido embora e outros novos chegaram. Todos de verde, todos com o mesmo penteado, todos parecidos.

Após muito esperar fui chamado por um soldado com cara de fuinha.

-- Olá meu jovem.

-- Olá senhor (Quem tem cu tem medo).

-- Você tem mesmo dor no saco?

-- Sim, senhor.

-- E como é esta dor? Perguntou o fuinha lendo o bendito prontuário.

-- É uma dor no ovo, no esquerdo.

-- Sei. Que mais?

-- Dói.

-- Sim dói, mas dói como?

--Doi.

-- Tá bem, tá bem. Já entendi. Pode ir.

E assim se deu o meu alistamento militar.

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* mesmo que porrada com uma talisca...