#0012 - Será que o Brasil depende da China?
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#0012 - Será que o Brasil depende da China?

#0012 - Será que o Brasil depende da China?

Anderson TB
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Anderson TB - 6 de abril de 2020

"Se você precisa comprometer sua ética para obtê-lo, então não vale a pena".― Akiroq Brost

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Nos últimos meses, temos visto uma situação no mínimo constrangedora sob o ponto de vista de soberania nacional. Com o estouro do coronavírus, os ânimos se exaltaram no mundo inteiro, e mesmo que de forma bem contida, ninguém esconde a sua ira com a postura da China frente à pandemia. Não somente no Brasil, mas em diversos outros países, o coronavírus passou a ser chamado de vírus chinês, o que é perfeitamente aceitável já que o vírus surgiu na China, mas, os chineses não gostaram nada disso.

Enquanto Donald Trump nos EUA passou a chamar o coronavírus de vírus chinês em suas rotineiras entrevistas sobre o status da pandemia, aqui no Brasil, alguns parlamentares entraram na onda e junto com boa parte da população também começou a chamar o coronavírus de vírus chinês e isso causou um desconforto junto à embaixada da China no Brasil.

O Consul chinês não gostou e como de costume, ele trouxe a discussão para o campo da xenofobia, acusando os parlamentares de atentar contra o povo chinês, o que era pura mentira. Ele pediu retratação. Não haveria problema em pedir retratação se ele não tivesse distorcido a discussão e se o pedido não tivesse sido feito com tanta arrogância e com ares de superioridade, como se o Brasil fosse altamente dependente da China para se sustentar como país. Contudo, toda essa confusão foi importante porque as lentes se voltaram para o embaixador Yang Wanming e alguns fatos começaram a vir à tona, como por exemplo, a proximidade de importantes políticos brasileiros com o regime chinês. Isso causou uma extrema preocupação para os brasileiros, principalmente os mais interessados em manter uma democracia saudável.

https://twitter.com/EmbaixadaChina/status/1240766345773539328?s=20

https://twitter.com/RodrigoMaia/status/1240474700574326791?s=20

https://twitter.com/davialcolumbre/status/1240762616747905025?s=20

Os ânimos se exaltaram e a diplomacia aparentemente foi posta de lado. Em seu último tweet o embaixador chinês fez questão de enfatizar a importância da China para a balança comercial brasileira, deixando no ar algo como "

calem a boca e parem de reclamar porque nós estamos pagando as contas".

https://twitter.com/WanmingYang/status/1247709276812062722?s=20

Mas isso não é bem assim. É evidente que não se pode virar as costas para o nosso principal cliente do dia para noite, porém, em certas situações, temos que reavaliar o cenário para entender o quanto essa relação é de fato um benefício. No caso da China, tem muito mais em jogo do que uma simples relação comercial.

Hoje a China é o principal parceiro comercial do Brasil, 27% das nossas exportação terminam naquele país, mas isso nem sempre foi assim. O gráfico a seguir apresenta a evolução dessa parceria nos últimos 25 anos.

Fonte: Tradingeconomics.com

Reparem que apenas em 2004 a nossa relação com a China começou a ganhar força, curiosamente após a eleição de Lula.

Por outro lado, o Brasil é apenas o 7o. país que a China importa mais, veja no gráfico a seguir:

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Fonte: Tradingeconomics.com

Dentre os principais itens exportados pelo Brasil, está a soja. Esse mercado é dominado por Brasil e EUA e nós somos atualmente o maior exportador.

Segundo projeções da USDA, o mundo deverá produzir 338 milhões de toneladas de soja em 2019/2020, uma queda de 24 milhões de toneladas em relação ao período, ou seja, isso pode representar inclusive um aumento de preços já que os países consumidores irão brigar para continuar importando a mesma quantidade. A seguir a lista dos 15 maiores consumidores de soja no mundo.

O que isso significa? Imaginemos que a China decida não comprar mais soja do Brasil. Ela certamente recorrerá aos EUA e terá que convencê-los a largar outros países na mão já que não será possível aumentar a capacidade produtiva da noite para o dia. Se isso acontecer, o que acontecerá com esses outros países? Ficarão sem soja? Não, eles recorrerão ao Brasil para comprar a soja que anteriormente era vendida à China. O mercado voltará ao seu equilíbrio. Esse mesmo raciocínio vale para outras commodities exportadas pelo Brasil.

Reparem que apesar de parecer assustador, a China não compra de nós porque ela quer o bem do Brasil e quer nos ajudar, o fato é que o Brasil depende da China tanto quanto o China depende do Brasil e essa é uma verdade que não pode ser alterada num curto espaço de tempo.

O importante então, é não cair nessa falácia de que temos que abaixar a nossa cabeça para um

embaixadorzinho de caráter duvidoso só porque o cliente tem sempre razão. Nesse cenário as coisas não funcionam bem assim. O Brasil precisa colocar esse embaixador no seu lugar e exigir respeito, ou nunca mais será respeitado no cenário mundial. Se o Brasil quer ser visto como um grande player, deve passar a se comportar como tal.