As cinco razões da emoção (Parte V)

Nossa série que busca decifrar o enigma que é nossa mente segue em frente e chega ao seu penúltimo episódio. Descobrimos que extrovertidos tendem a sentir prazer em estímulos externos, principalmente os estímulos sociais e os introvertidos gastam muita energia em tais situações. Os conscienciosos têm obsessão por organização, rotina e compromissos, enquanto os procrastinadores tendem a ter dificuldade de concentração e deixar os compromissos para depois. Pessoas abertas a novas experiências são pessoas criativas, curiosas e apaixonadas pela arte enquanto os conservadores tendem a preferir tudo como está. Os amáveis são as pessoas que acreditam nos outros e se sacrificam pelo bem comum, enquanto os cismados preferem deixar o pé atrás e priorizar fatores individuais aos coletivos. Hoje, vamos tocar no nível de personalidade mais complexo, pré-julgado e também polêmico. Seu nome muitas vezes é associado à loucura e por conta disso muitas pessoas têm preconceito em se assumir com alto grau desta personalidade. Mas vamos desmistificar esse assombroso tema, o que é fundamental para entendermos o porquê de agirmos como agimos.

NEUROTICISMO

Neuroticismo – por muitos pesquisadores considerado sensibilidade, já que a palavra “neurose” acaba carregando um fator muito pejorativo o que agrava ainda mais o preconceito com a personalidade – nada mais é que a sensibilidade para emoções e experiências negativas. São pessoas que veem perigo a quase todo momento. Ao surgir qualquer problema de qualquer grau, pessoas com alto grau de neuroticismo não conseguem reagir racionalmente e as emoções de medo e insegurança veem à tona, dominando a situação. Nada mais é que uma resposta física e emocional ao estresse e às ameaças na vida de alguém. Geralmente, pessoas com alto grau de neuroticismo são também muito ansiosas, o que ocasionam mudanças de humor e irritabilidade, como também desencadeiam doenças como depressão e ataques de pânico. A ansiedade, que tem um papel extremamente relevante na construção de um perfil de neuroticismo, pode ser identificado pela capacidade desta pessoa em lidar com o estresse e com o risco identificado pelo cérebro. Essa pessoa também tende a ver problemas onde não existem e pensa demais em diversas situações adversas que podem acontecer em determinado momento. Tende a ser uma pessoa mais medrosa e emocionalmente mais sensível. O córtex pré-frontal de um indivíduo com baixo grau de neuroticismo é menor, área a qual é responsável diretamente pela regulação das emoções. Um estudo holandês acompanhou um grupo de pessoas durante 16 anos e percebeu que as pessoas com alto grau de neuroticismo tiveram muito mais acidentes do que as pessoas com baixo grau de neuroticismo, o que acabou tornando-as ainda mais neuróticas.

Já as pessoas com baixo grau de neuroticismo tendem a ser pessoas mais racionais, com menor influência da emoção em suas atitudes. Eles tendem a ser mais calmos e relaxados em momentos de estresse, confiam em sua capacidade resolutiva e de lidar com situações adversas, não absorvendo as emoções negativas externas. Digamos que pessoas com menor grau de neuroticismo são pessoas mais estoicas. Meu neuroticismo é relativamente baixo, muito por conta de uma baixíssima vulnerabilidade (dificuldade em lidar com estresse) o que me torna bastante racional em momentos adversos ou em situações complicadas, ansiedade (sensação de medo, insegurança e tensão) e autoconsciência (desconforto com os outros, se preocupando muito com a opinião alheia) baixas. Essas facetas reduzem bastante minha nota geral nesta personalidade. Porém, tenho uma depressão (tendências a ter momentos depressivos com baixa energia, dificuldade de concentração e problemas com sono) acima da média e impulsividade (incapacidade de controlar impulsos e desejos) bem acentuada. Costumeiramente me sinto pra baixo e desmotivado, sem energia e em momentos de raiva acabo explodindo. Costumo dizer que sou uma pessoa pavio longo. Dificilmente saio do controle emocional, sou pouco reativo às situações externas, porém, quando o pavio chega ao fim, descobrimos que a bomba é tão grande quanto o pavio.

Como de costume, uma pessoa com um grau extremamente elevado de neuroticismo, geralmente, não consegue ter uma vida em paz. É um dos fatores que levam a doenças da mente, como comentei acima. Porém, você deve estar se perguntando: “então este é um grau de personalidade que quanto menos você tiver melhor?”. Não, pequeno gafanhoto. Para entendermos isso, precisaremos voltar no tempo. Cerca de sete mil anos atrás, o ser humano era nômade, vivia em bando e estava exposto a várias situações de ameaças. Ataque de animais, queda de árvores, afogamento, brigas com outros bandos. Tais acidentes aconteciam o tempo todo. Por isso, ao longo do tempo, nosso cérebro desenvolveu esse dispositivo de alerta que nos avisava que um possível perigo apareceria e injetava adrenalina em nossas veias para termos energia para lutar ou para fugir. Os anos passaram e as ameaças diminuíram com a evolução da sociedade. Porém, os perigos ainda existem. Uma pessoa com um grau ínfimo de neuroticismo geralmente são pessoas que não sentem medo, e por essa condição, acabam colocando sua vida em risco de diversas formas. São pessoas que escalam montanhas sem equipamento de segurança, atravessam uma corda bamba em penhascos totalmente livres de aparatos de segurança, saltam de wingsuit de locais extremamente perigosos e podem bancar o herói em situações como assaltos e sequestros. Portanto, caso você perceba que seu grau de neuroticismo é elevado, agradeça por não ser desprovido dele. É muito mais fácil você controla-lo e reduzi-lo extremamente ansioso do que morto. Na próxima semana, terminaremos nossa série falando sobre como poderemos hackear nosso cérebro e equalizarmos nossas personalidades para níveis mais benéficos em nossas vidas. Portanto, já comece controlando a sua ansiedade, não fique deprimido porque a série está acabando e até semana que vem!

Uma semana MEGA produtiva a todos! Vamos pra cima!