Eu não sabia a diferença entre orar e rezar. Você sabe?
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Eu não sabia a diferença entre orar e rezar. Você sabe?

Orar é mais que um ato de fé, é falar direto com Aquele em quem depositamos a fé.

HS Naddeo
5 min
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Mesmo não tendo sido criado sem formação religiosa alguma, fui batizado na igreja católica, como quase todo mundo da minha idade. Ninguém nunca me perguntou se eu queria ser católico ou me incentivou a ir à missa ou fazer primeira comunhão e crisma. Ainda bem. Mas, não sei dizer como, aprendi a rezar o Pai Nosso, a ave Maria, e em uma fase da vida até o credo eu sabia. Era tudo muito mecânico, saía meio "tarara, tarara, tarara", amém.

Quando ouvia alguém falar em oração, a ideia que eu fazia era mais ou menos a mesma, mas mais rebuscada, cheia de elogios a Deus, palavras bonitas, mas que, na minha visão, não deixavam de ser a mesma coisa. Lembro inclusive do aniversário de uma amiga da minha mulher, crente de muita fé, no qual chegamos e ao invés de festa tinha lá uma roda enorme de pessoas e um pastor fazendo uma oração que não acabava mais. Eu olhava aquela gente orando e pensava: meu Deus! Tô fora. Tanto que não demoramos. Entramos, ficamos quase uma hora, saímos e a oração não tinha terminado ainda. Que "tarara" mais longo.

Quando minha mulher se converteu e passou a orar com frequência, ela se fechava em um quarto e ficava lá orando. Muitas vezes saÍa de lá com sinais claros de que tinha chorado, e eu me questionava, e cheguei a questioná-la também, como poderia ser bom orar se isso a fazia chorar.

Custei a entender o que é de fato a oração e o quão diferente é orar ao invés de rezar. E não tô criticando quem reza ou é de outra religião que utiliza a reza como meio de expressão de fé. Cada qual no seu cada qual. Mas, no fim das contas, eu entendi que o "tarara" da oração é completamente diferente, e que sequer é "tarara".

Defini na minha cabeça que a reza é um compromisso com a religião, um ritual que dispensa maiores comentários. Sei que muita gente até ora depois de rezar (muitos sem saber que estão orando), mas sem dar à oração valor maior do que a reza. O Pai Nosso, a ave Maria é que são o prato principal do momento, enquanto é através da oração que se chega a Deus.

Aquela oração longa do aniversário da amiga da minha mulher era o estilo daquele pastor, talvez por ser uma festa de aniversário com tanta gente participante da mesma igreja, e uma maneira de prestigiar a aniversariante. E provavelmente muito mais bonita do que eu tinha capacidade de perceber naquele momento, quando nem Deus eu tinha na minha vida.

Foi no processo de conversão que eu aprendi a orar, ouvindo meus irmãos e líderes de célula, e compreendendo que o poder da oração está na sinceridade das palavras que usamos para falar com Deus, porque ele se atém a verdade dos nossos sentimentos, no que sai com fé e reconhecimento ao seu poder e cuidado que tem com cada um de nós.

Qual o valor de ficar repetindo palavras que saem mecanizadas, decoradas, na maioria das vezes numa velocidade que nem quem fala entende o que está falando? Para que serve rezar um Pai Nosso sem o entendimento do real significado de cada uma de suas frases?

Orar é falar com Deus com intimidade, um desabafo sincero, um agradecimento de coração, um pedido com humildade. É se postar diante Dele na certeza de que está sendo ouvido, e isso é perceptível à medida que vamos aprendendo e praticando o ato de orar.

No início eu orava sem a convicção de estar sendo ouvido por Deus, me sentia até tolo por achar que estava falando sozinho, mesmo orando apenas em pensamento. Mas conforme fui me sentindo a vontade comigo mesmo para orar, comecei a sentir também que Ele me ouve. E mais do que isso, Ele me responde, como responde a qualquer um que ore com devoção e sinceridade.

Hoje, olhando para trás, vejo que em alguns momentos da minha vida, nos quais eu estava em desespero e clamei por Deus, mesmo não tendo a convicção do que estava fazendo, e ainda por cima era ateu, Ele me respondeu, e eu não soube reconhecer sua resposta. E me respondeu por um único motivo, a sinceridade do que saiu de dentro de mim nos meus apelos. Eu não sabia o valor Dele como o Deus que é, mas ele sabia o tamanho do meu desespero e me respondeu como sua criação que sou.

Não pretendo com isso dizer que quem reza está errado, não tenho poder para e nem pretendo fazer esse tipo de julgamento. Mas deixo aqui uma dica para quem quiser conversar com Deus para além do "tarara, tarara,  tarara, amém". Fale com Deus. Orar é transformar sentimentos em palavras, é falar com o coração mais do que com a boca. É dessa liberdade, dessa sinceridade que Deus se agrada. Fale com ele, seja em voz alta ou silenciosamente, fale com liberdade, com intimidade, porque ele nos conhece um a um, sabe nossas qualidades e defeitos, nossas necessidades e excessos, nossas verdades e mentiras, e os segredos que não contamos para nós mesmos.

Orar não é um ritual, não tem hora certa, nem lugar, não precisa de ritual, frase certa para começar e terminar, e nada para decorar e repetir. Orar é mais que um ato de fé, é falar direto com Aquele em quem depositamos a fé. E eu garanto pela minha experiência de crente de primeira viagem, Ele ouve e responde.

Posso não ter sido tão assertivo nas minhas palavras, mas tentei expressar o como a oração mudou minha maneira de encarar e falar com Deus. Mas, principalmente, a maneira como Ele passou a falar comigo. E hoje eu sei que o choro da minha mulher não era de tristeza, mas de emoção de falar com Deus.

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