Eu sempre tratei a sala de cinema como um templo sagrado.
Eu sempre tratei a sala de cinema como um templo sagrado. | ||
Nestes ambientes mágicos podemos cultuar cineastas, atores, atrizes e diversos profissionais talentosos que dedicam suas vidas para despertar emoções em pessoas desconhecidas. | ||
Uma experiência cinematográfica compartilhada na sala de cinema tende a ser muito mais marcante, seja pelo silêncio de tensão compartilhado com os demais espectadores, pelos gritos ocasionados por uma aparição surpreendente, pelo choro coletivo que um falecimento ficcional pode causar e até por quem te acompanhou naquela sessão. | ||
Particularmente consigo me lembrar com quem assisti a todos os filmes que vi no cinema. Pode parecer um tipo de memória inútil, mas é porque cada sessão representou um momento de vida. Muitos deles eu pude ver sozinho, mas em tantos outros tive companhias valiosas. | ||
Além disso, também consigo recordar em qual cinema assisti. Um dos mais inesquecíveis foi o Cine Palace, o último cinema de rua da minha cidade de origem (Juiz de Fora). | ||
Os shoppings dominaram completamente as experiências cinematográficas de Juiz de Fora. | ||
Por muitos anos o Palace resistiu. | ||
Até que em 2017 fechou. | ||
Fui na última sessão ver o filme francês "Perdidos em Paris". | ||
Ao contrário do sentimento de todos os presentes, o filme era leve e divertido. | ||
No entanto, eu só conseguia me emocionar ao lembrar de todos os momentos que vivi naquele pequeno cinema do interior mineiro. | ||
Eu frequentei o Palace por duas décadas. Sempre acompanhado de Maria Ilda e Celso, meus amados pais, foi lá que vi vários filmes nacionais infantis, como "Tainá" e "Simão - O Fantasma Trapalhão", dramas vencedores do Oscar "Menina de Ouro", "Crash - No Limite", "Blue Jasmine", etc) e muitos blockbusters ("Missão Impossível 3", "Harry Potter e a Câmara Secreta", "Homem-Aranha 2", entre outros). | ||
A sessão mais marcante, entretanto, acho que foi a de "O Ilusionista". | ||
Lançado em 2006, o filme de Neil Burguer me impactou absurdamente. | ||
Eu tinha apenas 13 anos e estava vendo uma história de mágica, amor, poderes, conflitos e suspense, então era natural que ficasse empolgado. Porém, foi mais importante do que eu pensava. | ||
Naquela exibição, a tela estava com uma mancha bem no centro. No início me incomodei. | ||
Entretanto, o filme era tão bom que esqueci até mesmo do meu incômodo. | ||
Além disso, "O Ilusionista" foi um dos primeiros filmes que me deixou "bugado". | ||
Refleti intensamente por alguns dias sobre tudo o que aconteceu naquela história, e isso rendeu boas discussões com meu pai, o cinéfilo mais importante da minha vida. A partir de "O Ilusionista", passei a entender que nem tudo no cinema precisa de explicações, respostas óbvias ou elementos perfeitos. | ||
Até hoje continuo em busca de um filme sobre ilusionismo e mágica melhor do que "O Ilusionista". Ainda não encontrei e possivelmente nunca vou encontrar, pois nenhum vai me propiciar a mesma experiência familiar, crítica e sensorial que vivi com o longa protagonizado por Edward Norton. | ||
As emoções e memórias estimuladas por uma obra audiovisual são muito mais importantes do que técnicas e defeitos (seja na concepção do longa ou na própria tela). O cinema sempre vai me remeter aos laços que consigo traçar entre pessoas e filmes, e o Palace sempre será um dos locais mais importantes nesse aspecto. | ||
É uma pena pensar em como os cinemas de rua - como o Palace - estão cada vez mais perto de se tornarem apenas lembranças vagas, mas é bom saber que pude vivenciar muitas etapas desses locais inesquecíveis com pessoas inesquecíveis. | ||
E isso não é ilusão. |