Caso Dupont de Ligonnès │ Cena do Crime
29
1

Caso Dupont de Ligonnès │ Cena do Crime

O Caso Dupont de Ligonnès abalou a França, envolve a nobreza e um grande mistério sem solução.

Ariadne Martins
15 min
29
1

Oi Darks, a cena do crime de hoje é: Caso Dupont de Ligonnès

Email image

O caso Dupont de Ligonnès, foi um caso que me deixou muito intrigada, pensando nas origens e no que pode ter acontecido. Além disso, refleti no que há por trás das motivações e no desfecho que é um grande mistério. É aquele tipo de caso que muito se especula, mas não há como saber o que aconteceu.

Eu tivo contato com esse caso em uma série documental do Netflix chamado Mistérios sem solução. Inclusive é uma excelente série que aborda mistérios de vários tipos, não fica somente nos crimes, então recomendo pra quem gosta de ficar quebrando cabeça com desfechos sem explicação.

Email image

A Família Dupont de Ligonnès era uma família aristocrata de muito prestígio, parte da linhagem de mosqueteiros e vivia na cidade de Nantes no Oeste da França.

Email image

E morava em um bairro central de classe média alta na Avenida Shuman, 55.

Email image
Email image

A Família era composta pelo pai: Conde Xavier Dupont de Ligonnès, ele era um empresário que se importava muito com toda essa questão de linhagem, de ser nobre e filho de um conde; a mãe: Agnès que trabalhava em uma escola católica, era uma mulher muito tradicional e católica e seus quatro filhos:

Email image

Arthur de 20 anos, o mais velho. Na verdade, ele era biologicamente apenas filho de Agnès e foi assumido como filho de Xavier, o que era muito incomum em pessoas que consideravam tão importante as questões de linhagem e sangue nobre, mas Xavier o adotou dando um nome nobre a ele. Ele estudava em faculdade particular católica.

Thomas de 18 anos e estudava musicologia.

Anne de 16 anos, ela era uma moça muito bonita e chegou a ser modelo de catálogos de compras por correspondência e estudava em uma escola católica privada que era a mesma do filho mais novo

Benoît de 13 anos.

Uma família perfeita, com status, estrutura, felicidade e condições financeiras.

Pelo menos aparentemente.

No dia 11 de abril de 2011 a vizinha e costureira da família percebeu a casa completamente fechada e silenciosa, algo que era completamente incomum, visto que, a família era grande e com presença sempre percebida pela vizinhança. Além disso, mesmo quando viajavam eles não fechavam a casa completamente como estava naquele dia. Essa mesma vizinha também percebeu que havia um bilhete na caixa de correio dizendo para parar de entregar cartas na casa.

Imediatamente, ela teve o pressentimento de que havia algo errado. Passaram-se dois dias da semana, e ela ao passar na casa viu que estava do mesmo jeito, tudo fechado.

Então, ela decidiu chamar a polícia.

No dia 13 de abril de 2011 a polícia revista toda a casa. Essa revista foi feita pela polícia municipal, que em Nantes representa algo como uma visita familiar para fazer uma averiguação simples. Como tudo estava fechado, decidem chamar um chaveiro para abrir a porta.

Ao fazerem essa averiguação no primeiro momento, perceberam que tudo estava no lugar e o que faltava eram alguns lençóis das camas e alguns armários estavam abertos. Então, a primeira constatação foi que a família saiu por espontânea vontade. Pois, nem os 2 cachorros da família estavam lá.

Um fato que chamou atenção era que todos os carros estavam lá exceto um Citroën C5, as pessoas refletiram que seria bem improvável 6 pessoas e 2 cachorros caberem em apenas 1 carro, mesmo que fosse um carro grande.

No dia 14 de abril de 2011, começaram a chegar cartas enviadas por Xavier e Agnès para parentes e amigos deles explicando que Xavier já tinha trabalhado pro governo americano e, que ele havia sido recrutado para trabalhar infiltrado em um cartel de drogas. Por isso, eles iriam sumir por um tempo porque teriam que viver sob proteção e com identidades diferentes. Concluíram a carta pedindo segredo.

Email image

O fato deles terem uma boa e respeitada reputação, fez com que essas cartas dificilmente fossem desacreditados por amigos e família, então, eles consideraram toda essa história plausível, embora difícil de acreditar.

Mas a família de Agnès não acreditou e imediatamente enviou essa carta para o promotor de justiça da cidade de Nantes, pois, conheciam bem a Agnès e sabiam que ela não iria embora com os filhos assim: sem falar nada e acharam a carta um pouco sem sentido.

No dia 15 de abril de 2011 a polícia retorna à casa dos Dupont de Ligonnès, dessa vez, comprometida a fazer uma investigação mais detalhada e é percebido que as fotos que ficavam pela casa não estão nas molduras. Essa fato fez os investigadores pensarem que foram levadas por terem grande significado para a família, tentando mais uma vez afirmar que eles haviam ido embora. Mas a família da Agnès não aceita isso e continua pressionando a polícia.

Ocorrem outras visitas policiais nos dias 18, 19 e 20 de abril e continuavam a não encontrar nada de suspeito pela casa.

No dia 21 de abril de 2011 o promotor de justiça Xavier Ronsin estava dando uma entrevista coletiva em frente ao tribunal, e disse que não era normal o desaparecimento da família, sendo assim, uma investigação importante seria aberta para tratar daquele caso. No meio da coletiva, o telefone dele tocou e ele interrompeu a entrevista, ele volta e a encerra, adiando-a para um outro momento. A imprensa logo percebe que algo aconteceu.

Email image

Naquele mesmo momento, ocorria a última visita da polícia na casa dos Dupont de Ligonnès e um tenente encontrou algo suspeito na parte de baixo da varanda da casa. Ao cavarem debaixo da varanda encontram sacos plásticos amarrados com fita adesiva e ao abrir encontram corpos de Agnès, Arthur, Thomas, Anne, Benoît e dos 2 cachorros da família dentro desses sacos.

Email image
Email image
Email image
Email image
Email image
Email image

Os corpos de Agnès, Arthur, Anne, Benoît e dos 2 cachorros estavam na mesma cova e o de Thomas estava em uma cova diferente.

Os corpos enrolados em cobertores, embalados em sacos plásticos e amarrados com fita adesiva. Junto com cada corpo primeiros símbolos religiosos: vela, cruz, rosário e como fotos que estavam fora das molduras dentro da casa.

As pessoas que investigaram ao caso, compreenderam esses símbolos como uma simulação de um enterro católico e também o apego do assassino às vítimas.

Com toda essa triste descoberta, ainda faltava sentido: Onde estava Xavier Dupont de Ligonnès? Procuraram na casa, porão, sótão e nada dele.

Logo, ele se torna o principal suspeito. Com isso, um juiz emite um mandado de prisão e envia também para os países que fazem parte da Interpol, ou seja, é feito um mandado a nível internacional.

A história vira uma verdadeira tragédia familiar que chama a atenção do mundo todo, as pessoas próximas estão acabadas com essa situação. E a casa da família começa a ser chamada de casa do terror e o caso é chamado na mídia como massacre de Nantes.

Então, começa uma grande busca para compreender o que aconteceu.

Na autópsia são descobertos traços de sonífero nos corpos dos filhos, ou seja, eles anteriores sido dopados antes de serem mortos. No corpo de Agnès não havia sonífero, porque ela uso de uma máquina para apneia do sono. Para quem não sabe, a apneia do sono é uma doença crônica que causa obstrução parcial ou total das vias respiratórias fazendo com que haja paradas respiratórias repetidas e por um tempo, enquanto elas dormem, então as pessoas acordam com muita frequência. Sendo assim, uma máquina serve para fazer a oxigenação correta das vias respiratórias da pessoa e ela consegue dormir sem nenhum comprometimento.

Essa máquina da Agnès foi parada às 3h da manhã entre os dias 3 e 4 de abril. De acordo com constatação política, ela foi a primeira vítima. Depois os filhos.

No caso de Thomas haveram diferenças: ele estava em uma cova diferente e ele não foi morto ao mesmo tempo que a mãe dele e os irmãos.

Pela cronologia, todos estavam juntos no sábado e domingo, mas Thomas teve que voltar à Universidade dele. O massacre ocorre na madrugada de domingo de segunda e na terça o Xavier ligou para o Thomas, inventando que ele precisa voltar urgentemente porque a mãe dele havia sofrido um acidente de bicicleta e estava em coma. Thomas conta isso pro colega dele de faculdade e volta na terça à noite pra casa dele, portanto, ele foi assassinado de terça pra quarta, por isso a diferença na cova.

Cada uma das matadas foi morta da mesma forma metódica: de pijama, enquanto dormia, com 2 tiros na cabeça, por um rifle .22.

Porém, nenhum dos vizinhos ouviu esses tiros e não há sequer uma gota de sangue na casa inteira: quartos, sala, cozinha, banheiro, moveis, nada! Absolutamente nada de sangue nem DNA ou digital nos corpos.

Ao mesmo tempo que ocorrem essas descobertas sobre o crime, a política está à procura do Xavier como principal suspeito.

Email image

No dia 22 de abril de 2011 o carro do Xavier, o C5 é encontrado em Roquebrune-sur-Argens.

Email image

A partir disso, é possível construir uma cronologia do crime:

O massacre ocorreu no dia 4 de abril;

No dia 5 ocorre a morte de Thomas;

No dia 6 Xavier chega a ser visto normalmente nas ruas, entra em contato com as escolas e faculdades dos filhos, os desmatricula e cancela correspondências

Uma semana depois, ele pega o carro e sai de Nantes.

O carro dele é fotografado por radares no caminho, ele usa cartão em restaurantes, saca dinheiro, se hospeda em hotéis. Sem pressa, sem fuga, sem tentativa de se esconder até chegar em Roquebrune-sur-Argens.

Nesse hotel que ele se hospeda, a polícia recupera as imagens das câmeras de segurança, e conseguem uma imagem dele andando pelo estacionamento do hotel com uma bolsa que estava com um objeto longo que aparentava ser o rifle que matou a família dele.

Ele olha para a câmera e anda até sumir.

Até o momento não se sabe o que aconteceu com Xavier Dupont de Ligonnès.

Essa região que ele seguiu andando é uma região montanhosa e com mar então começam muitos grupos de busca por ele ou por pistas dele, isso é feito por 2 meses, vasculham montanhas, rochedos, buracos, mas nada foi encontrado.

Atualizações:

No dia 14 de outubro de 2019 um homem com o nome Guy João, foi preso no aeroporto de Glasgow na Escócia, ele era suspeito de ser Xavier Dupont de Ligonnès.

A polícia recebeu denúncias anônimas afirmando que Guy era o Xavier e a polícia achou plausível e decidiu prender ele.

O Guy João era um luso francês que negou várias vezes ser o Xavier.

No primeiro momento fizeram exame de impressões digitais e deu compatibilidade de 5 pontos em comum com o Xavier, mas são necessários 12 pontos em comum pra ser considerado relevante e mesmo assim mantiveram o Guy João detido.

Fizeram buscas na casa dele que ele viveu a vida inteira e, todos os conhecidos dele afirmaram que conheciam ele há 30/40 anos. Além disso, ele era mais velho que o Xavier, mas a ânsia da polícia em prender o Xavier naquele momento, deixou de lado todas essas informações.

Por fim, 24 horas depois de ser detido, ele tinha sido submetido a testes de DNA que confirmaram que foi tudo um engano e ele não era o Xavier Dupont de Ligonnès.

Outra atualização foi feita em 2020 com a publicação de um livro chamado Amigo Impossível de um amigo do Xavier: Bruno de Stabenrath, que aparece fazendo comentários no documentário sobre esse caso. Ele demonstra muita indignação e acredita que o Xavier fugiu.

Esse livro é resultado de 9 anos de investigação feitas pelo Bruno, eles se conheciam desde os 17 anos. Ele reafirma que Xavier fugiu e reconstruiu a vida dele e mesmo chocado com essa tragédia, ele não consegue entender como alguém tão amável foi capaz de fazer todo esse massacre. O livro também revela intimidades da família do Xavier como: uma educação extremamente rígida e religiosa sofrida pela mãe dele e fala sobre traições, práticas íntimas extraconjugais das mais distintas formas que seriam motivações para todo esse comportamento dele.

Atualmente, Xavier Dupont de Ligonnès permanece como um dos homens mais procurados da França.

Email image

Comentários:

Onde e como exatamente houveram essas mortes? Como eu disse: não há sequer uma gota de sangue na casa inteira: quartos, sala, cozinha, banheiro, moveis, nada! Absolutamente nada de sangue, DNA ou digital nos corpos. Então é algo verdadeiramente misterioso sobre esse caso.

Ao considerar todos os passos desse crime e Xavier Dupont de Ligonnès como o assassino. O raciocínio construído levantado por esse documentário da Netflix é que ao matar sua família, ele mata sua linhagem familiar, pois, ele era o herdeiro do nome Dupont de Ligonnès e encerrar uma linhagem na visão da nobreza é uma tragédia. Isso fica mais nítido quando é refletido no fato de Thomas ter sido o último a morrer. Há a tese de que em algum momento o Xavier hesita nessa questão de encerrar a linhagem, pois, Thomas seria de fato o seu primogênito biológico, então ele seria o herdeiro do nome Dupont de Ligonnès.

Outro ponto abordado pelo documentário é que ao investigar a fundo a vida de Xavier ­Dupont de Ligonnès, eles não estavam tão bem como aparentavam.

Houve uma tentativa de mudança da família para a Flórida no início dos anos 2000 que acharam que seria simples, mas eles não conseguem ir, voltam à França e por causa dessa tentativa frustrada todo o dinheiro da família é gasto. Então desse momento até o assassinato a família está numa decadência financeira muito forte e também descobrem que apesar de se apresentar como um empresário bem-sucedido, as empresas dele de fato nunca foram um sucesso e que não demoraria muito para que a vida de fachada dele seria descoberta.

Ele até se apoia em uma esperança de herança com a morte do pai dele em 20 de janeiro de 2011, chega a limpar o apartamento do pai a procura de algo: dinheiro, documentos de herança, mas não tinha nada.

Ao meu ver, isso bate nele como de fato ele só tinha nome e que isso serviria muito pouco pro que ele estava precisando: não serviu pra ir pros Estados Unidos, não serviu para se manter financeiramente, muito pelo contrário, isso pesava cada vez mais para ele.

E isso fortifica a tese de que pela sua vaidade e orgulho, que a descoberta da própria família e da sociedade da sua ruína financeira seria inaceitável, a ponto de “matá-los para que eles não sofressem com a desonra”.

Ele não encontra dinheiro, mas encontra uma arma que era exatamente um rifle de calibre 22 e em fevereiro ele obtém licença para armas de fogo, faz aulas de tiro e compra um silenciador, o que poderia explicar porque nenhum vizinho ouviu tiros na noite dos assassinatos. É ressaltado no documentário, que nunca foi algo que fazia parte dos interesses de Xavier de acordo com os amigos.

Muitos amigos e familiares não acreditam que Xavier é um possível assassino da família, dizem que ele os amava mais que tudo, era um superpai, uma pessoa companheira que se importava e que nunca seria capaz de algo assim.

Ainda argumentam que o espaço da casa e da varanda é muito baixo e que Xavier possuía um problema nas costas e não conseguiria cavar os buracos realizar um trabalho tão demorado e pesado abaixado.

Outro ponto é que não ter DNA ou digital nos corpos corrobora para os que acreditam que não foi o Xavier, por não ter provas que não o comprometa de fato. Além dele nunca ter tido problemas com a justiça nem nada do tipo, então como do nada ele se tornaria uma pessoa que cometeria um crime tão minuciosamente complexo? Sendo assim, eles têm convicção que outra pessoa fez isso.

Ver Xavier nas câmeras antes de desaparecer gera dois tipos de teoria: um de suicídio e de desaparecimento para recomeçar a vida com outra identidade.

Quando ele sai de Nantes em direção a Roquebrune-sur-Argens, ele não faz questão nenhuma de se esconder: usa cartão de crédito, em restaurantes em cidades do caminho, em hotéis, em caixa eletrônico.

Email image
Email image

Ele deixa rastros e o fato dele não ter pressa até o que seria o destino final, curtindo cada lugar que ele teria história, sem percorrer muitos milhas de uma vez. Para alguns, isso soa como uma última vivência daquilo tudo, principalmente ao olhar pela última vez para a câmera “se despedindo” e portando aparentemente a arma mesma que matou sua família, sabendo que seria visto ali. O caminho que ele seguiu é uma região montanhosa com muitos lugares que poderia ser difícil encontrar o corpo dele.

Outros já apontam que tudo foi uma encenação para criar um caminho óbvio dessa linha de raciocínio de suicídio pelos elementos envolvidos, o que faria como pessoas não procurarem tanto por ele dando tempo e espaço para uma fuga e mudança de identidade. Ele poderia pegar um barco, um navio de carga, uma auto estrada, um trem. Além disso, quem acredita que ele está vivo, acredita que ele está na América Latina, possui uma aparência comum e poderia se disfarçar facilmente.

Independente de qual das duas teorias seja verdade, fica claro que a forma com a qual os corpos foram escondidos e com tantas precauções para gerar mais trabalho e demora, foi feito para ganhar tempo e conseguir completar todo esse caminho que ele percorreu.

Se você tiver alguma sugestão para o próximo Cena do Crime, envia por e-mail: canaldarkacademy@gmail.com ou pelo direto do instagram: @canaldarkacademy. Se quiser ver o vídeo desse caso, de uma olhada no meu canal no YouTube: https://www.youtube.com/channel/UCYfpZrpj-8vr9Xlw66t2_MA  

FONTES:

1.       Série Documental Netflix - Mistérios Sem Solução - Volume 1 - Episódio 3: A Casa do Terror

2.       https://www.wort.lu/pt/mundo/o-luso-frances-que-foi-detido-como-o-pior-assassino-de-franca-a-policia-enganou-se-5da4c293da2cc1784e34d9d8

3.       https://www.ijxdroid.com/2020/10/25/caso-xavier-dupont-de-ligonnes-novas-revelacoes-apos-a-publicacao-de-um-livro-de-um-de- seus-amigos /