"Muleque" (de) da vila
12
1

"Muleque" (de) da vila

Prazer, me chamo Alfredo, sou vendedor de livros de saúde, ajudante de pintor, vendedor de cachorro quente, ajudante de pedreiro, vendedor em comércio local, entregador, cobrador, acompanhante de idoso, jardineiro, universitário, auxiliar de ...

Alfredo Wagmacker
3 min
12
1

Prazer, me chamo Alfredo, sou vendedor de livros de saúde, ajudante de pintor, vendedor de cachorro quente, ajudante de pedreiro, vendedor em comércio local, entregador, cobrador, acompanhante de idoso, jardineiro, universitário, auxiliar de serviços gerais, cozinheiro, auxiliar administrativo, porteiro, analista de suporte N2, programador, desenvolvedor full-stack.

Essas são algumas das profissões que, ao longo dos meus poucos 31 anos, tive o privilégio de exercer. Atuo como profissional de T.I. há 12 anos, logo, você pode imaginar, e acredite, trabalhei nessas demais coisas antes disso, iniciando aos 10 anos. Quero algum sentimento de pena? Mérito? Não, de maneira alguma! Quero apenas ser entendido ao compartilhar um pouco do meu sentimento de vitória. Sim, eu já sou um vitorioso. Me sinto forte, vitorioso e orgulho pra caramba! (E apenas uma ressalva, isso não tira minha ambição de continuar vencendo, muito pelo contrário, o histórico desse meu progresso, mostra pra mim mesmo o poder de escalar com resiliência que eu tenho.)

Bem, nasci numa família linda, de 6 filhos, eu o mais novo. Linda de amor, fé e esperança, mas muita dificuldade financeira. Então, seguindo muito exemplo, e pra lutar pelo que eu queria - inicialmente, ir aos acampamentos de escoteiro, ter meus uniformes, sem ter que fazer minha mãe tirar o dinheiro do pão - eu corri pelo meu, desde cedo. Naveguei dos 10 aos 19 anos por todas essas profissões, até chegar na área em que estou hoje, sem parar. Nunca foi uma opção. Na adolescência, esses trabalhos pagavam hora um acampamento, outra um sapato, uma camisa, um quilo de carne ou verduras.

Tenho muito orgulho dos meus pais, de tudo que fizeram, do quanto se esforçaram, de onde vieram, e tudo que me ensinaram. Tenho orgulho do que vivi, e cada "tapa na cara" que eu levei da vida, ainda novo. Fui humilhado algumas vezes ainda criança, e posso reproduzir algumas delas bem latentes em minha mente, quando um vizinho me disse: "Você nunca vai fazer/se formar em uma faculdade, Alfredo!", ou quando fui humilhado por um pedreiro, me chamando de burro perante todos os outros colegas na obra, ou outras humilhações como comer uma comida velha, na casa da senhora com a qual eu passava parte do dia fazendo cia, porque ela mesma não tinha tempo para ficar com o pai, idoso. Cada situação dessas, me deram uma força muito grande para que lutasse em busca dos meus sonhos e objetivos.

Pra ter ideia, nasci numa cidadezinha de 42 mil habitantes, no nordeste de Minas Gerais, divisa com Espírito Santo e Bahia. A capital mais próxima? 378km, Vitória-ES. Estudei em colégio público, sempre. Mas meus pais sempre incentivaram, mais até mesmo que trabalhássemos, que estudássemos! Minha mãe dizia: "O conhecimento, é o único bem que ninguém pode lhe tirar!" Sábia! Então eu sonhava com ele! Saí de casa pra buscar esse conhecimento, recém feito 17 anos e após concluir o ensino médio. Fui pra São Paulo, e claro! Totalmente contra gosto dos meus pais - eles não queriam que eu fosse buscar esse conhecimento em um lugar tão distante e, na visão deles, perigoso, mas eu fui! Lá, como bolsista, ainda passei algumas humilhações. Limpei chão de cozinha, banheiro, até ser auxiliar do chef no restaurante da faculdade. Também atuei como auxiliar administrativo e porteiro no setor esportivo. E a humilhação não está em nenhuma das funções/áreas, sim nos possíveis "superiores" encontrados ali. Pessoas fracas com algum poder, que se passaram. Mas tá tudo bem, eu também ganhei força ali, e consegui utilizá-la como combustível para seguir, e dar passos ainda mais ambiciosos! Busquei independência, migrei a faculdade para tecnologia, e em 15 dias, comecei a trabalhar. Começava uma nova fase, com muito aprendizado, desafios, perrengues, etc.. mas um dia eu conto um pouco mais sobre isso.

Contei parte da história, para que você entenda o meu: "Eu venci!" Sou um profissional muito bem estabelecido, construí minha carreira ao longo de 12 anos, e posso fazer inúmeras coisas com ela. Hoje, quero além de compartilhar essa história, dizer que a vitória é relativa, o sucesso é relativo, logo, a felicidade também, pois atrás de todo profissional, existe um ser humano, uma história. E essa é parte da minha, obrigado por ler!

Um abraço!

Alfredo da Vila Nova, Nanuque - MG.

Email image
Email image