De acordo com o dicionário Houaiss da língua portuguesa, uma das acepções de “brochar” é: “verbo intransitivo - perder temporária ou definitivamente a capacidade de ter uma ereção”. O mesmo dicionário traz ainda outro sentido para o verbo: “p...
De acordo com o dicionário Houaiss da língua portuguesa, uma das acepções de “brochar” é: “verbo intransitivo - perder temporária ou definitivamente a capacidade de ter uma ereção”. O mesmo dicionário traz ainda outro sentido para o verbo: “perder o entusiasmo, o interesse; desanimar”. | ||
Com essa última definição em mente, posso dizer com toda segurança que há milhões de homens e mulheres brochas no Brasil. Estamos cansados, depressivos, desiludidos, desesperançosos, desesperados com a situação do nosso país. | ||
Ontem, os corajosos que saíram às ruas por qualquer outro motivo se depararam com uma massa de idiotas vestidos de amarelo que literalmente sequestraram o mais importante feriado nacional. | ||
Foi um verdadeiro festival de sandices, sobretudo nas capitais do país. Os pedidos de destituição dos ministros do STF sobrepuseram o significado histórico da Independência nacional; os chamamentos à intervenção militar foram mais efusivos que a demonstração da necessária força das armas na defesa de nossa soberania; os gritos contra uma quixotesca ameaça comunista abafaram a celebração de nossa brasilidade! | ||
Ainda assim, nada do que aconteceu ontem deve ser apagado da história brasileira. Em 2122, se é que haverá humanidade na terra até lá, nossa sociedade lembrará da vergonha do bicentenário como consequência de uma distante pandemia de ignorância e estupidez. | ||
No âmbito político da coisa, para além dos crimes eleitorais e atos de improbidade administrativa (passíveis de configurar crime de responsabilidade), o falocentrismo do presidente chamou novamente a atenção. Parece que ele não aprendeu como se comportar para tentar enganar as mulheres e conquistar seu voto. Bom para nós, ele não se aguenta por muito tempo! Sempre se revela. Em uma demonstração tosca de virilidade, o machista se vangloriou aos berros de sua suposta “imbrochalidade”. | ||
Muitos de seus seguidores devem ter adorado esse show. Mas a verdade é que o Brasil, à esquerda e à direita, ainda é bastante machista e falocêntrico. O ato de brochar ainda é tabu e vergonha para os homens, pois devemos todos ser infalíveis, superiores e rígidos. Devemos estar sempre disponíveis para a ação. | ||
Essa masculinidade nos faz muito mal. | ||
Está tudo bem, caro leitor, você pode brochar e continuar sua vida normalmente. Nós, homens, não precisamos nos cobrar para sermos sempre os mais fortes, os superiores. Está tudo bem se formos mais fracos que nossas mulheres e também está tudo bem se elas forem superiores a nós em qualquer aspecto que seja, até mesmo no apetite sexual. | ||
Bolsonaro não entendeu isso. Muitos de nós, homens e mulheres, não entendemos isso ainda e, por isso, nossas vidas e nosso processo eleitoral ainda se baseiam na disputa de força, de quem fala mais grosso, de quem tem a maior passeata e o maior número de toalhas vendidas. Quase tudo se resume a uma disputa de tamanho, diâmetro ou rigidez. O falo predomina neste país. | ||
Minhas sinceras desculpas, Dilma Rousseff. Não estávamos (nem estamos) preparados para sermos liderados por uma mulher. | ||
Precisamos ser uma sociedade mais madura, para poder exercermos uma política mais propositiva, isso é fato. No entanto, enquanto isso não acontece, é necessário tirar esta figura desprezível do poder. Não podemos mais nos submeter a esse tipo de vergonha anualmente. Chega dessa misoginia política e dessa impotência gestora. | ||
Precisamos de melhores políticas públicas, mais seriedade nos cargos de poder e mais comprometimento com nossos símbolos nacionais. | ||
O Brasil precisa de mais cérebro e menos falo! | ||
PS: qualquer tentativa de minimizar a quantidade de pessoas nas manifestações de ontem é bastante tola. Havia, sim, muita gente. Milhões de brasileiros e brasileiras foram às ruas, afinal os 32% do eleitorado representam quase 50 milhões de pessoas. A ameaça da extrema direita é real e deve ser levada a sério! |