Dia 23 (7 de setembro) - Um bicentenário brochante
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Dia 23 (7 de setembro) - Um bicentenário brochante

De acordo com o dicionário Houaiss da língua portuguesa, uma das acepções de “brochar” é: “verbo intransitivo - perder temporária ou definitivamente a capacidade de ter uma ereção”. O mesmo dicionário traz ainda outro sentido para o verbo: “p...

Diogo Machado
4 min
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De acordo com o dicionário Houaiss da língua portuguesa, uma das acepções de “brochar” é: “verbo intransitivo - perder temporária ou definitivamente a capacidade de ter uma ereção”. O mesmo dicionário traz ainda outro sentido para o verbo: “perder o entusiasmo, o interesse; desanimar”.

Com essa última definição em mente, posso dizer com toda segurança que há milhões de homens e mulheres brochas no Brasil. Estamos cansados, depressivos, desiludidos, desesperançosos, desesperados com a situação do nosso país. 

Ontem, os corajosos que saíram às ruas por qualquer outro motivo se depararam com uma massa de idiotas vestidos de amarelo que literalmente sequestraram o mais importante feriado nacional.

Foi um verdadeiro festival de sandices, sobretudo nas capitais do país. Os pedidos de destituição dos ministros do STF sobrepuseram o significado histórico da Independência nacional; os chamamentos à intervenção militar foram mais efusivos que a demonstração da necessária força das armas na defesa de nossa soberania; os gritos contra uma quixotesca ameaça comunista abafaram a celebração de nossa brasilidade!

Ainda assim, nada do que aconteceu ontem deve ser apagado da história brasileira. Em 2122, se é que haverá humanidade na terra até lá, nossa sociedade lembrará da vergonha do bicentenário como consequência de uma distante pandemia de ignorância e estupidez.

No âmbito político da coisa, para além dos crimes eleitorais e atos de improbidade administrativa (passíveis de configurar crime de responsabilidade), o falocentrismo do presidente chamou novamente a atenção. Parece que ele não aprendeu como se comportar para tentar enganar as mulheres e conquistar seu voto. Bom para nós, ele não se aguenta por muito tempo! Sempre se revela. Em uma demonstração tosca de virilidade, o machista se vangloriou aos berros de sua suposta “imbrochalidade”.

Muitos de seus seguidores devem ter adorado esse show. Mas a verdade é que o Brasil, à esquerda e à direita, ainda é bastante machista e falocêntrico. O ato de brochar ainda é tabu e vergonha para os homens, pois devemos todos ser infalíveis, superiores e rígidos. Devemos estar sempre disponíveis para a ação. 

Essa masculinidade nos faz muito mal.

Está tudo bem, caro leitor, você pode brochar e continuar sua vida normalmente. Nós, homens, não precisamos nos cobrar para sermos sempre os mais fortes, os superiores. Está tudo bem se formos mais fracos que nossas mulheres e também está tudo bem se elas forem superiores a nós em qualquer aspecto que seja, até mesmo no apetite sexual.

Bolsonaro não entendeu isso. Muitos de nós, homens e mulheres, não entendemos isso ainda e, por isso, nossas vidas e nosso processo eleitoral ainda se baseiam na disputa de força, de quem fala mais grosso, de quem tem a maior passeata e o maior número de toalhas vendidas. Quase tudo se resume a uma disputa de tamanho, diâmetro ou rigidez. O falo predomina neste país.

Minhas sinceras desculpas, Dilma Rousseff. Não estávamos (nem estamos) preparados para sermos liderados por uma mulher.

Precisamos ser uma sociedade mais madura, para poder exercermos uma política mais propositiva, isso é fato. No entanto, enquanto isso não acontece, é necessário tirar esta figura desprezível do poder. Não podemos mais nos submeter a esse tipo de vergonha anualmente. Chega dessa misoginia política e dessa impotência gestora. 

Precisamos de melhores políticas públicas, mais seriedade nos cargos de poder e mais comprometimento com nossos símbolos nacionais.

O Brasil precisa de mais cérebro e menos falo!

PS: qualquer tentativa de minimizar a quantidade de pessoas nas manifestações de ontem é bastante tola. Havia, sim, muita gente. Milhões de brasileiros e brasileiras foram às ruas, afinal os 32% do eleitorado representam quase 50 milhões de pessoas. A ameaça da extrema direita é real e deve ser levada a sério!