Dia 7 (22 de agosto) - Já está tudo planejado
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Dia 7 (22 de agosto) - Já está tudo planejado

Não ficarei aqui listando as mentiras ditas por Bolsonaro durante a entrevista ao Jornal do Bonner. Sabemos que o atual Comandante em chefe das FAs brasileiras é um mentiroso (patológico para muitos). Sim, Bolsonaro mente muito. Sem pudor. No...

Diogo Machado
3 min
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Leah Millis/Reuters
Leah Millis/Reuters

Não ficarei aqui listando as mentiras ditas por Bolsonaro durante a entrevista ao Jornal do Bonner. Sabemos que o atual Comandante em chefe das FAs brasileiras é um mentiroso (patológico para muitos). Sim, Bolsonaro mente muito. Sem pudor. No entanto, é muito difícil discernir onde começa e onde termina a mentira espontânea e a mentira planejada. Explico.

Sabemos, desde os tempos de CQC, que o atual Presidente é um homem tosco e pouco acabado no refino e na educação. Qualquer tipo de etiqueta passa longe… Curiosamente, muitos brasileiros, sobretudo homens acima dos 40 anos, entendem essa rudeza e falta de educação no trato com as pessoas como “espontaneidade”. O indivíduo é um péssimo exemplo a ser seguido e, ainda assim, acumula seguidores. Tenho para mim que esses seguidores têm dentro de si características daquele que seguem e defendem, e o fazem para defenderem a si mesmos.

Pois bem, suas mentiras deslavadas fazem parte de uma estratégia de governo e de campanha. Trata-se de afirmar o que ele bem entender para sustentar sua base de apoio mais rígida (que fica em torno dos 25% a 30%). Esse núcleo duro de apoiadores não quer nem saber se a Cloroquina não é eficaz ou se o garimpo ilegal está com carta branca para atuar na Amazônia. Para eles, a representatividade deles mesmos no Palácio do Planalto é o que importa.

Com essa estratégia básica, vem a segunda, que tenta conquistar novos eleitores: o dinheiro. Bolsonaro focou, em seu minuto final, em aspectos urgentes da economia brasileira que impactam diretamente o eleitor que não é tradicionalmente dele (os mais vulneráveis). Falou (mentindo, claro) que, graças a seu governo, a gasolina baixou consideravelmente de preço sem canetadas. Falou também sobre o Auxílio de 600 reais. Nesse momento, ele tentou atingir parte dos eleitores que podem migrar de um lado para o outro, pois não há rigidez ideológica entre eles. Transitam para o campo político que lhes ajuda a sobreviver, simples assim.

O mais preocupante, no entanto, é a terceira estratégia, claramente exposta na entrevista: a contestação do resultado das urnas.

Donald Trump provou para Bolsonaro, em janeiro de 2020, que não há prejuízo algum em incitar a contestação da democracia e o resultado das eleições. Perdida a batalha eleitoral, a contestação mantém acesa a chama do fanatismo, enfraquece as instituições, gerando ainda mais insegurança para o Presidente eleito, e deixa seu nome em evidência, nas redes sociais e na grande mídia. Pense comigo, caro leitor… a cada deslize de Joe Biden (retirada das tropas do Afeganistão, inflação em alta, guerra na Ucrânia) o nome de Donald Trump ressurge como um assombro.

É isso que já está acertado entre Bolsonaro e seus pares. Irão contestar as eleições e ponto final! Na entrevista de ontem, disse que respeitaria o resultado “se as eleições forem limpas”. Mas quem determina, para ele, a higidez dessas eleições? A comissão de militares que participará da fiscalização das eleições? Não importa o que ateste o TSE, o TCU, a OAB, observadores internacionais como a União Europeia e a OEA. 

Se Bolsonaro perder as eleições, haverá muita instabilidade, contestação do resultado e, no limite, embora eu ache improvável, tentativa de golpe.

Ps: Bonner e Renata falharam ao não indagar o candidato a respeito do furo (inconstitucional) do Teto de Gastos, tão defendido pelo Posto Ipiranga, e, quando confrontado a respeito do apoio do centrão, a “cuestão” do Orçamento Secreto.