Dia 70 (24 de outubro) - É preciso murar o medo
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Dia 70 (24 de outubro) - É preciso murar o medo

“Há, neste mundo, mais medo das coisas más do que coisas más propriamente ditas”.

Diogo Machado
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“Há, neste mundo, mais medo das coisas más do que coisas más propriamente ditas”.

Esta frase foi proferida pelo escritor moçambicano Mia Couto, em uma linda palestra realizada no ano de 2015. 

Ela não podia ser mais atual.

É certo que hoje devemos ter medo das mudanças climáticas, da fome, da violência contra as mulheres e do cada vez mais possível uso de armamentos nucleares. Muitos dos nossos medos, contudo, são fantasmas criados por nós mesmos ou incutidos em nosso imaginário por terceiros.

Esse é um ponto da natureza humana bastante explorado por grupos de indivíduos que detêm poder, seja ele político, econômico ou comunicativo.

Exploram-se o medo do desconhecido, o medo da ameaça externa, o medo da perseguição religiosa e muitos outros medos que levam as pessoas a reagirem de modo irracional.

Nestas eleições, a candidatura do atual presidente explora exatamente isso. 

Há uma campanha deliberada para se criar uma perigosa divisão na sociedade brasileira, com base no medo, entre o bem e o mal. Assim, atribui-se aos rivais políticos a condição de inimigo a ser exterminado pelos “cidadãos de bem”. Em um contexto no qual impera o ódio, a ideologia tornou-se crença, a política tornou-se religião e, o que era religião, passou a ser estratégia de poder. 

É justamente no púlpito das Igrejas neopentecostais que a campanha de Jair Bolsonaro, originalmente, passou a explorar o medo nas pessoas, especialmente em relação aos costumes, como mecanismo para garantir sua reeleição e manter seu projeto de destruição da nossa sociedade.

Inúmeros são os eleitores que estão votando por medo de fantasmas criados pelo bolsonarismo. Na vida privada, cristãos conservadores temem que suas crianças sejam vítimas da imaginada ideologia de gênero, cujo objetivo seria a sexualização precoce e a orientação deturpada da sexualidade. Assim, ainda que esse projeto não exista, esses fiéis se opõem à hoje consolidada frente democrática, com base exclusiva no medo.

No âmbito da ideologia e do inimigo externo, que já instigaram e ainda hoje instigam nações inteiras ao conflito armado, o bolsonarismo alimenta o medo intransigente do comunismo.

Ignorantes, um sem número de pessoas reverberam o medo de que o Brasil se torne “uma Venezuela” ou “uma Cuba”. Mas, quando são indagados a respeito da definição de comunismo, não conseguem articular uma frase coerente. Apenas imaginam saber que esse modelo político é destrutivo e não serve para o Brasil. 

Mais uma vez, são vítimas da cultura do medo instalada pelo bolsonarismo.

Há, ainda, outro tipo de medo - que tem penetração ainda mais ampla em nossa sociedade. Trata-se do medo econômico.

Esse temor, além de abarcar os dois primeiros grupos, também alcança pessoas que, como qualquer outra, buscam segurança financeira para viver confortavelmente. Assim, pequenos empresários, trabalhadores e até mesmo servidores públicos repetem o mantra que, sejamentos honestos, foi inventado bem antes do bolsonarismo, embora tenha sido por ele aperfeiçoado: “o PT vai destruir a economia”!

O medo do caos econômico, ao mesmo tempo que cega as pessoas para o desastre presente (inflação represada, emendas constitucionais irresponsáveis, compra de votos, desoneração tributária forçada aos estados, orçamento secreto), instiga o ódio contra o futuro governo Lula-Alckmin. 

De modo irracional, criam-se fantasmas sobre a irresponsabilidade fiscal, o endividamento, o confisco de aplicações e muitos outros artifícios para ceifar o pensamento crítico e semear o pavor.

O Brasil precisa murar o medo!

A vitória no domingo, dia 30, será não somente a derrota inicial do bolsonarismo, mas também o primeiro golpe na ignorância criada pelo medo.

Nossos concidadãos verão que suas crianças PRECISAM ter educação sexual nas escolas e aprender a conviver com a diferença e tolerar as múltiplas formas de orientação sexual existentes. Perceberão, também, que a ideologia comunista trouxe à tona importante discussão a respeito das mazelas criadas pelo capitalismo e, por isso, deu origem à social democracia e ao Estado de bem-estar social. Finalmente, as “mentes empreendedoras” e seus simpatizantes terão consciência de que estão muito abaixo da elite nacional, estrato da sociedade que realmente colhe os dividendos de governos que, como o atual, ampliam o abismo econômico em nossa sociedade.

Não tenha medo, caro leitor! Por mais que haja reiteradas tentativas de encobrir a realidade, iremos descortinar toda essa maldade e, assim, vislumbraremos, uma vez mais, a esperança de um futuro mais próspero, inclusivo e pacífico.

É preciso murar o medo! Só então venceremos o atraso.

PS: muitos amigos amantes da democracia têm demonstrado medo nessa reta final da eleição. Já repeti algumas vezes, mas volto a dizer: a campanha do Presidente Lula tem sido fantástica! Mesmo contra toda desinformação sistêmica, o uso descarado da máquina pública e a instrumentalização do medo, Lula já bateu o recorde de votos no primeiro turno. Sua campanha também já recebeu apoio de amplos setores da sociedade. Vieram Simone Tebet, FHC e todos os principais nomes da economia liberal. Até mesmo “faria limers” estão se voltando para a campanha do petista. A vitória está logo ali, pessoal!