Dia 72 (26 de outubro) - Por que Teófilo Otoni?
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Dia 72 (26 de outubro) - Por que Teófilo Otoni?

O período de campanha presidencial chega em sua reta final e ambos os candidatos estão buscando cumprir agenda em regiões estratégicas pelo país.

Diogo Machado
6 min
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O período de campanha presidencial chega em sua reta final e ambos os candidatos estão buscando cumprir agenda em regiões estratégicas pelo país.

Por um lado, Lula possui ampla e confortável vantagem no Nordeste. Por outro, Bolsonaro segue firme na região Sul do Brasil. Assim, os dois candidatos priorizam a disputa pelo voto dos eleitores do Sudeste, região que detém 42% do eleitorado (67 milhões). Em São Paulo, estado no qual 34 milhões de votos estão em disputa, a corrida eleitoral se mistura com o segundo turno para o Palácio dos Bandeirantes e, por isso, Lula e Bolsonaro têm “ajuda” dos cabos eleitorais Fernando Haddad e Tarcísio de Freitas.

Minas Gerais é o segundo maior colégio eleitoral do Brasil, com mais de 16 milhões de pessoas aptas a votar. Além disso, o estado é visto como tradicional “fiel da balança” nas últimas eleições nacionais. Por isso, convencionou-se a pensar que quem leva Minas, leva o Brasil.   

Nesse universo de milhões de votos, Teófilo Otoni, uma cidade mineira de aproximadamente 140 mil pessoas, das quais 106 mil são eleitores registrados, pode parecer pouco significante. No entanto, a “capital das pedras preciosas” é extremamente relevante na disputa por votos em Minas Gerais e pode ser decisiva para consolidar a vitória de Lula ou a virada de Bolsonaro no segundo turno.

No primeiro turno de 2018, Bolsonaro venceu com folga na cidade. O padrão se repetiu no segundo turno que o elegeu.

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A vitória de Bolsonaro em Teófilo Otoni repetiu-se em boa parte do estado de Minas Gerais, especialmente em regiões onde o PT se havia estabelecido desde 2002, quando Lula venceu sua primeira eleição.

Em 2022, Lula venceu na cidade por uma pequena margem - muito próxima da realidade nacional.

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Teófilo Otoni está localizada no Vale do Mucuri, mas também exerce enorme influência no Vale do Jequitinhonha e até mesmo no extremo Sul da Bahia. De acordo com o IBGE (REGIC 2018), a cidade mineira é uma Capital Regional C - nível hierárquico igual ao de capitais estaduais como Boa Vista (RR), Rio Branco (AC) e Macapá (AP). Essas cidades são importantes por diversos aspectos: fornecem leitos hospitalares para suas regiões de entorno, possuem estrutura comercial e de serviços, mantêm conexões viárias e aeroviárias com os grandes centros urbanos, e possuem até mesmo vida cultural atrativa a nível regional.

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No mapa do REGIC, podemos ver as regiões de influência dos principais centros urbanos de Minas Gerais. Belo Horizonte, distante do Norte e Nordeste de Minas, não tem tanta penetração. Assim, cidades como Montes Claros e Teófilo Otoni são pólos atrativos para todas as pequenas cidades dessa região e, por isso, são representativas do desempenho eleitoral nessas mesmas cidades.

Muitos analistas estão apontando a relação causa/consequência vencer em Teófilo Otoni (e em Minas Gerais), vencer no Brasil. Eu, por outro lado, vejo o desempenho eleitoral em minha terra natal mais como um sintoma do cenário nacional, afinal, o resultado das eleições gerais consiste na soma do desempenho em todo o território nacional. De que adiantaria, por exemplo, uma vitória do PT em Minas Gerais se os votos em São Paulo minguassem de forma drástica? 

Assim, o retrato socioeconômico de Teófilo Otoni mais ajuda a explicar o momento conjuntural brasileiro e, por isso, pode fornecer um retrato fiel das eleições em 2022.

Fundada no 7 de setembro de 1853, às margens do rio Todos os Santos, a centenária cidade evoluiu para se tornar o 18o município do estado. Hoje, possui indicadores sociais que se assemelham aos indicadores nacionais e, por isso, é um pequeno termômetro da disputa no Brasil. 

A renda per capita na cidade é bastante próxima da renda nacional per capita. Conforme os dados do IBGE, Teófilo Otoni tinha, em 2019, renda anual por pessoa de R$19.191,15. Considerando que os números foram colhidos antes da pandemia, é possível assumir que, hoje, estão mais próximos da renda per capita atual do Brasil: R$16.236,00. 

A cidade também tem IDH semelhante ao número nacional. De acordo com o PNUD, o Brasil ocupa a 87a posição (em 191 países), com índice de desenvolvimento humano de 0,754. Teófilo Otoni, em 2010, conforme o último CENSO nacional, apresentava IDH de 0,701.

Distante dos bairros centrais, onde as tradicionais famílias da cidade e seus conhecidos sobrenomes (Corrêa, Abrantes, Gazzinelli, Laender, Porto ou Rodrigues) vivem, em uma espécie de microcosmo da classe média nacional, vivem milhares de famílias à margem dos privilégios auferidos pela mencionada minoria.

De acordo com a Prefeitura Municipal da cidade, mais de 50% da população - 20 mil famílias - estão próximas ou abaixo da linha de pobreza (dados do CAD Único). Parte desse povo, embebido pelo ódio ao PT, votou em Bolsonaro na eleição de 2018. O retorno de Lula, no entanto, traz esperança de que a deterioração dos indicadores econômicos irá cessar e, com isso, a fome e a miséria diminuirão.

A cidade, devido ao atraso do CENSO, não consegue fornecer os dados de forma atualizada, mas havia, em 2010, 40 bairros que se enquadram na definição de aglomerados subnormais. No bom português, favelas. É muita coisa para uma cidade de 140 mil habitantes. Essa triste realidade, contudo, corresponde à realidade brasileira e a desigualdade desse país continental. O Nordeste, nesse contexto, é extremamente distinto do Sul (região mais rica do país).

Curiosamente, Teófilo Otoni e o Vale do Mucuri são a fronteira entre esses dois Brasis. Veja no mapa abaixo que o “polígono das secas”, que tanto castiga o povo nordestino, começa aqui em Minas Gerais, no Vale do Jequitinhonha e no Norte do estado.

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Esse suco de Brasil chamado Teófilo Otoni não será DETERMINANTE para o êxito eleitoral de um ou outro candidato. Na minha visão, a cidade será um RETRATO das decisões da população que mais tem sofrido com esse governo. A periferia e suas mais de 40 favelas são muito mais representativas do Brasil que o centro da cidade e sua maquiada e desigual prosperidade.

Tudo isso não diminui a relevância estratégica da cidade e das recentes visitas dos candidatos. Vencer a disputa nos Vales do Mucuri e Jequitinhonha seria sintomático da consolidação do PT ou da virada de Bolsonaro em Minas Gerais.

Imagino que a população teófilo-otonense saberá decidir o que é melhor para si e para o restante do Brasil. Ainda que seja apenas um entre os 853 municípios mineiros, Teófilo Otoni pode contribuir para a NECESSÁRIA vitória de Lula no dia 30. Mas, infelizmente, seus contrastes permanecerão. Grande parte da sua população permanecerá conservadora, preconceituosa e elitista. O resultado mostrará uma cidade dividida, que emula a situação social do Brasil.

As mudanças, caro leitor, demandam muito esforço coletivo. Elas não virão sem sangue e suor. Se as ruas demonstraram, nos últimos dias, esperança e atraso, elas passam um importante recado de que há muito a ser feito.

O primeiro passo será dado no dia 30, quando o povo da nossa cidade e do restante do Brasil dirá a Bolsonaro um sonoro NÃO!