Hoje vou contar como eu e dois amigos tentamos ficar milionários criando uma startup de festas, sendo que ninguém sabia nada do assunto e eu nem sequer gostava de sair a noite. O capítulo dessa semana é sobre a minha primeira experiência com ...
Hoje vou contar como eu e dois amigos tentamos ficar milionários criando uma startup de festas, sendo que ninguém sabia nada do assunto e eu nem sequer gostava de sair a noite. O capítulo dessa semana é sobre a minha primeira experiência com startups e empreendedorismo. E apesar de anteriormente a esta experiência eu ter tido outras iniciativas e tentativas de montar alguns negócios, elas foram de curta duração, tiveram pouco empenho da minha parte e não traziam nenhuma inovação. | ||
Mas antes de contá-la, um spoiler: nós não ficamos milionários. | ||
Bom, eu tinha 18 anos e acabava de terminar o ensino médio. Estava de férias até as aulas da faculdade começarem, fazia autoescola e não me faltava energia e empolgação para criar uma empresa que me deixasse rico e independente. Já fazia um ano que eu lia alguns livros de negócios e eu achei que seria uma boa hora para tentar criar algo e, quem sabe, virar um caso de sucesso como os caras do Vale do Silício. Meus dois amigos pensaram o mesmo que eu. | ||
Reunimos-nos na casa de um deles. Colocamos uma grande folha branca de papel num quadro. Eu apresentei a ideia de um serviço terceirizado de garçons que eu havia pensado, mas não senti muita animação da parte deles. Um deles apresentou, em seguida, a ideia de um aplicativo que conectaria os frequentadores de bares, baladas e shows aos eventos que fossem ocorrer. Lá, daria para ver quem iria a tais eventos, obter informações, verificar avaliações e a checar popularidade de cada um. A monetização poderia vir por meio de anúncios, planos de assinatura com organizadores de eventos ou comissões em vendas de ingresso (mas a gente não tinha certeza de nada). Gostamos da ideia e resolvemos colocar em prática. | ||
Tentamos dividir as funções logo de início: eu ficaria com marketing, finanças e RH (como se uma empresa que nem surgiu precisasse dessas áreas), um ficaria com a parte de vendas e o outro com o produto. Eu e este último começamos a ler bastante para entender como começar. Lemos livros de metodologias de desenvolvimento, marketing, jurídico, etc. Ele também começou a estudar programação (porque definitivamente iríamos precisar). Enquanto isso, começávamos a esboçar o nosso app. Primeiro desenhando no papel, depois chegando a consensos e finalmente passando para o computador, onde fizemos o primeiro protótipo no Keynote. | ||
Nosso primeiro protótipo era horrível, muito feio mesmo. Melhoramos um pouco e resolvemos validar a ideia mostrando-o para alguns amigos de amigos. Fizemos até contratos de confidencialidade para esses encontros (achávamos que todo mundo poderia querer roubar a nossa ideia). Os resultados destes testes foram até positivos e mudamos algumas coisas no design e nas configurações do futuro app. | ||
Depois resolvemos fazer uma pesquisa de mercado para ter uma ideia melhor a respeito dos nossos potenciais clientes, então saímos na rua pedindo para que as pessoas respondessem o nosso formulário (como introvertido que sou, essa fase foi particularmente torturante) e divulgamos a pesquisa nas redes sociais. Tivemos mais de 100 respostas, mas não me lembro de obter nada de muito relevante dela. | ||
Enquanto isso, o meu amigo de vendas tentava, sem muito sucesso, contatar os organizadores de shows e eventos e donos de casas de festa. Nós tínhamos metas a cumprir em cada semana, mas muitas vezes não conseguíamos e só passávamos para a próxima etapa mesmo assim. Trabalhávamos juntos na casa de um dos amigos, começávamos focados, mas tudo era bem descontraído e quase sempre parávamos cedo e íamos fazer outra coisa. | ||
O projeto acabou quando estávamos buscando um programador para desenvolver nosso app. Pelo LinkedIn, marquei reunião com dois deles. Encontramos com o primeiro e ele não nos levou muito a sério, mas disse que poderia passar o serviço para um amigo dele. Encontramos com o segundo e ele foi muito legal. Ele fazia parte de um programa de aceleração de startups e curtiu muito o quão longe a gente foi com o negócio, considerando que não tínhamos nenhuma experiência ou muito conhecimento. Como ele não estava lá só para pegar o nosso dinheiro, ele discutiu o negócio com a gente e nos fez perceber fragilidades significativas, como o fato de não solucionar nenhuma “dor”, não ter um plano de monetização claro e ser caro de escalar. Isso, somado a alguns outros feedbacks que tínhamos recebido e a falta de “paixão” pelo produto e pelo mercado de festas, nos fizeram encerrar o negócio. | ||
Essa experiência durou cerca de três meses (ainda bem que não prolongamos mais do que isso) e mesmo ela tendo sido um completo fracasso em termos de negócio, ela foi muito valiosa para todos nós. Antes desse projeto, empreender era muito abstrato para nós, não entendíamos os caminhos e não éramos capazes de priorizar esforços, depois dele, tudo era mais claro. Com ele, além de aprender sobre metodologias e ferramentas, aprendemos que ter uma boa ideia não significa ter um bom negócio, que é muito importante ter certeza de que você resolve um problema relevante e que abrir um negócio envolve muito trabalho e superação de dificuldades. Além disso, a experiência foi um impulsionador de aprendizado: eu busquei continuar estudando e aprender, de maneira geral, sobre todas as áreas de uma empresa e meu amigo que tinha começado a estudar programação continuou e se tornou um excelente programador. | ||
A prática é muito diferente da teoria. Ela nos exige capacidades que não prevíamos e nos faz buscar soluções sob medida para problemas que desconhecíamos anteriormente. A prática ensina e nos motiva a buscar ainda mais a teoria, mas de uma maneira muito mais eficiente. E se eu posso dar um conselho com esse texto, ele é: comece logo, teste suas ideias, coloque-as em prática, erre muito e adquira experiência. Eu não me arrependo de ter fracassado. | ||
Esta foi a história de hoje, espero que tenha sido interessante. Na semana que vem trago mais um dos diários de progresso, então te vejo lá. |