Nosso risco de “mexicanizar”
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Nosso risco de “mexicanizar”

O que o Brasil pode aprender com os erros de seu irmão latino?

João Vitor Vasconcelos de Araujo
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O Brasil conseguiu nos últimos anos um feito histórico: alcançamos uma mínima da taxa SELIC na casa dos 2% a.a acompanhado de uma taxa de inflação de 3%. Valores como esses, em conjunto, nunca haviam sido alcançados em nossa história e são um grande indicador de estabilidade econômica no horizonte de médio/longo prazos.

Progressão da taxa básica de juros (SELIC) 1996-2020
Progressão da taxa básica de juros (SELIC) 1996-2020

Entretanto, se alguns acreditam que a estabilização econômica sozinha é garantia de um "decolar econômico", se acalmem por que não é bem assim. Em um passado, não tão distante, um país próximo de nós atingiu essa mesma marca e acabou por não alcançar o tão desejado desenvolvimento econômico. No ano de 2002 tudo indicava que era o momento para o México decolar: divida externa controlada, inflação de 4% a.a, os juros, que eram de 25% a.a em 1997, estavam na casa de 3% a.a. Muitos pensaram que isso era tudo que o país precisava para sua economia finalmente bombar, mas, para infelicidade do México, não foi esse o caso.

Presidente Carlos Salinas junto ao presidente americano George H. W. Bush. Salinas, eleito em 1994, seria o presidente a iniciar o ciclo de reformas que levaria a estabilização do México em 2002
Presidente Carlos Salinas junto ao presidente americano George H. W. Bush. Salinas, eleito em 1994, seria o presidente a iniciar o ciclo de reformas que levaria a estabilização do México em 2002

Nos anos que seguiram, os mexicanos postergaram reformas essenciais para o aumento de sua produtividade, dentre elas: uma reforma tributária, a reformulação dos regimes da PEMEX (a Petrobras mexicana) e a redução das inúmeras distorções setoriais. Sem a correção dos diversos empecilhos  ao aumento da produtividade, que continua em 2020 a mesma de 1980, o resultado não poderia ser outro: desde 2002 o Mexico cresceu aproximadamente um total de 2%, e continua estagnado em seus ganhos sociais e renda média.

O caso mexicano é um exemplo claro de por que não podemos perder o foco nas reformas de base que sustentam, em longo prazo, o crescimento e tratam dos déficits de produtividade nacionais. Se, como disse Gustavo Franco, utilizarmos o prospectos das reformas para NÃO reformar e preservar o status quo como ele está, continuaremos sem crescimento expressivo e dependendo de voos de galinha para ver a economia crescendo. Dessa maneira, acabaremos, como nossos amigos mexicanos, parados no tempo vendo o mundo crescer sem saber como tratar nossos próprios demônios.