Que Venha 2023...
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Que Venha 2023...

Depois de tortuosos doze meses de 2022 o ano finalmente chega ao fim, abrindo as janelas para mais um ano de muitas possibilidades e também novas preocupações. Neste texto falarei sobre o que podemos esperar para esse ano que vem e o que acho...

João Vitor Vasconcelos de Araujo
10 min
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Depois de tortuosos doze meses de 2022 o ano finalmente chega ao fim, abrindo as janelas para mais um ano de muitas possibilidades e também novas preocupações. Neste texto falarei sobre o que podemos esperar para esse ano que vem e o que acho que deveriam ser as prioridades para que nós e o Brasil tiremos o melhor proveito dele.

Novo Governo

A principal e mais notória mudança deste ano para 2023 é a mudança de governo que teremos logo na primeira semana do ano. Sai Bolsonaro e Guedes e entra Lula e Haddad, uma mudança drástica que há de garantir muita transformação nas políticas economicas do governo, quase como um técnico de futebol que no final de um jogo tira um volante e um lateral para botar dois atacantes, mudam-se os parametros do jogo partindo para uma tentativa de ataque total, na política econômica isso não será diferente.

O Retorno do Estado Mastodonte

Traduzindo para a linguagem economica, a estratégia de "ataque total" se transforma em crescimento a qualquer custo, principalmente empurrado pelo aumento dos gastos públicos e expansão da atuação do elefante branco chamado estado brasileiro, incluindo para áreas onde ele não é bem vindo e na realidade sequer deveria atuar. Essa estratégia vai na absoluta contra mão daquilo que foi pregado nos ultimos 6 anos não só pela gestão de Guedes, mas também pela comandada por Henrique Meirelles no governo Temer.

Talvez por coincidência, ou não,  esta estratégia também se mostra antagonica às reformas necessárias para que o Brasil coloque em ordem sua situação fiscal e volte a ter um crescimento equilibrado em médio prazo, demonstrando um retorno às velhas práticas ideológicas e mesquinhas do PT e mostrando também a absoluta miopia quanto aos reais desafios da maquina pública  após a pandemia.

Rumos da Economia

É sempre muito dificil prever o que uma pasta econômica irá propor antes de serem indicados seus quadros técnicos, entretanto baseado no que vimos até esse momento, e nas declarações feitas por Lula e Fernando Haddad, ja podemos prever quais ideias e propostas serão escolhidas pela atual gestão, ja adianto que o cenário não é positivo.

Revogaços

O primeiro ponto a ser tratado, e talvez o que mais preocupa ao mercado e aos que entendem do tema, é a possibilidade de o próximo governo tentar revogar projetos de lei aprovados nos ultimos governos, dentre eles: a reforma trabalhista, a independencia do banco central, a reforma da previdência e até mesmo algumas privatizações. Não é necessário comentar o tamanho retrocesso que seria a consolidação de medidas como essas, seria mais uma marca negativa na face do PT, partido que ao longo de sua história votou contra a eleição que consolidou Tancredo como presidente e a redemocratização, contra o plano real, contra a privatização da Vale do Rio Doce, contra a reforma da previdencia e contra as leis de responsabilidade, leis estas que podem entrar no picotador de leis do Partido dos Trabalhadores.

As três Bestas da Economia

Considerando o possível cenário que vemos a frente é possível prever uma verdadeira "tarefa Herculana" para o Brasil, assim como Hércules que recebeu suas 12 tarefas a serem cumpridas, teremos de enfrentar as três bestas da economia, temidas por economistas, gestores públicos e entes empresários.

Inflação

A primeira, é uma velha companheira do Brasil que no passado ja foi muito maior e muito mais amedrontadora, mas que hoje não se mostra mais que uma memória, uma versão menor e menos ameaçadora de si. Estou falando obviamente da Dona Inflação que no ultimo ano, devido a pressões externas e fiscais, voltou a dar suas caras em terras brasileiras. Se por um lado esse problema não me preocupa tanto por termos uma instituição monetária autonoma, Banco Central não sofre com ingerências do governo como ocorreu durante a gestão de Dilma Rousseff, por outro a agenda de aumento de gastos proposta pelo próximo governo gera mais incentivos para a inflação, gerando um cabo de guerra entre o ministério da economia e o banco central. Pela experiencia que ja vimos no passado sobre essa briga, podemos dizer que os gastos, e a inflação, infelizmente vencem em 90% das vezes. Diferente do discurso da jurássica esquerda brasileira, o mais prejudicados nesse contexto tendem a ser  os mais vuneraveis, que, diferente dos bilionários ou da Faria Lima, não poderão se proteger dela ou levar suas economias para fora do país, isso não é uma critica àqueles que defendem o valor de seu dinheiro levando-o para fora do país, mas uma constatação para aqueles que se iludem com a mágica da inflação acreditando não haverem consequencias por sua aplicação.

Recessão

A segunda besta da economia é uma prima próxima da primeira e costuma surgir quando buscamos enfrentar a dona inflação, podemos nos referir a ela como Recessão. A Recessão é um momento de desaceleração da economia, muitas vezes necessário para a estabilizar a economia e controlar a inflação. Apesar de necessária, ela  é cruel, não só por, muitas vezes, ser o preço que pagamos pela nossa própria incompetência, mas também por ela poder ser acionada sem nossa culpa ou interferência. Acontecimentos que vemos ocorrendo mundo a fora nas mais diversas economias podem acabar por impactar a performance da economia brasileira, totalmente de graça e sem provocação alguma. Ao longo da história do Brasil, tivemos alguns aparecimentos dessa besta por conta de eventos exógenos como a crise de Yon Kippur e posteriormente, de maneira menor, nos calotes dos países emergentes na década de 90, Argentina, México e Rússia. A lição que tiramos dessa besta é importante, porém ingrata, não podemos menosprezar a importancia de fazer nossa lição de casa, fazer o básico e seguir as regras de ouro da economia, entretanto, devemos sempre ficar atentos à economias a nossa volta, nunca se sabe qual bomba dará inicio para a próxima recessão global.

Gastos & Dívida

A terceira besta se trata de dois lados diferentes de uma mesma moeda, estamos falando dos Gastos e da Divida. A divida soberana, como a divida dos negócios, é uma forma de alavancagem que permite que um governo invista além de sua capacidade de receitas para obter ganhos e executar projetos que, sem essa alavancagem, não seriam possíveis. Entretanto, essa alavancagem em seus investimentos não vem sem seu custo, como qualquer economista pode lhe explicar, uma das consequências ligadas ao aumento dos gastos públicos é também o crescimento/propagação da inflação, causando desordem e problemas à economia e podendo iniciar um ciclo que revisita todas as três bestas descritas por mim nesse texto. Por esse motivo digo: essa besta pode não parecer muito ameaçadora a primeira vista, mas suas consequencias quando utilizada de forma exagerada, são muito maiores que as demais.

Para Além da Economia 

Por ter um tom diferente dos meus textos comuns, vou me aventurar fora do campo da economia . Tentando dar um pouco do meu ponto de vista não só para esse ano, mas também para os anos que estão por vir em áreas como política e liberalismo.

Sobre o Liberalismo

Ou deveria dizer liberalismos? Nunca em minha vida vi o movimento tão dividido como nesse ultimo ano. Alguns se arriscando apoiando o candidato do PT e, de forma ingenua, acreditando em uma mudança de crença e de atitude por parte do partido, outros defendendo veemente o presidente Jair Bolsonaro e, em certa maneira, se deixando levar pelo seu discurso que , no melhor dos casos, apela pra uma divisão da sociedade e, no pior, para um tipo de golpismo que a muito tempo não viamos no Brasil. Talvez por essa confusão, falta de foco e briga desenfreada que tivemos um desempenho pífio dentre os liberais, a dita bancada da liberdade foi disimada em diversos estados e partidos mostrando que o dicurso que a elegeu em 2018, não funcionou tão bem esse ano, em uma eleição muito mais polarizada entre polos aos quais simplesmente não pertencemos. Pelo menos agora entendemos que é necessária uma mudança de discurso e que talvez não estivéssemos conversando de maneira correta com nosso eleitorado, ou, talvez, não estivessemos falando com o eleitorado correto. De qualquer maneira, serão 4 anos de reconstrução, de repensar nossa abordagem e de entender quais ações devemos tomar para que, chegado 2026, seja possível reveter esse cenário catastrófico que recai sobre o movimento. Serão 4 anos difíceis, mas se tudo der certo voltaremos com força para o próximo mandato.

Sobre a Direita 

"Novo ano, vida nova" é o que dizemos todo ano para nos animar para os 12 meses que temos pela frente. Acredito que é uma mensagem muito válida para nossa direita que a pouco adentrou como movimento na vida política e, talvez por isso, se agarrou a ideologias politicamente danosas. Agora é hora de organizar uma oposição séria e entender as melhores estratégias para evitar irreponsabilidades por partes do governo, tratar de questões efêmeras como situação é muito fácil, entretanto como oposição isso passa a ter um custo. Dessa maneira , veremos agora a verdadeira capacidade de organização e força do movimento de direita que surgiu em 2018 e, a primeira vista, parece ter se fortalecido em 2022.

Também é importante dizer que é hora de abandonar o discurso golpista e parar de se iludir acreditando que a melhor saída para o país é um golpe de estado ou uma intervenção das forças armadas. Quebras institucionais desse tipo tem graves consequências, a maioria das quais não nos damos conta até após a ocorrencia da intervenção. É necessário calma e PRUDÊNCIA em um momento como esse, afinal aqueles que buscam resultados políticos em curto prazo acabam sem resultados tanto em curto quanto em longo prazo, sempre importante lembrar isso para não atropeçarmos em nossa própria passada. Em quatro anos haverá outra chance de mostrar ao país suas propostas e candidatos e convencê-los que são a melhor opção, portanto não se afobem e preparem o caminho para essa eleição.

Sobre a Esquerda

Eu queria ter uma mensagem positiva sobre a esquerda brasileira para escrever aqui que eles melhoraram, que mudaram a ideologia que os guiava, que, como qualquer esquerda minimamente séria mundo a fora, eles ao menos reconheceram a importância da responsabilidade pública e da liberdade como um todo. Porém infelizmente não é isso que tenho a dizer.

A única percepção que tenho de nossa esquerda, com pouquissimas exceções, é que ela segue jurássica como sempre, vivendo em um mundo que não existe mais. Abandonada pelo tempo e ainda sonhando com uma utopia que,  a mais de 30 anos, deixou de existir. Espero realmente que o próximo governo prove que estou errado nessa crítica, entretanto, por tudo que vi até o momento, eu sinceramente duvido que consigam. Nos resta esperar e ver o que acontece.

Mensagem Final

Para finalizar esse texto, que vem em um formato e tom muito diferentes do que costumo postar por aqui, eu faço um apelo para que comecem a pensar como será nosso 2023 e que deixem essa bagagem pesada de 2022 para trás. Em um ano tenso como esse em que as polarizações chegaram a seu auge é improvável que você esteja saindo dele sem discutir com um amigo ou até mesmo com algum parente. De qualquer maneira, peço que aproveite esses ultimos dias do ano para entrar em contato com esse amigo e reatar os laços de sua amizade. Afinal, seu político não fará muito por você e, por mais que ele tente muito, jamais terá com você a preocupação que um amigo de longa data tem. Felizmente podemos viver sem nossos políticos, porém viver sem seus amigos é uma vida muito dolorosa.

Um feliz ano novo e muito obrigado por terem acompanhado meus textos aqui na Dutconomics. Espero vocês ano que vem para mais análises, curiosidades e opiniões minhas que solto aqui de vez em quando.

Um grande abraço,

Dut out

"Repetir para aprender, criar para renovar"