Viva a URV e viva o Plano Real!
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Viva a URV e viva o Plano Real!

A exatos 29 anos era colocada em circulação a Unidade Real de Valor,  ou URV, o primeiro passo da execução de um plano que mudaria a trajetória do Brasil e dos brasileiros para sempre, o Plano Real. Muito se escuta sobre este plano e seu efei...

João Vitor Vasconcelos de Araujo
4 min
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A exatos 29 anos era colocada em circulação a Unidade Real de Valor,  ou URV, o primeiro passo da execução de um plano que mudaria a trajetória do Brasil e dos brasileiros para sempre, o Plano Real. Muito se escuta sobre este plano e seu efeito na economia brasileira, entretanto pouca atenção é dada para sua  complexidade e também para o turbulento contexto em que ele surgiu. 

Era a década de 90, o Brasil passava por um turbilhão inflacionário impensável para os dias de hoje. A cada ano surgiam novas proposições de planos econômicos com o objetivo de estabilizar a economia brasileira, seriam 4 entre 1986 e 1992, todos sem sucesso e cada um com suas particularidades; cortes de zeros no valor da moeda, congelamentos de preços, congelamentos de poupanças; e suas consequências danosas a economia.

Eis então que em 1993, após o impeachment do presidente Fernando Collor de Melo, Itamar Franco indica Fernando Henrique Cardoso ao posto de Ministro da Fazenda, dando a ele a liberdade de indicar a equipe que trabalharia no plano e daria os rumos da economia neste mesmo período.

Equipe responsável pela elaboração e execução do Plano Real. Na foto temos, da esquerda para a direita: Pérsio Arida, Gustavo Franco, Pedro Malan, Jose Milton Dallari, Wiston Fritsch, Rubens Ricupero, Eduardo Jorge Pereira, Fernando Henrique Cardoso, Synésio Batista, Clóvis Carvalho, Sergio Amaral e Edmar Bacha.
Equipe responsável pela elaboração e execução do Plano Real. Na foto temos, da esquerda para a direita: Pérsio Arida, Gustavo Franco, Pedro Malan, Jose Milton Dallari, Wiston Fritsch, Rubens Ricupero, Eduardo Jorge Pereira, Fernando Henrique Cardoso, Synésio Batista, Clóvis Carvalho, Sergio Amaral e Edmar Bacha.

O Plano Real

Ao contrário do que muitos acreditam, o Plano Real é um exemplo de plano heterodoxo de estabilização. Essa denominação é dada devido ao uso de um indexador na primeira metade do plano, a URV,  que correspondia à variação dos preços dos bens e serviços. À época,  o método mais utilizado para a estabilização econômica era a dolarização da economia, para assim buscar o controle e estabilização dos preços. Este método foi utilizado na argentina, com apoio do FMI, no Plano Cavallo, sem sucesso, mas isso é uma história para outro dia. 

O Plano Real foi composto de 2 fases: a primeira iniciada em março de 1994, com a implementação da URV e a segunda iniciada em junho do mesmo ano com a conversão do Cruzeiro Real em Real. Ele era composto de 5 frentes principais: 

  • Ajuste Fiscal - Combinando aumento de impostos e cortes nos gastos públicos, o governo procurou reduzir o desequilíbrio entre a arrecadação e os gastos públicos.
  • Desindexação da Economia - com a inflação recorrente,  agentes econômicos passaram a indexar preços a índices de inflação, criando um círculo vicioso de aumento de preços. Para reverter este quadro foi a adotada a URV, como uma forma de eliminar a memória inflacionária. A URV era definida diariamente através de um cálculo usando como base uma média diária de inflação através de uma cesta de índices.
  • Política Monetária Restritiva - o governo tomou diversas medidas para restringir a atividade econômica interna, como aumento da taxa básica de juros e aumento dos depósitos compulsórios
  • Redução Pontual das Tarifas de Importação - para evitar pressões inflacionárias relacionadas ao excesso de demanda, as tarifas de importação de alguns produtos foram baixadas.
  • Câmbio artificialmente valorizado - uma medida controversa á época, o real foi mantido supervalorizado para evitar aumento de preços dos produtos importados e manter alta a oferta interna de produtos (via redução das exportações e aumento das importações)

O resultado destas medidas nós ja sabemos, entre elas temos : uma forte queda da inflação; a inserção das classes C e D no mercado consumidor; o aquecimento da economia; redução do superavit comercial; crescimento do PIB, o forte ingresso de capitais externos e uma  taxa de câmbio valorizada. Entretanto, não acho que seja necessária a descrição dos resultados do plano, eles falam por si próprios.

Queda vertiginosa do IPCA anual pós Plano Real
Queda vertiginosa do IPCA anual pós Plano Real

O Plano Real e a Pobreza

Por mais que destaquemos os efeitos econômicos do Plano Real, que normalmente é o foco das discussões em torno deste assunto, não podemos, também, esquecer o efeito que ele teve sobre a pobreza e extrema pobreza. Durante todo o desenvolvimento do plano, ele foi atacado por economistas e opositores alegando que era um estelionato aos mais pobres,  um “plano tampão”, que nada resolvia em termos de melhora social. Entretanto,  isso não poderia estar mais longe da verdade! 

Com a estabilização econômica e o controle da inflação, rapidamente  foi sentido o efeito na melhora social das classes mais baixas como podemos ver no gráfico abaixo.

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Em um período relativamente curto de 2 anos, entre 1993 e 1995, podemos observar uma queda de 10% na pobreza e de quase 6% na pobreza extrema, efeitos da estabilização econômica e do maior controle da inflação, consequências diretas do plano real.

O Plano Real mostra mais uma vez que não existe inconsistência entre a responsabilidade na condução econômica e o combate a pobreza, relembrando um lema econômico que sempre levo comigo ao analisar novos programas e politicas: se não puder fazer nada, ao menos faça o dever de casa, é bem provável que o resultado assim será melhor.

“É raro que um programa de estabilização, em vez de provocar recessão, provoque crescimento e inclusão. Isso foi o Plano Real, eu não conheço muitos (outros planos), se é que há algum, que tenham feito isso"