A fórmula de Bhaskara dos Creators

Texto escrito por: Ronaldo Raposo

Apesar de gostar muito de português, história e filosofia, eu tinha uma outra paixão: os números. Até os meus 12 anos, meu maior sonho era decifrar o famigerado Teorema de Fermat -- acredite, eu tentei muito. Queria tornar-me imortal na história e, para mim, o meio mais fácil de fazer isso era como os matemáticos faziam: achar uma fórmula para resolução de problemas. Assim, minha marca no mundo estaria pronta: a Fórmula de Ronaldo (imponente, eu diria).

Como a solução para o Teorema de Fermat não saiu (e, se você não conhece o Teorema de Fermat, trata-se meramente de um dos maiores problemas matemáticos da história), entendi que precisava recorrer a outras vias. Antes de tudo, é claro, precisava me inspirar. Assim, fui pesquisar a vida de matemáticos e físicos famosos para entender como eles chegaram a tais fórmulas -- fazendo o benchmarking desde cedo, rs.

Comecei pelo queridinho: Bhaskara. A fórmula que leva seu nome é utilizada para resolver equações de segundo grau, um terror na vida dos jovens do ensino fundamental que se deparam com números justapostos a letras. Oriundo da Índia, Bhaskara era matemático, astrônomo e astrólogo. Apesar de ser muitas coisas, tinha algo que ele não era: criador da fórmula de Bhaskara.

Teto rodopiando, vista turva, barriga revirando, chão se abrindo: minha vida era uma farsa. Como pode? Bhaskara não tinha escrito Bhaskara, mas a fórmula de Bhaskara era escrita com seu nome. Quantas outras mentiras eu vinha vivendo? Será que minha mãe era minha mãe? E eu, sou eu? Fui pego totalmente de surpresa, logo no início da minha busca por heróis imortalizados. Bhaskara, sua farsa! Você me prometeu…

Vamos aos fatos: existem registros da existência da fórmula em textos escritos por babilônios cerca de 4000 anos antes da própria existência de Bhaskara. Acredita-se que um dos motivos para a fórmula ser chamada de Bhaskara é que, nos escritos do indiano, ele utilizou as regras já existentes para resolução dessas equações de uma forma mais esquematizada e, quando outros autores tiveram contato com sua obra, o nome pegou a partir dele.

A minha revolta contra Bhaskara estava prestes a crescer -- já que, para mim, ele tava levando crédito por algo que não era dele -- até eu perceber um fato muito interessante: ele enxergou, a partir de outros trabalhos, a possibilidade de mobilizar aquele conteúdo de uma forma tão criativa que seu nome foi automaticamente associado ao problema -- atualmente, não se pode pensar em equações de segundo grau sem pensar nele.

Tá aí uma boa jogada. Posso apostar que um dos objetivos de Bhaskara era entrar para história também. Fico imaginando a tia dele no Natal falando "porque seu primo criou três leis da termodinâmica. E você, tá fazendo o quê?". Daí ele foi lá e fez. No Natal seguinte, tava lá Bhaskara: "dei origem a uma fórmula, tia". Comecei então a pensar o que Bhaskara tinha de diferente e fui escavando a sua vida. Nesse processo, mapeei algumas características:

1. Visão de mundo. Bhaskara entendia que a necessidade que ele tinha em resolver problemas daquela natureza poderia ser a necessidade de outros e, dessa forma, buscou universalizar seu conhecimento.
2. Timing. A época que Bhaskara viveu foi de efervescência da Matemática. Por mais que parecesse que todos estavam pensando números, ele não se amedrontou e pensou também -- e que bom que fez isso.
3. Curiosidade. Os livros mostram que ele era muito curioso, tão curioso que encontrou essas regras em outros estudos e viu o link com os problemas que trabalhava, de modo que conseguiu elaborar melhor a fórmula.
4. Estratégia. Bhaskara não fez a fórmula e pronto. Antes disso, ele buscou vários caminhos para resolver esse tipo de problema, tentando encontrar o melhor caminho. Ele falhou muito -- coisa que a gente não sabe, afinal, quem vê o close, não vê o corre.
5. Perspectiva. Como falado, a fórmula não veio do zero: ela foi resultado de um processo de estudos e busca pelo ângulo ideal. A partir disso, Bhaskara conseguiu enxergar uma oportunidade onde outros ainda não tinham pensado.

Fazendo esse voo sobre a vida de Bhaskara, percebi que tínhamos muito mais em comum do que eu imaginava. Cada uma dessas características eu consegui reconhecer em mim com facilidade, da mesma forma que sei que você também as reconhece. Entendi que, para tornar-me imortal, eu não precisava inventar a roda; tal Bhaskara, precisava ser criativo e inovador -- algo que eu já era.

Infelizmente, nenhum matemático desenvolveu uma fórmula para criação de conteúdo. Mas, acredite: criar é uma tarefa tão singular como uma equação de segundo grau. A única inflexão é que, diferentemente de Bhaskara, que criou uma sentença matemática capaz de resolver qualquer problema dessa mesma natureza, cada creator precisa encontrar a sua própria fórmula. E, bom, esse processo leva tempo, necessitando de dedicação e vigilância.

Enquanto creator em um mar de creators, a tarefa de ser visto e ouvido parece cada vez mais difícil. Assim como eu, que queria ser lembrado de alguma forma, todos nós desejamos deixar nossa marquinha no mundo. Entretanto, esse processo é mais plausível do que parece: encontrar a própria fórmula é um movimento de autoconhecimento profundo e constante, repleto de reinvenções e adequações ao novo.

Por isso, cabe destacar a importância de entender o que você cria, para quem você cria e por que você cria. Às vezes pensamos que temos essas respostas na ponta da língua, mas esse exercício pode trazer resultados melhores do que imaginamos. Todos nós somos Bhaskaras em potencial; apenas devemos encontrar a melhor forma de escrever a nossa fórmula -- papo para outra news, rs.

👤      A ARTE DE LIDAR CONSIGO MESMO

Como abordado na News, entender o processo criativo e as motivações para faze-lo estão ligados a questões internas e pessoais que, muitas vezes, não temos tanta clareza. No Cadernos da Gabi, a escritora, psicóloga e creator aborda assuntos relacionados ao desenvolvimento pessoal, estimulando o autoconhecimento de uma maneira criativa: por meio da escrita. Para ela, ao redigirmos sobre quem somos, visualizamos de maneira concreta nossa identidade… Bem potente!

📚      RONALDICAS

Você imaginava que a News que começou caótica falando sobre números e formas de tornar-se imortal fosse terminar falando de tranquilidade e autoconhecimento? Talvez não, rs. Mas, já que estamos aqui, vamos ainda mais a fundo: a indicação de hoje é o aplicativo Calm, uma plataforma digital de meditação guiada.

Estudos mostram que há um efeito absurdo sobre o corpo quando paramos cerca de 10 minutos por dia para dar atenção total ao nosso corpo e mente. Por isso, nesse processo de entender sua Way of Working, o Calm pode ser uma ferramenta e tanto!

🏞️      O QUE MAIS ROLA NA CREATORSFERA...

Passarinho tá cantando alto. O Twitter adquiriu uma nova ferramenta que permitirá compilar, compartilhar e guardar suas threads favoritas, melhorando a experiência dos usuários. Perder o fio da meada? Agora não mais.

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Tá tranquilo aí, Youtube? A Patreon está criando uma plataforma para creators voltada para o lançamento de conteúdos exclusivos em formato de vídeo. O objetivo é apenas um: que os criadores contornem as políticas cada vez mais restritas do Youtube. A afronta, não é?