O Terror da Síndrome da Página Em Branco
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O Terror da Síndrome da Página Em Branco

Você também é assombrado pela Síndrome da Página em Branco? Não é o único! Junte-se a nós para caçar esse monstro assombroso

Echoa | The Creator's Land11/04/2021
10 min
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60 vezes. Essa é a quantidade de vezes que o cursor do Word/Google Docs pisca durante um minuto. Sim, é uma proporção de 1 segundo por piscada. Interessante, não? Não. Ok, pode até ser um conhecimento de cultura inútil, mas o problema é que eu não descobri porque me falaram ou porque eu li em algum lugar. Eu sei porque eu contei (e não foi apenas uma vez. Acredite, eu tenho certeza de que são 60 vezes).

E foi assim que, no auge dos meus 20 anos, eu recebi o laudo: estava com Síndrome da Página em Branco. Os primeiros sintomas são simples, quase imperceptíveis: começa com uma procrastinação leve, um adiamento das suas tarefas de maneira quase genuína. Costuma chegar logo após um momento muito bom seu -- seja por um texto recém publicado que reverberou, ou um episódio de podcast gravado que foi muito compartilhado.

Esses eventos, às vezes, parecem que levam consigo toda nossa capacidade mental. Já reparou? E é sempre assim, quando você mais precisa de fazer uma entrega, ela aparece. Alguns chamam de Lei de Murphy, mas eu acho que vai além. Não se trata somente do universo em discordância com sua agenda (sobretudo em períodos de mercúrio retrógrado, rs), mas de uma força maior que faz com que a visão de uma página em branco se torne uma exposição de arte longa, fúnebre e, em geral, pavorosa. Enfim, o famoso bloqueio criativo.

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 Na minha mais recente manifestação da Síndrome, eu limpei até minha casa. Tudo ao redor se transformou numa prioridade, somente para adiar o fardo de sentar em frente ao computador esperando por um sussurro singelo em meu ouvido para uma pauta disruptiva e engajadora. Fiquei pensando como que o processo de produção de conteúdo -- sejam roteiros, artigos, músicas ou vídeos -- é idêntico às figuras míticas do Halloween. Duvidou? Repara:  

TIPOS DE CONTEÚDO (VERSÃO HALLOWEEN):

  • Conteúdo Zumbi: ele já morreu, só que você não percebeu ainda. É uma ideia que foi enterrada, mas por algum motivo oculto você tirou da terra e começou a cuidar, como se dali fosse sair algo bom (mas, na verdade, ele só faz sujeira e assusta os outros). Let it go.. 
  • Conteúdo Múmia: tão enrolado quanto qualquer outra coisa, esse é o tipo de conteúdo que você já adicionou tantas camadas que ficou irreconhecível. Na tentativa de preservá-lo, ele perde cada vez mais a sua essência, deixando de ser orgânico. Tirar um pouco do pano ao redor dele pode até assustar, mas às vezes é uma boa maneira de seguir em frente com ele.. 
  • Conteúdo Frankenstein: um clássico para criadores de conteúdo, se trata daquele conteúdo que já foi revisitado tantas vezes, que recebeu tantas opiniões e já foi reescrito de enésimas formas que é possível reconhecer um traço de personalidade distinta em cada pedaço. O problema do Frankenstein é que, na maioria das vezes, ele não faz sentido algum, sustentado quase que por um apego emocional.. 
  • Conteúdo Lobisomem: sabe aquele conteúdo que você só consegue dar andamento de tempos em tempos? Esse é o tipo lobisomem, que só aparece em lua cheia. Chega uivando, fazendo um super barulho mas, na manhã seguinte, parece que jamais existiu. Só dali a 30 dias para surgir inspiração de novo… Uma lenda.

As semelhanças não param. Poderia ficar horas aqui exercitando minha fértil imaginação, traçando paralelos com bruxas, vampiros e duendes, mas o que quero dizer é que, independente da classificação dada ao conteúdo, eles se tratam de barreiras que precisam ser superadas (ou, na linguagem adotada, monstros a serem vencidos).

****Marcelo Sattin, Mestre em Criatividade e Inovação pela Universidade Fernando Pessoa, diz  que a criatividade precisa de fantasia e imaginação para ser exercida. Alguns podem dizer que isso se trata de "coisa de criança" e, cá entre nós? É mesmo. Nossa criança interna nos acompanha pelo resto da vida. Sattin fala ainda que a racionalidade dá apoio à criação mas, quando em excesso, pode acabar por extingui-la.

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E aí é que tá: nas lendas urbanas e histórias do dia das bruxas, todos esses seres são figuras mágicas e poderosas mas que, por algum motivo, acabaram seguindo por um caminho oposto, em sua maioria asqueroso e assustador. Diferentemente dessas criaturas, seu conteúdo não precisa ser assim. Não dê pano para múmia nem desenterre zombies. Quando essas criaturas aparecerem, olhe para frente!

Como podemos exercitar isso? Bom, existem múltiplas ações simples e que, no geral, surtem um bom efeito. Essas dicas foram retiradas observando o comportamento desses monstros. Dá uma olhada:

  • Converse. Sabe por que o lobisomem (fica gritando enchendo o saco dos vizinhos) uiva? Porque ele não tem mais ninguém pra compartilhar suas dores. O processo de criação pode parecer solitário -- e, por vezes, é mesmo. Mas falar o que você está pensando é um movimento valioso de colocar em palavras o emaranhado da sua cabeça.
  • Mude o ambiente. Reza a lenda que os vampiros se transformam em morcegos porque ficam de saco cheio de ficar no mesmo lugar e, por isso, saem voando por aí. Estão errados? Nem um pouco. Dar uma mudada de cômodo, espaço ou lugar sempre ajuda a movimentar os pensamentos. Por isso o Drácula é tão inteligente!
  • Ande. Sei que trocar de lugar não é tão fácil quanto parece. Agora, sair um pouquinho do espaço que você tá é sempre possível. Os fantasmas, por exemplo, ficam vagando por aí, há séculos. Imagina só quantas elaborações esses caras já não fizeram na cabeça? Assim como eles, dar uma voltinha sem compromisso sempre auxilia na fluidez dos pensamentos**.**
  • Deixe o pensamento surgir. No Grimório das Bruxas diz que os feitiços são como receitas e, tal qual as criações culinárias, eles surgem a partir da livre associação de ingredientes e elementos. Da mesma forma, não há nada melhor como se deixar levar pelos próprios pensamentos — isso pode resultar em eurekas incríveis.
  • Durma. Quem me vê durante a semana deve achar que eu sou fã de zumbis — tão fã que chego a me parecer com eles, de tão destruído que fico. Nossa mente precisa de descanso, e quanto mais pressionados, estarrecidos e exaustos estamos com algo, mais difícil fica pensar/criar. Por isso, é legal deixar o zumbi só no campo das ideias.
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Existem tantas outras dicas, que essa News poderia ser somente sobre elas. Mas, em suma, é possível perceber que a maioria delas é simples e se trata de uma única questão: tirar um tempo para você. A International Stress Management Association (ISMA-BR) divulgou que o Brasil é o segundo país do mundo com o maior número de pessoas que sofrem de Burnout, condição caracterizada pelo alto nível de estresse. Pode não parecer, mas da Síndrome da Página em Branco para a Síndrome de Burnout é um pulo.

Por isso, ouça a si mesmo e se atente aos seus próprios sinais. Todos nós, creators, lidamos quase que cotidianamente com Múmias, Zumbis, Frankenstein e Lobisomens. O que nos torna singular é a forma que lidamos com eles. Parece clichê mas, quanto mais você alimentá-los, pior fica. Bora cortar o carboidrato dessa galera! Quando você se deparar em uma situação de Página em Branco, muda a perspectiva: não significa que você perdeu a capacidade de fazer alguma coisa; significa que você é tão bom naquilo que faz que precisa pegar leve às vezes. Eureka!

👤      BLOQUEIO CRIATIVO RENDE TANTO ASSUNTO QUE DÁ ATÉ UM CANAL

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Falar sobre criatividade rende, mas falar sobre a falta dela… Rende mais ainda! Pensando nisso, Gene Goldstein e Violaine Briat se reuniram para o podcast semanal Creative Block: juntos, eles entrevistam profissionais da indústria da animação sobre suas vidas e trajetórias de carreira, abordando os múltiplos percalços que fazem parte da vida desses criadores.

O que torna o Creative Block único é que, enquanto eles conversam, eles desenham! Isso mesmo: ao longo de todo o episódio, os participantes vão ilustrando suas trajetórias em uma tela em branco. Conforme a conversa flui, os desenhos também, de modo que representam os diferentes momentos de suas vidas e também trabalhos de sucesso. Assim, você pode somente ouvir (no formato normal de podcast) ou também assistir, uma vez que a criação das telas é disponibilizada no canal deles no YouTube. Um barato!

📚      RONALDICAS

As dicas de hoje são para relaxar… Ou não! Hehehe queria indicar um livro e uma série, cujo enredo de ambos se trata de pessoas que passaram por severos bloqueios criativos em suas trajetórias. Atenção: a trama não se baseia nisso; é apenas o ponto de partida… E que os leva a lugares inimagináveis.

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 Começando com o romance best-seller de Joël Dicker: A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert. A história começa com Marcus Goldman, um jovem escritor que estourou com a publicação do seu primeiro livro e que, agora, não consegue sair do frenesi desse sucesso e escrever outras histórias. Nessa encruzilhada, Goldman descobre que seu amigo e professor, Harry Quebert, o qual sempre o auxiliava a superar seus bloqueios criativos, foi acusado de assassinato de Nola, uma jovem de 15 anos com a qual alegavam que ele possuía uma relação amorosa. Na busca pela verdade a fim de auxiliar o seu mentor, Goldman começa a percorrer uma trilha obscura e perigosa de mentiras, sensacionalismo e traições.  

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Do outro lado, para aqueles que preferem assistir, indico a série I May Destroy You. Escrita, dirigida e protagonizada por Micaela Coel, a trama vencedora da categoria de Melhor Roteiro em Minissérie conta a história de Arabella, uma jovem escritora de sucesso que, após passar por um evento traumático, inicia um processo de busca pela reconexão consigo mesma. Por meio do enfrentamento dos seus traumas e visando à reconstrução da própria vida, Bella nos leva por uma jornada dura e tortuosa, mas também genuína, de  como podemos manter nossa motivação e fé na humanidade. A série possui gatilhos de violência sexual.

🏞️      O QUE MAIS ROLA NA CREATORSFERA...

  • Dobrou a Meta. Com a chegada iminente do Metaverso de Zuck, a organização está buscando atrair cada vez mais criadores para suas plataformas, e uma forma de fazer isso é criando novas formas de fazer dinheiro. Assim, uma das medidas recém-anunciadas é que administradores e moderadores de grupos no Facebook poderão criar campanhas de arrecadação de fundos, abrir lojas de e-commerce e cobrar taxas de inscrição para subgrupos especiais. A Era Premium vem aí!
  • "Quer fazer seu próprio Multiverso? Arrasta pra cima!". Parece que a moda pegou: depois do Facebook, a Microsoft anunciou seus planos de também criar um multiverso próprio e, nesta semana, a Nike deu indícios de que quer seguir por este caminho também. Documentos divulgados recentemente mostram que a empresa deseja vender produtos virtuais, no estilo de NFTs, se posicionando nesse mercado crescente de Criação de Produtos Digitais. Prepara o currículo!
  • Netflix de Jogos? Ao que tudo indica, sim. A empresa de streaming anunciou, nesta semana, uma nova frente na criação de conteúdo: a Netflix Games, um braço para integrar os usuários da plataforma ainda mais nos universos criados pelas produções audiovisuais. O mercado de games cresce cada vez mais e a Netflix enxergou uma oportunidade de fidelizar ainda mais o seu público aí. Maratonar série ou jogar até cansar? Eis a questão.
  • Pode entrar, 5G! Hoje (04), começou a fase decisiva do leilão de 5G no Brasil. Até o momento, Claro, TIM e Vivo arremataram faixas importantes e vão dividir espaço com novas operadoras. A complexidade do tema vai ao encontro da sua importância: viabilizar a tecnologia 5G no Brasil representa um avanço rumo a digitalização dos processos públicos e, claro, a melhoria de bem estar dos cidadãos. Adeus à barra de carregamento? É o que esperamos.

Conteúdo trazido a vocês por Ronaldo Raposo

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