Entenda a natureza do juros. Estamos pagando pelo que ao pagarmos os juros de um empréstimo.
Na década de 1980 o Brasil passou por uma grave crise econômica que ficou conhecida como a “crise da dívida”. Simplificamente, a crise aconteceu devido aos elevados juros pagos pelo país pela sua dívida externa. Um argumento que apareceu na época foi que essa dívida era ilegítima, porque o Brasil já havia pago de juros mais do que foi tomado emprestado. Ou seja, essa dívida já havia sido paga e o país estaria sendo enganado ao continuar pagando juros. | ||
Tal afirmação até parece fazer sentido. Afinal, se já pagamos mais do que tomamos emprestado, como ainda pode haver dívida? Porém, quem já ficou sem pagar um empréstimo e viu o valor da dívida ficar muitas vezes maior do que o valor inicial sabe que não é tão simples assim. Na verdade, ao entender exatamente o que é juros, você irá perceber que essa afirmação não tem nenhum sentido. | ||
Para facilitar o entendimento existe uma analogia perfeita. A natureza dos juros é exatamente a mesma do aluguel de um imóvel. Quem não tem condições de comprar um imóvel, pode alugar um. Pagando mensalmente o aluguel, você tem o direito de uso sobre ele. E ninguém tem dúvida que alugando não se tornará dono do imóvel, por mais que tenha pago de aluguel. Por exemplo, uma casa que vale R$ 300 mil e está alugada por R$ 2.000, após 150 meses o inquilino terá pago em aluguéis o valor da casa. Mas ele não será dono de nem sequer um tijolo da casa por ter pago R$ 300 mil ao longo de 150 meses. O que ele pagou foi apenas o direito de uso da casa. | ||
O juros funciona exatamente da mesma forma. Os juros é o valor que é pago pelo direito de uso do dinheiro. E, sendo assim, se você pegar um empréstimo e pagar somente os juros, você nunca pagará o empréstimo, pois você está pagando somente pelo “aluguel” dele. O valor da dívida continua exatamente a mesma. Quando alugamos uma casa essa distinção é muito clara porque são coisas materialmente diferentes. O aluguel, pago em dinheiro, não tem como se confundir com a “coisa” alugada, a casa. Já os juros, por ser a mesma coisa materialmente que a “coisa” emprestada, pode gerar confusão, pois ambos são dinheiro. | ||
Vamos a um exemplo para entender melhor. Supondo que pegamos um empréstimo no banco de $ 100 para pagarmos em 4 parcelas de $ 30. Esse valor de $ 30 é composto de duas partes. Uma é o juros, o valor que pagamos pelo direito de uso dos $ 100. A outra parte é a devolução dos $ 100 (que não acontece de uma vez só). Os $ 100 que pegamos emprestado é chamado de “Principal” e a parte que é a devolução desse Principal é chamado de “Amortização do Principal”, ou só “Amortização”. Qual é o valor exato de cada parte depende de cada caso, mas sempre vem discriminado quando fazemos um empréstimo. | ||
Então nesse exemplo, vamos supor que as parcelas de $ 30 são compostas de $ 5 de juros e $ 25 de amortização. Então, ao final de 4 meses teremos devolvido integralmente os $ 100 que pegamos emprestado (4 x $ 25 = $ 100. O Principal foi totalmente amortizado) e teremos pago $ 20 de juros (4 x $ 5). Esses $ 20 foi o valor que pagamos ao dono dos $ 100 que pegamos emprestado pelo direito de ficarmos durante 4 meses de posse desse valor e o usarmos como bem entendermos. | ||
Por fim, a taxa de juros, é a forma que calculamos o valor dos juros, que sempre é um percentual do Principal. No caso do exemplo, como pagamos $ 20 de juros pelo empréstimo de $ 100, a taxa de juros é de 20%. Se pegássemos emprestado $ 400, teríamos pago $ 80 de juros (20% de $ 400) |