Cada um no seu quadrado.
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Cada um no seu quadrado.

O maior problema da direita brasileira é a organização. Por mais nefasta que a esquerda seja, nisso eles dão show. Eles tiveram a paciência que nós não temos e fizeram exatamente o que tinham que fazer para ter êxito. Mas o principal método d...

Érico Ribeiro
3 min
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No xadrez, cada peça tem sua função e sua movimentação.
No xadrez, cada peça tem sua função e sua movimentação.

O maior problema da direita brasileira é a organização. Por mais nefasta que a esquerda seja, nisso eles dão show. Eles tiveram a paciência que nós não temos e fizeram exatamente o que tinham que fazer para ter êxito. Mas o principal mérito deles foi a consciência de que cada um tinha o seu papel na missão, outra coisa que a direita ainda não percebeu direito.

Digo isso porque, de repente, parece que todo mundo na direita que tem alguma influência resolveu se candidatar a um cargo político, como se esse fosse o único meio possível de atuação para conseguir alguma coisa.  Poucos se preocuparam em fazer o papel do intelectual, do artista, do líder comunitário, em fazer o trabalho de formiguinha, árduo e demorado, mas necessário e eficiente.

Estamos numa guerra cultural, e numa guerra, conhecer a si mesmo é tão importante quanto conhecer o inimigo. Num jogo de xadrez ou numa partida de futebol, cada peça tem sua função e movimentação própria e o vencedor geralmente é aquele que consegue executar melhor a sua tática. A política não é o único meio de atuação possível nessa guerra, mas poucos tiveram a compreensão que Antonio Gramsci teve. Faltam pessoas para ocupar os cargos pequenos que formarão a estrutura necessária para mudar o jogo. A esquerda teve sucesso porque soube tomar o sistema pra si sem pressa. E hoje, embora tenham deixado de ser hegemonia no que diz respeito a ideias e opiniões, ainda ocupam a maior parte do estamento burocrático, do meio artístico e cultural e os utilizam contra nós. Nos falta compreender que a única maneira de reverter o jogo talvez seja fazer exatamente a mesma coisa, por mais que isso demore.

Não digo que a política não seja importante, mas é um meio que requer vocação (ou seja, lábia e cara de pau) e estômago, coisas que nem todo mundo possui. Para alguns, pode ser melhor fazer o trabalho de formiguinha, ocupando as instituições aos poucos, ou ser escritor ou jornalista. Já temos uma rede de veículos de vertente oposta a do sistema, ainda que ela esteja sob constante ameaça. Também já temos escritores e algumas pessoas com certa influência na mídia, mas ainda faltam, por exemplo, produtores de cinema, músicos, donos de instituições de ensino, enfim, pessoas para construir uma contracultura que consiga, aos poucos, implodir o que foi feito por nossos inimigos. E falta tratá-los dessa forma, aliás. Como inimigos. E aqui eu incluo não só os comunistas e os adeptos da esquerda identitária, mas também aqueles que os financiam, os metacapitalistas. Enquanto não os tratarmos como eles merecem, eles continuarão triunfando.