Inquisição jornalística
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Inquisição jornalística

Vou fazer uma confissão: já fui fã do William Bonner. Mas era justificável. Era a ingenuidade da idade. Eu era um mero estudante de jornalismo que cresceu assistindo Globo. Não tinha como não ter um certo respeito, afinal era a maior emissora...

Érico Ribeiro
3 min
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Vou fazer uma confissão: já fui fã do William Bonner. Mas era justificável. Era a ingenuidade da idade. Eu era um mero estudante de jornalismo que cresceu assistindo Globo. Não tinha como não ter um certo respeito, afinal era a maior emissora do país. Para minha sorte, sempre fui um cara curioso, daí meu gosto pela leitura, além de ter certo senso crítico. Com o tempo, por meio de muita leitura e ouvindo outras opiniões, comecei a prestar atenção e perceber como as coisas realmente são.

Na pandemia, deixei de assistir jornais, pois percebi que eles preferiam aterrorizar a população do que apenas fazer seu trabalho de informar. Também era compreensível, embora complicado. Moro em Manaus, uma das cidades que mais sofreu na pandemia. Perdi meu irmão e alguns amigos. Minha profissão não é mais importante que minha vida pessoal. Hoje, quando quero saber de alguma informação, vou pro Twitter. Aquilo é uma loucura, mas pra isso, serve muito bem.

É por essas e outras que não me surpreendi nem um pouco com o que aconteceu ontem durante a entrevista do presidente Jair Bolsonaro ao Jornal Nacional. Não assisto o jornal a muito tempo, e ontem, William Bonner e Renata Vasconcelos me fizeram lembrar o porquê. Aquilo poderia ser uma sabatina, um debate, uma inquisição, qualquer coisa, exceto uma entrevista. Numa entrevista, quem deve se destacar é o entrevistado. O jornalista está ali apenas como moderador. Não deve julgar ou induzir o entrevistado. Apenas fazer perguntas e, no máximo, fazer alguma colocação aqui ou ali, como num bate-papo. Mas ali, parecia que Bolsonaro havia sido preso e o delegado queria fazê-lo confessar algo. E ainda por cima, debochavam e o interrompiam toda vez que ele ia dar uma resposta que fugisse ao que eles desejavam. Não é assim que se faz. Como diz o Paulo Figueiredo, o jornalismo profissional morreu.

Mas quem teve estômago para assistir jornais durante a pandemia sabe que a Globo teve uma postura altamente execrável. Foi um dos veículos do famigerado "consórcio" que mais advogou pelo "fique em casa", chegando ao ponto até de ela mesma fiscalizar e fechar o negócio de quem insistia em querer ganhar a vida mesmo em tempos difíceis. E ontem, Renata Vasconcellos, cinicamente, negou esse fato. Aliás, ela devia estar bufando de ódio ontem, mas como foi atriz antes de virar jornalista, soube disfarçar muito bem. Quero muito saber se eles vão agir dessa forma com Lula, Ciro Gomes e outros candidatos.

As entrevistas que Bolsonaro deu ao Igor 3K no podcast Flow e ao Rica Perrone no Cara a Tapa foram mil vezes melhores pelo simples fato de que os entrevistadores estavam ali apenas para ouvir o que Bolsonaro tinha a dizer, sem tentar induzi-lo, apenas fazendo simples perguntas. Aquelas sim foram entrevistas.

Claro que Bolsonaro, como todo ser humano, não é isento de erros. Eu mesmo, como eleitor, preferia o Bolsonaro espontâneo e debochado de 2018 do que o bravateiro positivista de hoje em dia. Mas se você vai criticá-lo, pelo menos faça críticas pertinentes e com base em fatos, sem inventar, aumentar, julgar ou distorcer nada. Ninguém é o dono da verdade.