Quando eu digo que não se faz mais infância como antes, tenho meus motivos. Pode parecer que eu não esteja levando em conta que cada pessoa tem seus próprios gostos e que eles são moldados pelas pessoas e pelo ambiente ao redor, mas a coisa é...
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Quando eu digo que não se faz mais infância como antes, tenho meus motivos. Pode parecer que eu não esteja levando em conta que cada pessoa tem seus próprios gostos e que eles são moldados pelas pessoas e pelo ambiente ao redor, mas a coisa é um pouco mais profunda. | ||
Tenho 32 anos de idade recém completados, portanto, vivi minha infância nos anos 90 e começo dos anos 2000. Cresci com a programação infantil dessa época na TV aberta (na época não havia TV a cabo), que era bem diversa. Boa parte era bem inocente ou nada demais, mas alguns tinham um diferencial que, na minha opinião, é o que falta para as gerações atuais: referências. Referências decentes, ao menos. | ||
Na minha época, você sabia quando determinado desenho fazia sucesso quando via as crianças brincando no recreio da escola. Elas gostavam de brincar de ser os seus personagens preferidos dessas séries. Quando se é criança, você faz isso simplesmente porque acha legal (com criança é tudo muito simples, nós adultos é que somos complicados), mas depois de adulto você entende que aquela série ou desenho e aqueles personagens eram referências. | ||
Minhas principais referências talvez tenham sido os personagens dos Cavaleiros do Zodíaco. Não acompanhei tanto o desenho na época, mas conheci o desenho pelas fitas VHS que assistia na casa de meus padrinhos. E tive os bonecos de armadura (lembro que, em um de meus aniversários, ganhei o Seiya e o Shun). Acho que eu gostava na época por causa dos golpes, das lutas (tenho algumas delas de cor até hoje na cabeça) e dos jeitos dos personagens, mas depois que você cresce, passa a olhar de outra forma. CDZ não é apenas um desenho japonês violento baseado no horóscopo, é um desenho que ensina belas lições sobre amizade, justiça, trabalho em equipe, sobre se sacrificar pelo outro ou por uma causa, sobre lutar pelo que é certo, e até sobre valores religiosos (vide a cena do Hyoga lembrando da mãe depois de olhar para o crucifixo no pescoço e derrotando o inimigo no filme do Abel). Posso citar outras referências aqui: He-man e suas lições de moral ao final de cada episódio, Chaves e Chapolin, Pokémon e a capacidade do protagonista de se superar e aprender com os erros (é uma de minhas franquias favoritas até hoje), e claro os super-heróis, Batman, Superman, Homem-Aranha e até os japoneses, como os Power Rangers. | ||
E por falar em Power Rangers, quero aproveitar aqui pra falar um pouco sobre a gigantesca perda do ator Jason David Frank, que interpretava o personagem Tommy Oliver na série. | ||
Tommy era o sinônimo de um herói: foi vilão, mocinho, líder e mentor. Por onde passou, procurou sempre fazer o que é certo, por mais difícil que fosse, sem, é claro, deixar de demonstrar força e respeito. Com isso, tornou-se uma referência para todos aqueles que o conheceram. Tommy mostrou que o importante não é a sua cor (e Tommy vestiu várias durante a série), ou seu gênero e sim seu caráter e seus valores e o quanto você está disposto a segui-los. Há valores e costumes que mudam com o tempo, o que é natural, mas há aqueles que precisam existir da forma como são para que uma sociedade continue existindo de forma sólida. A sociedade em que vivemos hoje foi construída por aqueles que vieram antes de nós, com os costumes e referências que eles adquiriram daqueles que vieram antes deles e assim sucessivamente, e esse é o problema dos jovens de hoje: preferem desprezar o passado ao invés de aprender com ele e filtrar aquilo que vale a pena (nunca assistiram O Rei Leão). E por que isso acontece? Por que eles, ou não tem referências, ou quando as tem, são referências ruins que lhes ensinam a agir desse jeito. Compare as músicas de hoje com as de 20 ou 30 anos atrás, olhe os galãs, as musas, os livros que são lidos, os programas que são assistidos com as décadas anteriores. Qual o conteúdo delas? O que elas estão ensinando?. A época em que eu vivi não era perfeita, mas em muitos aspectos, era bem melhor do que a época atual. Faltam às crianças e aos jovens de hoje referências dignas como foi o personagem Tommy Oliver e os outros que eu citei. | ||
Jason David Frank se foi e com ele uma parte da minha infância, assistindo Power Rangers na tv enquanto brincava com os bonecos que viravam a cabeça. Agradeço a ele e espero que ele descanse em paz. E tomara que algum dia as boas referências voltem a aparecer. O mundo atual parece avesso a heróis e a boas referências, mas ele precisa muito delas. |