O que são fake news? E porquê eu sou contra regulá-las.
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O que são fake news? E porquê eu sou contra regulá-las.

Apesar de detestar esse termo, por achá-lo vago e artificial, me vejo obrigado a falar sobre ele, pois desde 2016, praticamente não se fala em outro termo entre quem trabalha com comunicação.

Érico Ribeiro
7 min
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"Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data." Luís Fernando Veríssimo
"Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data." Luís Fernando Veríssimo

Apesar de detestar esse termo, por achá-lo vago e artificial, me vejo obrigado a falar sobre ele, pois desde 2016, praticamente não se fala em outro termo entre quem trabalha com comunicação.

Afinal de contas, o que diabos são fake news?

Não são apenas notícias falsas. No jargão jornalístico, já existe um termo para isso: barrigada. A diferença é que, no caso da barrigada, admite-se que ela pode acontecer por acaso. Um jornalista, geralmente novato, recebe uma informação importante, e na ânsia de dar um "furo', ainda mais numa época onde a informação é cada vez mais dinâmica, a publica sem apurar corretamente. Aí a informação não se confirma e o jornal, se tiver alguma seriedade, publica uma errata. E o pobre "foca", no mínimo, leva um esporro do chefe. Já a fake news é uma notícia falsa publicada propositalmente com o objetivo de prejudicar a imagem de alguém e/ou causar desinformação.

As fake news existem desde que existe o jornalismo, só não havia ainda um termo para denominar esse tipo de coisa. O problema é que esse termo não surgiu de forma natural, no dia a dia dos meios de comunicação. Ele foi imposto, de forma artificial, por uma elite que até hoje não entendeu porque Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos em 2016 (e Bolsonaro no Brasil em 2018). E é justamente por isso que esse termo tem a força que tem. Por ser artificial, é impossível aplicar a técnica de signo, significado e referente nele mesmo sabendo da diferença entre fake news e barrigada. Assim, fica fácil acharem que você está fazendo o bem quando diz que está combatendo notícias falsas. Ironicamente, a primeira pessoa a usar o termo de que se tem notícia foi justamente Trump, respondendo a um repórter da CNN.

Mas, mesmo sabendo da origem do termo e de como ele pode ser prejudicial, sou contra qualquer tipo de regulamentação a esse respeito. E vou explicar porquê.

Como Dom Pedro II dizia, a imprensa se combate com mais imprensa. Antes da internet e das redes sociais, a televisão era o principal meio de informação utilizado pela sociedade brasileira, além do rádio e do jornal impresso. Como não havia alternativa e o único feedback que se tinha na época eram as famosas "cartas do leitor" (que ainda assim eram selecionadas), e portanto, a informação era uma via de mão única, o que saía nesses veículos era tido como verdade absoluta. Se houvesse algum tipo de manipulação ali, dificilmente ela seria percebida. Com o surgimento da internet, a informação, para o bem e para o mal, se democratizou de tal maneira que a chamada "grande mídia", formada pelos principais veículos de comunicação da época, começou a perder espaço. Além disso, começou a surgir uma imprensa alternativa àquela já existente, tratando de assuntos que normalmente não eram tratados na tv ou no rádio (autorregulação). E a informação passou a ser uma via de mão dupla: o próprio leitor/expectador ajudava a fazer a notícia, bastando para isso ter um celular com câmera e acesso a internet.

E nesse tipo de situação, a mídia sempre age de duas maneiras: ou tentando desqualificar o inimigo, menosprezando e debochando, ou tentando ocultá-lo, como fizeram com o Foro de São Paulo (daí é que vieram os termos "blogueiro bolsonarista" "site de extrema-direita" e coisas do tipo). Como viram que era impossível de vencer, resolveram se render à internet, mas não sem arrotar autoridade dizendo que tinham mais credibilidade, por terem, até então, mais audiência e tempo de existência. Daí vieram as tais "agências de checagem", coincidentemente, todas pertencentes a veículos da "grande mídia", que passaram a taxar de "fake news" qualquer informação diferente do que diziam os veículos "oficiais" ainda que essas informações, quase sempre, fossem verdadeiras. Depois disso, numa iniciativa mais autoritária ainda, veio o tal "Sleeping Giants" que visava tirar o patrocínio desses veículos alternativos, constrangendo todos aqueles que anunciavam neles, ou lhes davam algum tipo de suporte, para inviabilizá-los. Depois de provocarem a fúria da direita e serem descobertos, caíram em ostraciscmo. Com isso, o fascismo (o real, não o imaginário) entrou em cena: veículos da grande imprensa, unidos com traidores da imprensa alternativa (leia-se blog "O Antagonista" e mais alguns escritores do "clube do livro") e políticos desprovidos de honra se uniram para tentar descobrir quem eram aqueles que lhes incomodavam tanto. Isso os levou as escrever matérias que apesar de totalmente mentirosas, criaram uma narrativa que serviu para a abertura do famigerado e inconstitucional Inquérito das Fake News pelo então presidente do STF Dias Toffoli em 2019. Desde então, começou um processo de perseguição e destruição da imprensa alternativa que se mostrou bastante assustador. Allan dos Santos, jornalista fundador do saudoso Terça Livre, teve que se exilar nos EUA para não ser preso. O site teve suas contas bloqueadas e com isso, foi obrigado a encerrar suas atividades. Oswaldo Eustáquio, jornalista que já passou por veículos conhecidos como a Gazeta do Povo, foi preso e agredido na cadeia, o que o deixou paralítico. Influenciadores tiveram seus perfis em redes sociais derrubados ou desmonetizados (uma traição que até então ninguém esperava mas que, depois de estudar o Vale do Sílicio, você até entende) e tiveram que procurar alternativas para fugir da perseguição, que geralmente consistiam em se autorregular, criar plataformas próprias ou publicar em redes sociais menos conhecidas, passando a chamar menos atenção.

Entendem onde quero chegar? A chamada "regulação da mídia" não serviria para regular fake news, mas sim para qualificar como fake news qualquer informação que não viesse da mídia do establishment, o autodenominado "consórcio" (a coisa mais anti-liberdade de imprensa que existe), ou seja, que não fosse "oficial". Um bom exemplo disso aconteceu na pandemia: a indústria farmacêutica encheu os jornais de dinheiro para que eles causassem pânico na população e assim, eles pudessem oferecer seus tratamentos experimentais sem que pudessem ser desmentidos (qualquer noticia contrária a aplicação das vacinas, ao uso de máscaras ou a favor de tratamentos alternativos era taxado de "negacionismo" ou propositalmente ocultada) ou responsabilizados, fazendo valer a máxima Orwelliana: "a massa sustenta a marca, a marca sustenta a mídia e a mídia controla a massa". Quando um ditador toma o poder, a primeira coisa que ele faz é tirar do povo seus principais meios de defesa: as armas de fogo e a informação. Sem isso, qualquer povo é facilmente controlado. O "consórcio" não é a favor da regulação da mídia por ter Síndrome de Estocolmo (algo que eu demorei pra entender), ela é a favor porque será a única mídia permitida. Taí o deputado André Janones que não me deixa mentir. Não à toa a redação da Globo comemorou a eleição de Lula, uma tragédia que eles ajudaram a acontecer. Não à toa a Jovem Pan, única emissora de notícias realmente séria, foi obrigada a demitir seus melhores nomes para se autorregular e evitar problemas com sua concessão. Depois da missão cumprida, vale tudo. A Folha de São Paulo tornou real o Ministério da Verdade do livro 1984. O Twitter, mesmo após sua aquisição pelo bilionário Elon Musk, dono da Tesla, continua derrubando perfis a todo vapor, mesmo que a pessoa não seja de direita, bastando somente questionar os bastiões da verdade. Piroca não tem ombro.

Como a coisa já chegou na imprensa americana e europeia e Elon Musk já ficou sabendo, pode ser que isso mude.

O que podemos fazer, por ora, é parar de se "informar" pelos veículos do consórcio. Procure veículos alternativos sérios, como a Revista Oeste e a produtora Brasil Paralelo. O próprio Twitter, mesmo com seus problemas, é bom para medir a opinião pública e saber o que anda sendo comentado. E procure sempre estar em várias redes. Antes um público pequeno para quem eu possa falar à vontade do que uma multidão para a qual eu não posso falar. A única regulação da mídia aceitável é aquela feita pelo público. Dessa, eu sou completamente a favor.