Deixei a poeira assentar um pouco. Propositalmente deixei que os dias - apressados - corressem um pouco, mas foi inútil, pois ninguém sequer fez sombra a Lionel Andrés Messi Cuccittini, o meu personagem da semana.
Deixei a poeira assentar um pouco. Propositalmente, deixei que os dias - apressados - corressem, mas foi inútil, pois nesse tempo ninguém sequer fez sombra a Lionel Andrés Messi Cuccittini, o meu personagem da semana. | ||
E olha que não foram dias normais: nesse interregno, tivemos a Itália campeã da Eurocopa depois de 53 anos, uma rodada eletrizante do campeonato brasileiro e os jogos de ida das oitavas de final da Copa Libertadores da América. Sem falar das finais da NBA, da CPI da Covid... Nada, porém, teve impacto maior do que Lionel Messi erguendo a Copa América, como capitão da Argentina. | ||
Na minha interpretação, o fato de, até então, Lionel Messi acumular fracassos vestindo a camiseta da Selección Argentina o aproximava ainda mais de seus fãs, pois o tornava mais humano. Se apagava um pouco o herói indestrutível, que há quase duas décadas ocupa o mais alto cume do desempenho e da técnica futbolera, e surgia o rosarino de carne e osso, suscetível às intempéries, aos humores do mundo, aos ventos da mudança e à roda do destino como qualquer um de nós. | ||
Esse Messi frágil, inclusive, era objeto de adoração dos fãs tanto quanto o outro Messi superpoderoso e multicampeão pelo Barcelona. Cada vez que ele não performava na seleção crescia o mito do Messi-Mártir, uma verdadeira ilha de talento cercada de perebas argentinos por todos os lados. | ||
Esse argumento - claro - é repleto de inconsistências, pois, mesmo na fila há 28 anos, o futebol argentino é uma das maiores escolas do mundo. Talvez o lindo e envolvente balompié que os argentinos bailam, esteja atrás apenas do nosso futebol moleque, o famoso e incomparável ludopédio à brasileira (hoje em dia esgotado, esmaecido, anacrônico, prestes a ser extinto e encontrando em Neymar quiçá seu último espécime vivo). | ||
Antes e depois do jogo, o argumento que mais se utilizou foi "Messi merece" e o segundo foi "o futebol tem uma dívida com Lionel Messi". "Feliz pelo Messi" e "torci pelo Messi" foram frases recorrentes entre legítimos torcedores argentinos, apenas por acaso, nascidos no Brasil. | ||
Mas fato é que a longa coleção de insucessos anteriores, tornou a conquista de Lionel Messi e da Seleção Argentina um raro caso de título global. Torcedores de todas as nações se uniram, numa grande genki-dama afasta-zika, tentando oferecer a atmosfera ideal para que Messi ajudasse a sua seleção a sair da longa fila. Deu certo. | ||
Individualmente, Messi esteve bem marcado e não conseguiu colaborar muito com a conquista (inclusive perdeu um gol cara a cara com o goleiro do Brasil no final do jogo), mas ninguém poderá dizer que desta vez faltou liderança. | ||
O Messi foi de longe o jogador mais destacado da Copa América. Aquele que tinha mais vontade de vencer a competição, tanto que dela foi o artilheiro, o maior assistente. No fim das contas o título foi, sim, muito mais que merecido. | ||
Depois de passar por todas as provações, aprender com seu mentor (Diego afinal, foi o primeiro que o levou à Copa do Mundo), cruzar todos os portais, conhecer aliados e inimigos; depois de - inclusive - recusar o chamado (em 2015 ele anunciou que não jogaria mais pela Seleção), depois de atravessar os estágios da reticência, aproximação e recompensa, FINALMENTE, Lionel Messi partiu para a última etapa da jornada do héroi: ele regressou para casa com seu exilir, a tão sonhada taça da Copa América. | ||
Onde quer que estejam Joseph Campbell e Diego Maradona devem estar muito orgulhosos. | ||
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