Que saudade da Seleção Brasileira
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Que saudade da Seleção Brasileira

A primeira vez que eu sofri realmente assistindo futebol foi em 1986 quando fomos eliminados pela França na disputa por pênaltis.

Carter Batista
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A primeira vez que eu sofri realmente assistindo futebol foi em 1986 quando fomos eliminados pela França na disputa por pênaltis na Copa do Mundo do México.

Doeu muito. Doeu na alma e também no meu olho direito. Eu arremessei um cabo de vassoura no chão, com toda força dos meus músculos, no auge do poder dos meus oito anos de idade, e o cabo se partiu, voltou e me atingiu no supercílio.

Na hora subiu um galo enorme, tão indesejado quanto o galo que a seleção francesa ostentava no escudo. A Copa América de 1989 com Romário e Bebeto devolveu um pouco da auto-estima perdida, mas o gol de Caniggia em 1990 arrebentou comigo mais uma vez.

Eu me perguntava se veria a Seleção ganhar uma Copa do Mundo outra vez, eu sonhava com isso. Por isso que o tetra foi a grande realização esportiva da minha juventude, nada se compara àquela conquista, nem o penta, nem o hexa que ainda virá (sim, eu nutro essa certeza).

Mas enquanto desfilavam os times de 2006,  2010,2014, 2018 e o atual, algo se partiu no subconsciente coletivo do torcedor brasileiro. A seleção, o scratch perdeu seu valor intrínseco. Aos poucos a paixão pela seleção se tornou desprezo para a maioria dos torcedores, sobretudo os jovens.

Podemos afirmar com a maior tranquilidade que o brasileiro não gosta de futebol, gosta de ganhar. O brasileiro não gosta da seleção, gosta de feriado e ponto facultativo em Copa do Mundo.

O afastamento entre o brasileiro médio e a seleção é cada vez mais claro.

Pode haver, claro, alguma relação com o fato de que grupos políticos extremistas tenham se apropriado indevidamente da camisa da seleção em suas manifestações, mas o principal motivo (assim o creio) é o clubismo.

O calendário do futebol brasileiro agravou a crise.

A Seleção retira os melhores jogadores das melhores equipes nos momento mais decisivos do ano e parece oferecer pouco em troca, pelo menos no curto prazo.

Isso vai gerando cada vez mais desgaste e é um ciclo que precisa ser interrompido rapidamente, pois ainda é tempo de resgatarmos essa paixão tão genuína.

Sugiro que seja criada um força-tarefa que trabalhe com intensidade no início. A primeira medida pode ser a seguinte: paralisação dos campeonatos nacionais nas chamadas datas FIFA e decretação de carga horária reduzida para o trabalhador brasileiro nos dias de jogos da seleção.

Até naqueles amistosos que não valem nada que o Brasil costuma jogar em Wembley...